Editado por Harlequin Ibérica.
Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2021 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
N.º 59 - março 2021
© 2007 Donna Alward
Conta-me os teus segredos
Título original: Marriage at Circle M
Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.
© 2007 Susan Fox
Contrato nupcial
Título original: The Bridal Contract
Publicada originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.
Estes títulos foram publicados originalmente em português em 2008
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.
Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.
® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.
As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.
Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.
Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-1375-270-9
Créditos
Sumário
Conta-me os teus segredos
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Contrato nupcial
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Se gostou deste livro…
Quando Mike Gardner subiu a pé pelo caminho daquela maneira, Grace soube que teria problemas. E quando ele parou ao fundo da sua escada e olhou para ela, ela teve de agarrar no pincel com mais força para que não caísse. Mike era muito sexy e, apesar das suas boas intenções, ela nunca conseguiria ser imune ao seu encanto.
– Bom dia, Grace!
Ela endireitou-se e fez tudo o que pôde para parecer indiferente enquanto continuava a pintar a janela.
– Olá, Mike! – conseguiu dizer, com muita dificuldade.
Devia recordar que ainda não passara muito tempo desde que fizera uma figura ridícula com ele. Há muitos anos que não havia nada entre eles. Mas ela ainda se envergonhava ao vê-lo e tentava por todos os meios garantir-lhe a ele, e até a si própria, que ele não a afectava. Mas Mike não precisava que ela o elogiasse, tal como o resto das mulheres parecia fazer. Sem pensar, Grace pôs uma madeixa do seu cabelo loiro atrás da orelha, sujando-o de tinta.
– Levantaste-te muito cedo – comentou ele, sorrindo.
– E tu sabias que o faria, se não, não terias vindo tão cedo – viu que horas eram de forma significativa no seu relógio. – São sete e quarenta e cinco.
– Ah, sim? Lamento muito, pensava que era mais tarde.
– De certeza que já estiveste a fazer coisas.
– Sim.
Grace apercebeu-se de que aquela situação, com ela a manter uma conversa no topo do escadote, era ridícula, portanto suspirou e começou a descer, escorregando num dos degraus.
Mike segurou-a.
– Ena, já te tenho!
Grace afastou-se dele, já que o facto de a segurar a fazia sentir-se demasiado bem.
– Não sou um dos teus cavalos, Mike!
– Não, menina – concordou ele, rindo-se. – É óbvio que não és.
Não era justo. Grace sentia algo por Mike desde que tinha catorze anos, mas ele tratara-a como se fosse uma irmã mais nova. Durante um breve espaço de tempo, quando ela estivera na residência universitária, tinham sido algo mais do que amigos. Mas parecia que passara uma vida depois disso. E o facto de ele estar a tentar seduzi-la naquele momento… semanas depois de ela ter feito uma figura ridícula… era demasiado.
Ela crescera e era muito mais sensata com vinte e sete anos. Já não havia lugar para amores de adolescente.
Pôs as mãos nas ancas
– Olha, é óbvio que não vieste até aqui para falar de tolices comigo. Diz-me o que queres para que possa continuar a trabalhar.
Mike teve de se virar para esconder o seu sorriso. Conseguia ver que Grace estava zangada, mas ao mesmo tempo estava muito bonita. Os seus olhos azuis reflectiam a sua irritação. Quando a vira no topo daquele escadote quase se esquecera do motivo da sua visita. E quando a segurara nos seus braços ficara completamente em branco.
Chegou-se para trás para ver a pequena casa que ela decorara e a que chamava «lar».
– Estás a pintar.
– O teu poder de dedução deixa-me impressionada. Como percebeste?
Mike ignorou aquele sarcasmo. Devia estar cansada. Quando passara pela sua casa na noite anterior, por volta da uma da madrugada, ela tinha as luzes acesas e, certamente, levantara-se muito cedo. Desejava que ela não tivesse de trabalhar tão arduamente. Mas ele era a última pessoa que podia resolver aquela situação. Pelo menos, naquele momento.
– De onde tiras tempo para fazer tudo o que fazes, Grace? Sempre que te vejo, estás ocupada com alguma coisa.
Grace pensou que conseguia fazer tudo porque se levantava às cinco da manhã.
– Estar ocupada faz com que não me meta em problemas.
– Então, devia odiar perguntar-te o que estou prestes a perguntar.
Grace percebeu que Mike falava a sério. Normalmente, ele não dizia nada ou, se o fazia, era para brincar. Mas conhecia-o há muito tempo e sabia quando estava preocupado.
– O que se passa?
– Connor levou Alex ao hospital ontem à tarde.
Os olhos de Grace toldaram-se de preocupação e sentiu um nó no estômago. Mike e Connor eram como irmãos, eram muito mais do que sócios comerciais. Quando Connor tivera de sacrificar o seu gado, Mike e ele tinham começado a ser sócios do Circle M.
– É o bebé? Estão bem?
Alex ia ter um bebé dentro de poucos meses.
Parecia que Mike não conseguia olhar para ela, mas Grace conseguia sentir como estava preocupado.
– Entrou em trabalho de parto prematuro, portanto internaram-na. O médico diz que terá de ficar em repouso na cama até dar à luz. É tudo o que sei por enquanto.
– E Maren?
Maren era a filha do casal. Uma princesa de caracóis pretos com uns lindos olhos azuis como a sua mãe.
– Foi por isso que vieste? Precisam que alguém cuide dela durante algum tempo?
– Não, não. A avó de Connor está a cuidar dela. Mas… não é justo pedir-to, mas estava a perguntar-me, quero dizer que estávamos a perguntar-nos, se te importarias de regressar e gerir a contabilidade da quinta durante algum tempo.
– Claro que o farei. Não me importo – declarou, dadas as circunstâncias.
– Sei que estás muito ocupada e que…
– Mike, não há problema. Alex e Connor também são meus amigos. Fico contente por poder ajudar.
– Obrigado, Grace – agradeceu ele, claramente aliviado.
– De nada. Tentarei ir amanhã e começar a rever as contas.
Aquilo era exactamente o que ela precisava para se atormentar, ver Mike todos os dias no Circle M. Como uma lembrança contínua do que não podia ter. Mas a verdade era que precisava de fazer alguns arranjos na sua pequena casa daquela vila chamada Alberta e precisava do dinheiro.
– Acho que devia ir-me embora – replicou ele, num tom de voz baixo. – Tenho de fazer vários recados e, depois, bom, precisamos de mão-de-obra no rancho. E os pedreiros vêm por volta das nove.
– Os pedreiros?
Mike sorriu abertamente e o efeito foi devastador, fazendo com que o coração de Grace acelerasse.
Os olhos azuis dele animaram-se.
– Sim. Estamos a preparar os alicerces para construir a minha nova casa.
Grace perguntou-se como não sabia daquilo. Mike Gardner, com o seu próprio negócio e, naquele momento, uma casa.
– De qualquer forma, se precisares de alguma coisa, simplesmente, passa por Windover – replicou Mike, que se referia à casa pelo seu nome legítimo, embora todos a conhecessem como Circle M. – Vou ficar lá até a casa estar construída.
Grace já parara de pintar, mas ainda tinha o cabelo manchado de tinta. Afastou-o da cara e virou-se, pegando na saia de algodão que deixara sobre a cama.
A razão pela qual se mantinha ocupada… a verdadeira razão pela qual estava a aceitar trabalhos estranhos não era realmente pelo dinheiro, embora fosse sempre bem-vindo.
Simplesmente, precisava de se manter ocupada. A sua vida estava muito vazia. Não tinha ninguém a não ser ela própria e isso não ia mudar. Portanto, em vez de ficar em casa a desperdiçar tempo, trabalhava. Ter as mãos ocupadas ajudava-a a esquecer-se dos desastres que tinham acontecido no passado. E gerir as contas do rancho deixá-la-ia ocupada durante mais tempo.
E não decidira vestir uma saia porque ia para o Circle M. Escolhera-a porque aquela saia era a mais fresca que tinha.
Enquanto abria as janelas do seu carro, admitiu que um pouco de dinheiro extra não era algo que devia desprezar. O seu carro era antigo e nem sequer tinha ar condicionado. Arrancou e dirigiu-se para o oeste, para o rancho…
A paisagem que rodeava a estrada que levava ao Circle M era linda e naquela época do ano. No final de Agosto, estava tudo florido.
Quando finalmente avistou a casa principal do Circle M, Windover, pensou que não mudara nada. Mas tudo o resto no rancho estava diferente.
A perspectiva de ver Mike frequentemente fizera com que Grace sonhasse com ele mais de uma vez…
Quando estacionou em frente da casa, levou uma mão à barriga. Fora mais fácil quando ele não estava tanto tempo na vila. Ela fora capaz de se esquecer momentaneamente do breve romance que tinham tido… se é que alguma vez pudera chamar-se romance.
Ela tinha dezassete anos e ele tinha vinte e um. Durante algumas semanas, tinham sido mais do que amigos. Durante algumas semanas, ela fora enormemente feliz.
Mas quando a temporada de rodeos começara novamente, ele fora-se embora sem sequer lhe dar uma explicação. Ela estivera bem durante algum tempo ou, pelo menos, fora o que pensara. Tinham voltado a ser amigos nas poucas vezes que os seus caminhos se cruzaram. E, naquele momento, quando ele voltara para ficar, o facto de o ver frequentemente fizera com que ela sentisse saudades de coisas que pensara que estavam mortas e enterradas.
Quando Steve e ela tinham assinado os papéis do divórcio, apercebera-se de que os finais felizes não existiam.
Quando bateu à porta, a casa estava em silêncio, portanto aproximou-se de um dos lados, no caso de estar alguém na rua.
Teve sorte. Johanna, a avó de Connor, estava ajoelhada sobre umas flores com a pequena Maren, que tagarelava ao seu lado, feliz.
– Bom dia, senhora Madsen!
– Grace, querida, fico contente por te ver! – exclamou a mulher, levantando-se e dando a mão à pequena. – Maren, lembras-te de Grace, não é?
De repente, a menina ficou em silêncio e pôs o dedo polegar na boca.
– É possível que não se lembre de mim. Não estive muito por aqui ultimamente.
– Isso está prestes a mudar, não é assim?
Grace assentiu.
– Pensei em vir hoje e começar com o trabalho.
– Connor e Mike estão fora, mas tu conheces o sistema. Sei que ambos estão contentes por estares aqui.
– Como está Alex?
– Está internada – explicou Johanna, pegando na menina ao colo e subindo para o alpendre. – Por enquanto está tudo bem, mas às trinta e duas semanas…
Grace seguiu Johanna para dentro da casa.
– Querem que ela e o bebé tenham mais tempo.
– Exactamente. O médico diz que mais algumas semanas podem fazer uma grande diferença nos pulmões do bebé. Connor está muito preocupado – explicou a senhora Madsen.
Então, pôs Maren na cadeirinha.
– Connor passa quase o tempo todo no hospital e Mike não tem muito jeito para a contabilidade, portanto fico contente por estares aqui para ajudar – continuou a dizer Johanna.
– Faria qualquer coisa por… para ajudar – afirmou Grace, corando por quase ter posto a pata na poça.
Mesmo que ela soubesse que faria qualquer coisa por Mike… o resto das pessoas não tinha de descobrir!
Mas então a porta abriu-se e ela deu um salto. Quando Mike entrou na cozinha, chegou-se para trás e não conseguiu evitar olhar para ele.
Estava muito bonito. As suas calças e a sua t-shirt marcavam o seu corpo musculado. Ao vê-la, tirou o chapéu com que trabalhava sempre e ela conseguiu ver os seus caracóis escuros e uma gota de suor que lhe percorria a face.
– Grace…
– Mike…
– Eu, hum, só vim buscar alguma coisa para beber.
– Acho que Johanna está a fazer chá gelado.
Entreolharam-se e ela recordou como se sentira quando ele a agarrara no dia anterior de manhã. Mike engoliu em seco e apercebeu-se de que estavam a entreolhar-se como idiotas.
– Gostaria muito de beber um chá gelado, mas não está aqui para cuidar de mim, senhora Madsen.
Johanna serviu três copos com chá.
– Eu gostaria de saber de onde vem essa tolice de me chamarem senhora Madsen. Conheço-vos há tanto tempo… até vos assoava o nariz, portanto chamem-me Johanna ou Gram, como toda a gente.
Mike teve de reprimir um sorriso. Os Madsen eram o mais próximo que ele tinha de uma família, sem contar com a sua prima Maggie.
Johanna olhou para Maren e pegou nela ao colo.
– Vou mudá-la – anunciou. – Grace, tenho a certeza de que te lembras de onde é o escritório.
– Certamente. Arrumarei as coisas, não se preocupe.
– De certeza que Mike te ajudará, não é, Mike?
– Claro que o farei… Gram.
Então, Johanna foi-se embora com a pequena e Mike ficou a sós com Grace. Pensou que estava muito bonita naquele dia. Como de costume. Mas pareceu-lhe ver que tinha olheiras, coisa normal nela já que estava sempre a trabalhar. Sentiu-se um pouco culpado por lhe ter pedido aquele favor. Devia ter escolhido outra maneira de resolver os seus problemas.
Mas outra maneira teria significado que não teria uma desculpa para a ver e, depois de a ter visto na festa de aniversário dos Riley, quisera vê-la mais vezes. Ficara muito impressionado e o facto de saber que Grace ainda sentia algo por ele servia para justificar a sua própria atracção por ela. Já deixara que se fosse embora uma vez e lamentava-o imenso. Mas saber que ela ainda sentia algo por ele mudava tudo…
Não ia reconhecê-lo, mas usara a desculpa de que precisava de beber alguma coisa porque a vira chegar.
Para ele, Grace era a imagem viva da feminilidade e da pureza.
– Pareces cansada. Espero que este trabalho extra não te submeta a mais pressão desnecessária.
– Os teus elogios fazem com que uma rapariga se sinta muito bem.
– Não queria dizer que tinhas mau aspecto.
– Está a melhorar. Sabes, não sei o que as mulheres daqui vêem em ti – Grace não conseguiu evitar dizê-lo.
Mas corou. Ambos sabiam que estava a mentir. Ele sabia que ela era uma dessas mulheres.
– Mas posso garantir-te que posso suportar um pouco de, como tu dizes, pressão desnecessária. Não sou feita de cartão, Michael – disse o seu nome completo, já que sabia que ele não gostava.
Mike voltara a pôr o seu chapéu.
– Há algo que possa fazer para te ajudar?
Grace olhou para ele e conseguiu ver o carinho reflectido nos olhos dele, mas para ela estava claro que Mike não sentia nada por ela. Os homens que se interessavam por uma mulher faziam-lhe elogios, não lhe diziam que tinha mau aspecto.
– Sim, Mike, há algo que podes fazer por mim. Podes afastar-te do meu caminho e deixar-me fazer o meu trabalho.
Grace fechou o livro de cheques e suspirou. Alex fazia um bom trabalho com a contabilidade, mas estava com alguns meses de atraso. Era normal, visto que estava grávida e tinha uma menina pequena para cuidar. E o Verão era a época de mais actividade da quinta.
Não sabia se ter de estar tão perto de Mike com tanta frequência ia ser uma bênção ou uma maldição.
Mas estava muito contente, já que adorava a contabilidade. E, além disso, precisava de dinheiro. Era uma vila pequena e não conseguia dinheiro suficiente com os pequenos trabalhos de contabilidade que realizava. Também oferecia os seus serviços como mulher da limpeza. Dava-lhe a possibilidade de ganhar mais dinheiro e, assim, não estava tão sozinha.
No dia anterior, por exemplo, estivera todo o dia a limpar para a senhora Darrin. Depois de ter acabado de limpar, planeara regressar à sua casa para acabar de pintar. Mas a senhora Darrin sentira-se doente e pedira-lhe para tratar do jardim. Portanto, ficara. Cortara a relva e arrancara as ervas daninhas.
E, depois, ficou para beber chá. Apreciava ter relações sociais quase tanto como o dinheiro que lhe pagavam. Mas como trabalhara durante muito tempo em casa da senhora Darrin, tivera de se levantar às cinco da manhã para acabar de pintar e poder passar o dia a trabalhar em Windover.
– Como está tudo?
Ao ouvir a voz de Mike, Grace virou-se na cadeira muito bruscamente.
– Meu Deus, Mike, como demónios consegues assustar as pessoas desta maneira?
– Fiz barulho suficiente para acordar um morto. Estavas nas nuvens.
Grace ficou a olhar para uma gota de suor que percorria a garganta de Mike. Havia algo muito atraente no trabalho manual que ele fazia.
– Não… não tens o chapéu posto – gaguejou ela, sentindo-se estúpida devido àquele comentário.
– Tem de estar em algum sítio por aqui.
Aquilo era uma loucura. Cada vez que ele não estava à frente dela, ela jurava a si própria que não ia deixar que ele a afectasse daquela maneira, mas de cada vez que o via, transformava-se numa idiota. Virou-se e pegou na sua caneta vermelha.
– Ainda tenho trabalho para fazer, portanto, a não ser de que haja algo de que precises…
Então, ele aproximou-se e pôs uma mão no braço da cadeira, virando-a levemente.
– Vim para te pedir outro favor. Pediria a Johanna, mas…
– Mas uma mulher da sua idade… atrás de uma pequena de quase dois anos… é demasiado para ela. Eu sei. O que queres?
Mike olhou para ela com os seus olhos azuis e ela fez o mesmo. Quando os seus olhares se encontraram, foi como se aqueles dez anos não tivessem passado. Não foi capaz de desviar o olhar.
– Alex regressa a casa esta noite e eu perguntava-me… Como sei que ela tem de repousar e tudo isso…
– Queres fazer algo agradável?
– Sim – concordou ele, sorrindo timidamente.
Aquilo era uma das coisas que mais gostava nele. Parecia muito masculino e forte, mas depois mostrava-se muito amável.
– E queres que eu te ajude.
– Eu não sei muito sobre esse tipo de coisas. E Connor está com Alex e não pode ajudar.
– Posso fazer um jantar especial – ofereceu ela. – Posso arranjar Maren, preparar uma recepção simples com a família.
– Obrigado, Grace. É perfeito!
Grace recordou que tinha a sua própria casa muito suja. Mas não importava. Ninguém ia ver a casa dela. Suspirou e pensou que passar a tarde com os Madsen seria muito bom.
Mike ouviu o suspiro e interpretou-o mal.
– Lamento muito. Não devia ter perguntado. Tens muito para fazer e estás ocupada. Posso pedir que tragam algo de um restaurante.
– Não. Não é isso. Eu gostaria…
Mike mudou de humor tão depressa que a impressionou. Fez uma careta dura. Parecia zangado com ela e Grace não sabia porque seria.
– És sempre assim, Grace. Queres sempre ajudar. Cada vez que alguém te pede um favor, lá estás tu. Estás a matar-te a trabalhar e para quê? É óbvio que estás cansada. Seria melhor encomendar comida… assim tu descansas um pouco. Devia ter pensado nisso antes.
Novamente, estava a dizer-lhe que parecia cansada. Grace enfureceu-se. Ele não sabia nada da sua vida e não era ninguém para lhe dizer o que devia fazer.
– Sabes uma coisa, Mike? Sou uma rapariga crescida e acho que conheço os meus limites.
– Acho que não os conheces – contradisse ele, com dureza. – Trabalharias sem parar se te deixasse. Não te preocupes com o jantar. Esquece que o mencionei.
– Sabes? Estás a começar a zangar-me – respondeu Grace.
Para alguém que não fosse Mike, aquilo teria parecido uma ameaça.
– Se tu me deixasses? Não me lembro de te ter pedido permissão, Mike Gardner. Se não tivesse tempo para o fazer, dir-te-ia. Quando foi um problema para mim passar tempo com Connor e Alex? Não tenho nada para fazer à tarde.
Óptimo! Devido ao seu aborrecimento, ia parecer que ela não tinha vida social.
– Podias dormir – continuou Mike. – Vejo como trabalhas arduamente, Grace. Limpas metade da vila e geres a contabilidade da outra metade. Um dia destes, vais ficar doente!
Grace levantou-se da cadeira, prestes a chorar devido à raiva que sentia.
– Quem achas que és para me criticar? És o meu anjo da guarda?
Grace sentiu-se contente por ver que ele desistia.
– Bom, se tu não vais cuidar de ti própria, alguém tem de o fazer!
– No caso de não teres percebido, sou uma mulher adulta!
– Oh, claro que percebi! – exclamou ele.
Então, criou-se um silêncio tenso.
– Ainda bem, fico contente por termos esclarecido este assunto. Agora afasta-te do meu caminho. Se vou fazer o jantar, tenho de acabar isto – Grace dirigiu-lhe um olhar fulminante. – Sem a tua interferência.
Mike virou-se. Afastar-se do caminho de Grace não era nenhum problema, sobretudo quando ela o atacava daquela maneira. Podia ir esquecendo que ele voltasse a preocupar-se com o seu bem-estar.
Saiu de casa e dirigiu-se para o lugar onde a sua própria casa ia ser construída.
Ela não entendia nada. Sempre a vira como uma irmã mais nova, mas quando crescera, ele apercebera-se disso. Ela fora a imagem da beleza inocente. Durante algum tempo, permitira-se preocupar-se com ela e deixara que ela fizesse o mesmo com ele. Durante um curto período de tempo, deixara que fosse o seu coração a mandar e não a sua cabeça. Abraçara-a e beijara-a. Mas apaixonara-se demasiado depressa e soubera que, quando ela visse como era ele na verdade, fugiria. Por isso, assim que começara a temporada de rodeos, ele pegara no carro e fora-se embora sem olhar para trás.
Quando ela regressara à vila depois de se ter divorciado, ele estivera por lá durante algumas semanas e ficara impressionado ao vê-la. Transformara-se numa mulher linda. Era mais do que bonita, era exactamente o que uma mulher devia ser.
Ao aproximar-se dos alicerces da sua futura casa, brincou com os operários, o que o ajudou, mas ela permanecia na sua mente.
Naquele mesmo Verão, na festa de aniversário dos Riley, Grace bebera demasiado e tinham dançado juntos. Velhos amigos…
– Mike, és tão bonito! – exclamara ela, sorrindo abertamente.
Ele brincara com isso, mas ela permanecera imperturbável.
– Aposto que também és bom na cama. Estivemos a especular sobre isso.
Aquilo impressionara Mike, para o dizer suavemente, e envergonhara-o. Não soubera como responder. Pensara que ela deixara a sua aventura amorosa no passado, sobretudo depois de se ter mudado para Edmonton e de se ter casado. Ele só regressara para ficar a viver na vila na Primavera.
Enquanto tinham estado a dançar, sentira as curvas sexys dela.
– Pensas sobre isso? – perguntara-lhe claramente.
Parecera que ela percebia, de repente, o que dissera, já que se endireitara e corara.
– Cala-te! – ordenara ela. – Esquece o que disse.
A mudança de tom de voz dela tranquilizara Mike. Mas o problema era que ele não conseguira esquecê-lo. Não fizera outra coisa senão pensar nisso, perguntando-se como ficariam juntos. Queria beijá-la, abraçá-la…
Mas Grace merecia uma pessoa que fosse melhor do que um ex-cavaleiro com um passado turvo. E de alguma forma ia demonstrar-lhe que ele era muito mais do que isso. Simplesmente, precisava de tempo.
Mike parou à porta, respirando fundo. Fora demasiado duro com ela. Fizera-o porque odiava vê-la a trabalhar tanto, mas não expressara bem a sua preocupação e ela zangara-se com ele. Esperava que já não estivesse zangada.
Não bateu à porta, simplesmente entrou. Ao passar pela cozinha, parou à porta ao ver Grace a levar os pratos para a mesa.
– Falta algo à mesa.
Ela levantou a cabeça, surpreendida.
– Quando entraste?
– Há um segundo. O jantar cheira muito bem.
– É só frango e salada. Vesti Maren e Johanna levou-a com ela para o hospital. Regressarão todos juntos.
– Pensei que podia usar alguns enfeites – indicou ele, entrando na cozinha e mostrando-lhe o que tinha nas mãos.
– Flores. Cortaste flores do jardim?
– Pensei que talvez fizessem com que as coisas parecessem um pouco mais especiais – esclareceu, entregando-lhas.
Não oferecia flores a uma mulher desde que estivera na escola e quisera impressionar uma das mães adoptivas que tivera.
– Também pensei que te suavizariam um pouco e que me desculparias.
– Desculpar-te?
– Lamento que tenhamos discutido – desculpou-se, sem ser capaz de dizer que lamentava tudo o que se passara. Lamentava tê-la aborrecido.
– Eu também lamento.
Então, os seus olhares encontraram-se. Ela estava linda e ele perguntou-se o que ela faria se se aproximasse e a beijasse, como estivera a pensar fazer há semanas…
– Simplesmente, estava preocupado, é só isso. Conheço-te há muito tempo, Grace. Simplesmente, quero que cuides de ti própria.
Grace pôs as flores numa jarra no meio da mesa.
– Obrigada por te preocupares, Mike, mas não tens de o fazer. Já há muito tempo que cuido de mim própria.
Mike pensou que fora obrigada a fazê-lo. Vivia na vila há cinco ou seis anos. Vivia sozinha. Mas isso não evitava que ele sentisse um instinto de protecção em relação a ela.
Então, ouviram-se vozes na casa.
– Acho que já chegaram – observou Grace. – Mesmo a tempo. O frango está pronto.
Quando Alex e Connor entraram com a sua pequena, Mike forçou um sorriso.
– Bem-vindos a casa!
– Oh, não tinham de se incomodar! – exclamou Alex, com os olhos cheios de lágrimas. Então, olhou para Grace. – Tu fizeste isto?
– Foi ideia de Mike. Agradece que eu tenha cozinhado e não ele.
Todos se riram, incluindo Mike.
– Eu farei o café. Confio tudo o resto a Grace.
– Que inteligente! – exclamou Grace.
Alex sorriu e abraçou Mike.
– És um querido – sussurrou-lhe ao ouvido.
– Não digas nada. Isso é um segredo – sussurrou ele. Então, endireitou-se. – Não trabalhes. Nós vamos cuidar de tudo para que tu possas simplesmente cuidar desse presente que tens aí – indicou, apontando para a barriga de Alex.
– Isso foi o que eu lhe disse – declarou Connor, pondo Maren na sua cadeirinha e dando-lhe um biscoito. – Nada é mais importante do que cuidar do nosso bebé.
Mike olhou para Grace, que tinha uma expressão estranha reflectida na cara enquanto olhava para Alex… parecia magoada. Entendia que se sentisse daquela maneira devido à preocupação com a sua amiga, mas havia algo mais. Uma tristeza profunda. Não entendia porque é que ver Alex a deixava triste.
Grace apercebeu-se de que estava a olhar para ela e sorriu, apagando aquela expressão triste da sua cara como se nunca tivesse existido.
– Podes servir o frango, por favor, Mike? Eu vou tirar o resto da comida do frigorífico.
Todos se sentaram para jantar, mas Mike não conseguiu esquecer a expressão triste de Grace.
Connor e Alex estavam a deitar Maren e Johanna estava a limpar a cozinha. Grace tentara ajudar, mas Johanna impedira-a. Então, como sabia que não devia simplesmente ir-se embora para casa, saiu para o jardim. Estava a anoitecer. Suspirou, sabia que se se fosse embora para casa naquele momento acabaria por sentir pena dela própria. Apesar das preocupações que tinham, os Madsens eram uma família feliz. Ela pensara que algum dia teria uma igual, mas naquele momento sabia que nunca aconteceria. A maioria do tempo era fácil, mas num momento como aquele… custava muito e fazia-a lamentar o que nunca teria.
Nunca teria a sua própria família…
– Está uma noite muito bonita, não está? – perguntou Mike, interrompendo os pensamentos dela.
– Sim.
– Vais contar-me porque estás tão triste?
Mike estava atrás dela. Se olhasse para ele, não sabia se seria capaz de se conter e podia criar uma situação muito incómoda.
– Estou bem, simplesmente, estou a desfrutar da noite.
– Grace Lundquist, mentes muito mal!
Ela suspirou, desejando que ele ficasse atrás dela.
Fechou os olhos.
– Esquece, Mike.
Durante um momento, ele ficou em silêncio e ela perguntou-se se se teria ido embora. Mas então ele voltou a falar.
– Não posso.
Grace perguntou-se porque é que ele teria de se preocupar tanto com ela de repente. Ele só a via como uma amiga e, mesmo que pensasse nela doutra forma, não significaria muito, já que ele não ficava com nada nem com ninguém durante muito tempo. E não gostava desse tipo de relações.
Preocupava-se com Mike, isso era verdade, mas não podia aproximar-se demasiado dele. Não sabia se ele não acabaria por a abandonar novamente e não queria cometer o mesmo erro duas vezes.
Dar-se-iam muito melhor se fossem só amigos.
Mike pôs uma mão sobre o seu ombro e ela apoiou-se nela.
– Estou bem. Juro.
– Durante o jantar não parecias bem. Parecia que todo o teu mundo estava a desmoronar-se ao teu redor.
Grace obrigou-se a sorrir e virou-se para olhar para ele nos olhos, que reflectiam preocupação. Ele segurou nos dedos dela.
Ela afastou a mão.
– Quando te tornaste tão dramático, Mike? Mundos a desmoronarem-se. Como se isso acontecesse…
– Se não estavas triste, o que é que fazes aqui fora na escuridão?
– Não queria ser impertinente. Devia ir-me embora para casa.
– Não devias preocupar-te com isso. Eu vivo aqui. Não podes intrometer-te mais do que eu.
– É só temporário.
– Sim, é. Tenho muita vontade de ter a minha própria casa.
Grace olhou para ele, contente por terem mudado de conversa.
– Parece engraçado que tu vás ter a tua própria casa e estejas a começar um negócio. Nunca foste desse tipo de pessoas.
– E não era. Não fui durante muito tempo. Mas as coisas mudam.
– Que coisas? – Grace inclinou a cabeça, curiosa.
– Não fazia sentido andar de um lado para o outro sem nenhum propósito, procurando algo sem saber o que era. Chegou um momento em que queria estabelecer-me e encontrar um lugar para mim. Construir um negócio. Criar um lar, até mesmo ter uma família.
Grace sentiu-se como se os seus ossos se derretessem. Tinha de fugir. Mike, uma casa e uma família. Palavras que nunca esperara ouvir dos seus lábios.
Sentiu uma vontade desesperada de chorar e mordeu o lábio para se conter.
– Tenho de me ir embora – afirmou, correndo para o seu carro, entrando e arrancando.
O que Mike estava à procura naquele momento era o que ela nunca seria capaz de lhe dar.
Grace levantou-se da cama. Estava constipada e sentia-se muito mal. Tudo o que desejava era ficar na cama, o que era uma pena, tendo em conta que estava um fabuloso dia outonal.
O dia seguinte era dia de pagamento no Circle M. Alex estava a repousar na cama e era ela que tinha de passar os cheques. Sentou-se na mesa, pensando que não conseguiria ir para o rancho naquela manhã. A última coisa de que Alex, ou Maren, precisavam era que lhes pegasse a constipação.
Talvez alguém do Circle M pudesse trazer-lhe os documentos necessários. Levantou-se e telefonou para ver se conseguia fazê-lo…
Mike estacionou a sua carrinha, pegou nas pastas com os documentos e saiu. Dirigiu-se para a porta traseira, onde sabia que gostava de se sentar a ler. Ia deixar o livro de contabilidade e o livro de cheques, mas também ia certificar-se de que ela estava bem.
Pareceu-lhe que Grace demorou muito a abrir a porta e, quando o fez, Mike teve de se esforçar para não ficar boquiaberto.
Estava vestida com calças de ganga e uma t-shirt de seda azul que o fez sentir água na boca. Engoliu em seco. Era uma combinação de inocência e de sedução e, por um instante, imaginou-se a agarrá-la pelos ombros e a beijá-la apaixonadamente. Mas a toalha que tinha em redor do cabelo teria dificultado um pouco as coisas…
– Estou a interromper-te.
– Não há problema – replicou, congestionada. – Entra.
Mike seguiu-a para dentro da casa.
– Obrigada, Mike, por me trazeres os documentos da contabilidade.
– Parece que estás muito constipada.
Quando Johanna lhe dissera que Grace estava doente, a primeira coisa em que ele pensara fora em oferecer-se para lhe levar os documentos. Queria cuidar dela. Havia algo em Grace que lhe inspirava essa necessidade de a proteger.
– Tentei melhorar com chá e mel e tomei um descongestionante nasal, mas ainda não fez efeito – explicou ela, apoiando-se sobre a bancada da cozinha.
– Sim, bom, podes levar os cheques quando os acabares. Amanhã é dia de pagamento, mas os rapazes entenderão se te atrasares um pouco. Tens de ficar um dia de cama.
Grace olhou para os olhos de Mike e ele apercebeu-se de que ela estava corada e linda. Imaginá-la na cama não o ajudava a manter a sua saúde mental.
– Sabes que os entregarei a tempo.
– Não faz mal. Tens de descansar – insistiu ele.
– De repente, transformaste-te em médico?
Grace afastou-se da bancada, cruzando os braços.
– Estás doente. Acontece com todos.
– Exactamente. E o mundo não pára porque alguém tem uma constipação. Disse que terei os cheques prontos a tempo e assim será. Além disso, tenho outro trabalho para fazer que não tem nada a ver com o Circle M e não quero atrasar-me.
Mike não conseguiu conter-se.
– Trabalhar, trabalhar e trabalhar. Não fazes mais nada! – exclamou.
– Sim, trabalho muito. No caso de não teres percebido, não tenho um calendário social cheio e, como o resto do mundo, tenho contas para pagar!
Virou-se, zangada consigo própria por ter caído nas provocações de Mike. Caiu-lhe a toalha do cabelo e ela segurou-a com uma mão, afastando o cabelo da cara com a outra.
Mike olhou para ela durante um bom bocado.
– Estás com problemas financeiros, Grace? – perguntou, preocupado.
– Não… não tenho esse tipo de problemas – Grace suspirou. – Mas também não tenho dinheiro a mais.
– Deixa-me ajudar-te.
Ela olhou para ele nos olhos, hesitando levemente devido à preocupação sincera que viu reflectida neles. Mas não, não era um problema dele e há muito tempo que ela aprendera que só podia depender de si própria. Endireitou-se.
– Obrigada, mas estou bem. Eu gosto de trabalhar, Mike.
– Não posso preocupar-me contigo?
– Já não tenho doze anos, Mike – indicou Grace, tentando manter-se calma. – Já não tens de me defender.
Mike riu-se, suavizando um pouco o ambiente.
– Parece-me que houve um tempo em que eras tu que me defendias.
cowboy