A Chave Dourada


Havia um garoto que costumava se sentar no crepúsculo e ouvir as histórias de sua tia-avó.

Ela contou à ele que se fosse capaz de chegar ao lugar onde acaba o arco-íris, lá encontraria uma chave dourada.

– Para que serve a chave? – O garoto perguntou. – É de uma porta ou uma caixa? O que ela abrirá?

– Isso ninguém sabe – sua tia respondeu. – Você vai ter que descobrir.

– Imagino que, sendo de ouro, – o garoto uma vez disse pensativo – eu poderia conseguir um bom dinheiro com ela caso a vendesse.

– Melhor nunca achá-la do que vendê-la – respondeu sua tia.

O garoto deixou a tia sentada e foi dormir, refletindo sobre a chave dourada da história. E não é que ele até sonhou com ela?

Você pode estar se perguntando o que tem de esquisito do menino sonhar com uma chave mágica. Afinal, todo mundo sonha com algo do qual se fala muito, não concordam?

Só que este menino tinha algo diferente dos outros. Tudo que a sua tia-avó havia contado sobre a chave dourada não faria sentido se a pequena casa onde eles moravam fosse no alto de um morro ou em um vale qualquer. Mas não. . Ela ficava nas margens do País das Fadas. E é perfeitamente sabido que, fora do País das Fadas, ninguém consegue encontrar onde fica o fim arco-íris. A chave é guardada com tanto cuidado, como um objeto precioso que por mais que você tente, nem faz ideia de onde procurar. Ela sempre muda rapidamente de lugar para lugar, para que ninguém possa encontrá-la!

Mas se você procurar o fim do arco-íris lá no País das Fadas,tudo é um pouco diferente. Coisas que parecem reais no nosso mundo, parecem muito tênues no País das Fadas. Enquanto algumas das coisas que a gente conhece aqui não param de pé nem por um segundo, lá elas não se deitam jamais! Então não era tão absurdo que a velhinha contasse tais coisas sobre a chave dourada para seu sobrinho. Quem sabe ele não poderia finalmente encontrá-la? A inocência de uma criança, no País das Fadas, é uma arma muito poderosa...

– Você sabe de alguém que a encontrou? – Ele perguntou certa noite.

– Sim. Seu pai. Acredito que um dia ele a encontrou.

– E o que ele fez com ela, você pode me dizer?

– Isso eu não posso. Ele nunca me disse.

– Como ela era? Você a viu?

A sua tia-avó abanou a cabeça mais uma vez.

– Ele nunca me mostrou.

– Sempre que alguém acha a chave uma nova aparece no lugar?

– Acho que sim.

– E por quê?

– Eu não sei. Só sei que está lá.

– Talvez a chave seja o ovo do arco-íris.

– Pode ser. E você será um garoto feliz se encontrar esteninho.

O menino sorriu. Olhou encantado para o céu e murmurou:

– Talvez ela venha rolando do céu pelo arco-íris.

– Acho que é isso mesmo.

Assim eram as noites do menino e sua tia-avó. Cercada de histórias, velhas e novas, mas cheias de fantasia. À bem da verdade, a chave dourada nunca sumiu da cabeça do menino. Podia passar um dia, ou vários, mas a imagem daquele objeto cheio de coisas boas não saia da cabeça dele.

Numa tarde de verão, ele foi para seu quarto, parou perto da janela de treliça e contemplou a floresta que marcava o limite do País das Fadas. 

As árvores daquele lugar especial chegavam perto jardim de sua tia-avó e, de fato, algumas até pareciam se misturar ao ambiente. A floresta ficava à leste e o sol se punha atrás da pequena casa, olhando a madeira escura com seu grande olho vermelho. As árvores tinham alguns ramos baixos, deixando que a luz do dia mostrasse um pedaço da floresta.

O garoto, muito observador, aproveitou a luz do sol para ver o que acontecia por lá. Os troncos pareciam fileiras de colunas vermelhas no brilho do sol até se perder de vista. Olhando aquele espetáculo iluminado, ele começou a sentir algo diferente. Era como se as árvores estivessem esperando por ele. O menino sentiu que não podia fazer mais nada se não fosse brincar entre aquelas árvores tão bonitas. Quando começou a caminhar, sentiu o estômago roncar. Outra hora iria. Primeiro tinha de comer algo.

De repente, ele viu bem longe entre as árvores algo incrível.

Era o final do arco-íris, grande e brilhante. Ele podia contar todas as sete cores e via até aquele tom depois do violeta que ninguém consegue falar direito que cor é. O amarelo que parecia clarear tudo enquanto o vermelho ainda deixava tudo com um ar mais bonito e misterioso. E entre as cores, tinha tantos tons diferentes, coisas que ele jamais havia visto. Dali onde estava via apenas parte do arco-íris. As árvores impediam que ele visse o mais importante.

– A chave dourada! – ele gritou e deixando a fome de lado,disparou para fora da casa, entrando na floresta.

Foi assim que ele entrou, sem saber, no País das Fadas.

Correu e correu, querendo descobrir se a tal chave existia de verdade. Mas como todos os meninos e suas pisadas pequenas,ele não tinha ido muito longe quando o sol finalmente se pôs.

Mas quem disse que o arco-íris foi embora com o calor do sol?

Nada. Ele apenas brilhou ainda mais intensamente. Isso porque o arco-íris do País das Fadas não depende do sol, como o nosso.

O menino, encantado, viu as árvores o receberam, reclinando-se levemente. Os arbustos abriram caminho para que ele passasse. O arco-íris, em vez de diminuir, a cada passo do nosso pequenino herói, ficava maior e mais brilhante.

Logo, o menino estava pertinho do seu desejo. Apenas duas árvores de distância o separavam daquelas cores luminosas.

Era uma vista grandiosa, raios queimando em silêncio, lindas,amáveis e delicadas. Todas as cores tão diferentes e, ao mesmo tempo, todas combinando. 

Agora ele podia ver isso, encantado,tão perto estava daquele mundaréu de cores. O arco-íris se erguia pelo céu azul, perdendo-se na altitude, brincando nas estrelas, mexendo com os sonhos de criança do menino. Ou seria também com os nossos?

Bom, o caso é que ele ficou observando aquela coisa linda por tanto tempo que até se esqueceu da chave que havia vindo procurar. Isso tudo por que enquanto ele estava parado, o arco-íris ficou ainda mais maravilhoso. Em cada uma das cores, que eram tão largas quanto pilares de igrejas, ele podia ver lindas formas que subiam lentamente, como se dentro do arco-íris tivesse várias escadas em espiral. As formas apareciam irregularmente – uma hora uma, outra várias, agora muitas, agora nenhuma. Eram homens, mulheres e crianças. Todos tão diferentes do menino e sua tia-avó. Eram todas tão lindas que o menino pensou estar sonhando.

Quando ele criou coragem e se aproximou do arco-íris,ele desapareceu. O garoto deu um passo para trás. Primeiro com desânimo, depois com assombro.