Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Colleen Collins

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Precisa-se de um amor, n.º 566 - setembro 2019

Título original: She’s Got Mail!

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-296-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

 

A mãe de Rosalind Myers costumava dizer que a filha chegaria atrasada ao seu próprio enterro. Rosie tentava não pensar nas palavras mórbidas da mãe enquanto virava a esquina com o carro.

Mas isso não chegou a abater-lhe o ânimo. Acordara mais feliz do que era normal. Graças ao novo lugar de estacionamento que alugara perto do escritório, nunca mais chegaria atrasada ao trabalho. No pior dos casos, teria de se apressar para chegar a tempo à sua secretária, às oito horas, se não quisesse ouvir a sua chefe, Teresa.

Não tinha tido tempo para tomar o pequeno-almoço, comera apenas uma barra de cereais enquanto esperava que o motor do carro aquecesse.

Olhou para o relógio: eram oito horas e seis minutos. Teria de se apressar um pouco mais, mas tinha a certeza que, no máximo, às oito e quinze, já estaria a corrigir os seus textos.

Acelerou e fez outra curva. Raspou o carro num poste. Mas achou melhor não parar para ver o estrago porque acabaria por se atrasar ainda mais. Para além disso, tinha a certeza que não fora nada de grave, nada para além de uns arranhões na pintura.

Virou à direita e foi em direcção ao tão almejado lugar, em frente ao prédio onde trabalhava, o seu segundo lar.

Lar. Essa palavra despertava-lhe lembranças sobre a quinta da sua família em Corby, no Kansas, onde tinha passado toda a sua vida até se mudar para Chicago, há sete meses. Olhou para o céu acinzentado da cidade e não conseguiu evitar a comparação com o céu azul e límpido da sua cidade natal. Trocara os campos verdes e frescos por uma verdadeira selva de pedra.

Estava prestes a chegar quando uma visão muito real fez com que as suas memórias se dissipassem.

Travou o carro subitamente. Alguém lhe tinha roubado o lugar! Um BMW preto estava estacionado no estacionamento que lhe pertencia.

Começou a tremer e resolveu descer do carro. Ao sair do automóvel, meteu o pé numa poça de água suja e lamacenta. Os seus pés ficaram encharcados e tinha água espalhada pelas pernas e pela saia.

A água era castanha e viscosa, nojenta. Os seus colegas de trabalho pensariam que ela tinha passado por um campo de batalha para chegar ao escritório. Agora teria de estacionar o carro longe dali. Em vez de chegar alguns minutos mais tarde, chegaria muito mais tarde.

Olhou para o BMW impecável e aproximou-se para ver a matrícula. Reparou que, no vidro traseiro, havia um selo onde se podia ler «Consulte sempre um advogado». Imediatamente, levantou a cabeça e olhou para o terceiro e último andar do pequeno prédio de tijolos.

A revista Homem Real funcionava nos dois primeiros andares do prédio. O terceiro andar era ocupado por contabilistas, corretores e, se não lhe falhava a memória, por um advogado.

– Apanhei-te! – disse para si mesma. Olhou novamente para o relógio e entrou em pânico. Já estava atrasada e ainda iria demorar algum tempo até encontrar um lugar para estacionar o carro.

«Já que vou chegar atrasada, não custa nada perder mais uns minutos e falar com o tal advogado.»

Rosie ouviu o som de uma buzina e virou-se. Um grande camião amarelo estava parado atrás do seu carro e um musculoso e tatuado motorista buzinava impacientemente.

– Este carro é seu, senhora? – disse o homem irritado, com uma voz cavernosa.

«Homens! Não sabem lidar com uma pequena inconveniência sem se alterarem!»

– Sim, é meu – respondeu. Estava habituada, desde pequena, a lidar com homens e não se deixava intimidar por eles. Era a única rapariga no meio de quatro irmãos.

Mas como estava com pressa, achou melhor não discutir e voltou para o carro. Ligou o motor e acenou para o motorista do camião, com um sorriso nos lábios.

 

 

– Bom dia! – uma mão com unhas pintadas de cor de laranja abriu a porta do escritório de Benjamin Taylor.

Ben tomava uma chávena de café preto quando viu a ex-mulher. Meredith usava um batom da mesma cor do verniz. Novo batom, novas unhas. Talvez ela tivesse terminado o namoro com Dexter e usasse aquelas cores berrantes para chamar a atenção dos outros homens.

Ou então para chamar a atenção do ex-marido.

– Eu disse «bom dia»! – repetiu ela, com os lábios apertados.

Para Ben, a boca de Meredith mais parecia um vulcão com aquele batom cor de lava.

– Bom dia – respondeu ele. «Deus, faça com que ela não decida beijar-me com aquela boca de vulcão!»

– Assim é melhor – sussurrou ela.

Ele tentou não rir do visual da ex-esposa, que usava uma espécie de quimono tricolor de seda, em tons de laranja, verde e azul. Era normal para ela usar esse tipo de roupa, pouco discreta, quando terminava um namoro. E o facto de ter adoptado aquele visual oriental só podia significar que o seu romance com Dexter tinha chegado ao fim.

– Acabei de ver um candeeiro maravilhoso – comentou, olhando para o candeeiro que ficava no canto da sala. – Ficaria muito bem no teu escritório. Era preto, com formas geométricas que...

Ben franziu a testa. Cada vez que Meredith adoptava um novo visual, tentava decorar o escritório do ex-marido da mesma maneira. Novos visuais para a decoração não eram um problema. O problema era quando o trabalho ficava incompleto.

Isso também era um hábito seu: começava a decorar um espaço com um estilo e, a meio do trabalho, apaixonava-se por alguém e deixava o escritório decorado pela metade.

Ele concluíra que, assim como a vida de um homem primata era traçada a partir de pinturas nas paredes das cavernas, a vida amorosa de Meredith também poderia ser traçada a partir dos estilos com os quais já tinha decorado o seu escritório.

– Este candeeiro não sai daqui! – protestou Ben.

O facto de ela ainda usar o seu apelido aborrecia-o. Era estranho que a ex-mulher, que já se tinha casado e divorciado depois do fim do primeiro casamento, ainda usasse o seu apelido. O sensato seria que usasse o do último marido ou então o seu nome de solteira.

– Está bem, o candeeiro fica – concordou. – Mas tu nunca me falaste nesse tom de voz.

O tom de voz que empregara também o tinha surpreendido. Os olhos de Meredith diziam-lhe para a tratar com cuidado; ela estava com o coração partido e prestes a formular um novo tipo de decoração no escritório.

– É que eu ainda não bebi café suficiente.

– Fazes cada comentário esquisito, querido! – disse ela, erguendo a sobrancelha.

– Conversa de advogado – ela tinha mesmo terminado o namoro com Dexter. Nunca o chamava de «querido» quando estava envolvida com outro homem.

– Gostas do meu cabelo? – perguntou.

Ben olhou para os seus cabelos, enfeitados por palitos.

– Que palitos são esses?

– Palitinhos japoneses.

Japoneses?

– É bastante... exótico – o comentário soou-lhe irónico, porque achou que os cabelos de Meredith estavam mais parecidos com um ninho de passarinho. Mas decidiu não fazer comentários.

Apesar do estilo adoptado, oriental ou ninho de passarinho, ele não pôde deixar de notar que ela estava com olheiras. Apesar do divórcio tumultuado pelo qual tinham passado, a sua ex-mulher recorria sempre a ele nos momentos difíceis. E era óbvio que ela não estava bem.

– Os teus cabelos estão óptimos – murmurou.

– Óptimos? – os olhos verdes adquiriram um brilho diferente, como se estivessem à espera de mais alguma coisa. – Apenas... óptimos?

– Óptimos... e castanhos – completou Ben.

Tarde demais. Os olhos dela já estavam com um brilho sinistro. Ela abriu a boca, prestes a responder, quando foi interrompida por uma outra voz feminina e estridente.

– Meredith! – Heather abraçou a amiga e depois afastou-se para observar o novo visual de Meredith. – Estás maravilhosa! E os teus cabelos estão lindos! Esse visual é a última moda.

Um medo tomou conta de Ben quando imaginou a ex-mulher a decorar-lhe o escritório com aquele estilo. Imagens de palitos japoneses e ninhos de passarinho espalhados pela sala invadiram-lhe a mente. Agitou a cabeça e tentou livrar-se delas.

Meredith sorriu, encantada com os elogios de Heather, mais lisonjeiros que os de Ben.

– Obrigada. Eu quis tentar uma coisa nova – respondeu enquanto passava a mão pelos cabelos.

– Acabaste o namoro com Dexter? – perguntou Heather.

Meredith soluçou antes de correr para os braços da amiga. Ben olhou para Heather com uma expressão irritada.

– Queres dizer alguma coisa, chefe? – perguntou ela, lançando-lhe um olhar impaciente.

– Os cabelos dela estão óptimos e castanhos. Mas são quase nove horas e estás atrasada.

Ela não se incomodou com o comentário e continuou a consolar Meredith, que chorava desesperadamente.

Ben olhava para as duas, a sua ex-mulher e a sua ex-noiva, e percebeu que tinha muitas «ex» na sua vida. Mas aos trinta e seis anos, já não tinha disposição para arranjar outra «ex». Nem uma actual.

No período da vida em que se encontrava, gostava da companhia dos amigos. Jogar bowling e beber cerveja com os amigos era suficiente. Se bem que preferia passar uma noite regada a muito vinho e a jogar xadrez. Costumava fazê-lo com Matt, antes do amigo se apaixonar e mudar-se para a Califórnia.

Desde então, a única conversa «de homem para homem» que tinha era quando Heather lhe lia a secção de perguntas e respostas dos leitores da revista Homem Real. Era a sua revista preferida. Às vezes, quando ela saía para almoçar e quando não havia clientes no escritório, ele lia a revista às escondidas.

Heather ainda consolava Meredith.

– A coitada está a sofrer – comentou ela.

– E eu também – respondeu Ben.

Tinha conhecido Heather numa loja. Ela vestia uma blusa muito decotada e uns calções de ganga, justíssimos, que chamavam a atenção de todos os homens presentes. Estava irresistível, principalmente quando balançava a sua longa e convidativa cabeleira loira.

Um mês depois, estavam noivos e ela era a nova recepcionista do seu escritório de advocacia. Mas com o tempo, percebeu que ela tinha um coração frio e seis meses depois resolveram desmanchar o noivado.

Ben ajudou-a a encontrar um novo apartamento, mas Heather teve muitas dificuldades em arranjar um outro emprego. Por isso, permitiu que ela continuasse a trabalhar no seu escritório.

No entanto, não sabia que as suas duas «ex» acabariam por ficar amigas.

– Diz-lhe qualquer coisa – sussurrou Heather.

Era um advogado e não um conselheiro de corações partidos. Mas se tinha um calcanhar de Aquiles, era o seu coração. Sentia-se incapaz de magoar alguém, principalmente uma mulher, e esse era o resultado de ter sido o único homem entre tantas irmãs.

– Lamento que ele te tenha pedido o carretel de volta.

Meredith levantou a cabeça e olhou-o com indignação.

– Anel! – reclamou ela, num tom tão agudo que fez com que a sua voz parecesse os lamentos de uma gralha. – Ele pediu o anel, não um carretel!

Heather olhou para Ben com uma expressão acusadora.

– Como é que podes ser tão insensível?

– Nunca te preocupaste comigo, nem quando éramos casados – completou Meredith, num momento de autopiedade.

Enquanto olhava para aqueles dois rostos furiosos, percebeu que uma terceira mulher entrava na sua sala. Ela tinha o rosto em forma de coração e os seus cabelos castanhos e encaracolados caíam-lhe sobre as faces, fazendo com que parecesse uma menininha. Umas dessas meninas que quando são boas, são óptimas, mas quando são más...

– Por acaso é Benjamin Taylor? – perguntou a mulher.

– Em pessoa.

– Advogado?

– No momento não estou a precisar – disse, depois de uma pausa. – A senhora está?

– O carro que diz «Consulte sempre um advogado» é seu? – perguntou, arregalando os seus grandes olhos castanhos.

– Alguém bateu no meu carro?

– Não, mas poderiam. Para dizer a verdade, eu quase lhe bati. O senhor estacionou no meu lugar, seu... seu... advogado-ladrão!

Advogado-ladrão?

Meredith e Heather viraram-se para ver o rosto da mulher irritada e, como que por osmose, pareceram absorver o estado de espírito da outra.

Olharam para Ben com um expressão ainda mais irritada, fazendo com que ele se sentisse encurralado no meio de um bando de mulheres furiosas. Qual era o problema delas? Quando uma vai à casa de banho, as outras vão atrás. Quando uma resolve odiar-te, as outras também te odeiam. Ele ainda não acabara de beber o seu café matinal e já tinha exasperado três mulheres, uma das quais ele nunca vira na vida!

Era apenas o começo de mais um dia excitante na vida de Benjamin Taylor.

– Porque é que não entra para que possamos discutir o incidente? – perguntou ele enquanto tentava manter a calma.

– Porque é que deveria?

– Tu não, Heather. A nossa convidada – olhou para a ex-noiva com uma expressão que ela conhecia bem, uma expressão de advertência que fez com que ela recuasse e saísse da sala.

Ben atravessou a sala. E ao passar por Meredith, disse:

– Desculpa-me por ter feito confusão com o anel... Porque é que não dás uma vista de olhos no sofá? – perguntou, e apontou para o sofá que ficava na recepção do escritório, perto da mesa de Heather. Por um minuto de paz, valia a pena sacrificar o sofá.

Meredith saiu da sala e encaminhou-se para o móvel.

Agora poderia dedicar toda a sua atenção àquela quase-menina de cabelos encaracolados, que vestia uma camisa branca de mangas compridas e uma saia castanha.

– Por favor, entre, senhora...

– Myers. Rosie Myers.

– É apenas um escritório de advocacia – comentou – E não uma câmara de tortura. Sente-se, por favor.

Ela olhou para Ben, com uma expressão pouco amigável, e caminhou em direcção a uma das grandes cadeiras de madeira, reservada aos convidados e clientes.

Reparou que ela tinha lama espalhada pelos pés e pelas pernas. Não dissera que quase batera no seu carro? Como? Com o corpo?

– Aceita um café? Chá?

Rosie sentou-se na cadeira mais afastada da mesa dele.

– Daria tudo por um café.

– Heather, poderias trazer...

– Ainda estou a ajudar Meredith! – gritou ela da recepção.

Ajudar? A fazer o quê?

– Açúcar? Natas? – perguntou ele.

– Três colheres de açúcar. E muito leite.

– Não quer um café, quer um batido – murmurou Ben, enquanto se dirigia à máquina de café que estava na recepção.

Rosie observava cada detalhe do escritório do advogado. Já estava tão atrasada, que mais dez minutos não fariam diferença.

Odiava desapontar Teresa, que até era flexível em relação aos horários. Mas ela atrasara-se muito. Em breve a chefe tomaria uma atitude drástica e definitiva.

Precisava de relaxar. Já tinha pisado uma poça de água suja, trocado elogios com um motorista mal-encarado, perdido o seu lugar de estacionamento e caminhado mais de seis quarteirões para chegar ao trabalho.

Olhou para as paredes. Parecia que o decorador daquele escritório tinha tido uma crise de loucura. Uma das paredes tinha umas pinturas de paisagens. Rosie lembrou-se novamente da sua terra natal, com as suas paisagens extraordinárias. A outra parede tinha um ornamento esquisito, coberto de penas. Olhou com mais atenção e percebeu que no centro do arranjo havia um relógio.

– Aqui está o seu café.