ACORRENTADAS

 

 

(UM MISTÉRIO DE RILEY PAIGE—LIVRO 2)

 

 

 

B L A K E   P I E R C E

 

 

Blake Pierce

 

Blake Pierce é autor da série de mistério de sucesso RILEY PAIGE que inclui os thrillers de suspense e mistério SEM PISTAS (livro #1), ACORRENTADAS (livro #2) e ONCE CRAVED (livro #3). Blake Pierce também é autor da série de mistério MACKENZIE WHITE.

isso, não deixe de visitar a página do autor em www.blakepierceauthor.com para saber mais e manter o contato.

 

Copyright© 2016 Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto como permitido sob o Copyright Act dos Estados Unidos de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou meios, ou armazenada numa base de dados ou sistema de recuperação sem a autorização prévia do autor. Este ebook está licenciado apenas para seu usufruto pessoal. Este ebook não pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se gostava de partilhar este ebook com outra pessoa, por favor compre uma cópia para cada recipiente. Se está a ler este livro e não o comprou ou não foi comprado apenas para seu uso, por favor devolva-o e compre a sua cópia. Obrigado por respeitar o trabalho árduo deste autor. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, locais, eventos e incidentes ou são o produto da imaginação do autor ou usados ficcionalmente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é uma coincidência. Jacket image Copyright GongTo, usado sob licença de Shutterstock.com.

 

 

LIVROS DE BLAKE PIERCE

 

SÉRIE DE MISTÉRIOS RILEY PAGE

SEM PISTAS (Livro 1)

ACORRENTADAS (Livro 2)

 

SÉRIE DE MISTÉRIOS MACKENZIE WHITE

ANTES QUE ELE MATE (Livro 1)

 

SÉRIE DE MISTÉRIOS AVERY BLACK

RAZÃO PARA MATAR (Livro 1)

 

 

ÍNDICE

 

PRÓLOGO

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 33

CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 36

CAPÍTULO 38

CAPÍTULO 39

CAPÍTULO 40

 

 

PRÓLOGO

 

O capitão Jimmy Cole tinha acabado de contar aos seus passageiros uma antiga história de fantasmas do rio Hudson. Era uma história das boas sobre um assassino com um machado e um casaco comprido e negro, perfeita para uma noite de nevoeiro como aquela. Reclinou-se na cadeira, repousando por um momento os frágeis joelhos e pensou na reforma pela milionésima vez. Conhecia o Hudson como a palma das suas mãos mas, mais dia, menos dia, até um pequeno barco de pesca como o Suzy se tornaria numa responsabilidade demasiado grande para ele.

Terminada a faina naquela noite, manobrou a embarcação rumo a terra e, ao encaminhar-se firmemente para o cais de Reedsport, um dos passageiros chamou-o, arrancando-o aos seus devaneios.

“Ei, Capitão – aquilo ali não é o seu fantasma?”

Jimmy nem se deu ao trabalho de olhar. Os seus quatro passageiros – dois jovens casais de férias – estavam a cair de bêbedos. Não havia a mínima dúvida de que um dos homens estava apenas a tentar assustar as mulheres.

Mas então uma das mulheres acrescentou: “Também estou a ver. Não é estranho?”

Jimmy voltou-se para os seus passageiros. Raios partam os bêbedos. Era a última vez que trabalhava àquela hora da noite.

E então, o outro homem apontou.

“Está ali,” Disse.

A mulher tapou os olhos.

“Oh, nem consigo olhar!” Exclamou com um riso nervoso e constrangido.

Jimmy, exasperado e percebendo que não lhe iam dar descanso, virou-se finalmente e olhou para onde o homem estava a apontar.

Algo lhe chamou realmente a atenção num espaço entre as árvores que se avistavam na orla do rio. Reluzia e tinha uma forma vagamente humana. Fosse o que fosse, parecia flutuar acima do chão. Mas estava muito longe para se ver com nitidez.

Antes de Jimmy ter tempo de agarrar nos binóculos, o objeto desapareceu atrás das árvores na margem.

A verdade era que Jimmy também tinha bebido algumas cervejas, embora tal não constituísse um problema para ele. Conhecia bem o rio. E gostava do que fazia. Gostava especialmente de estar no Hudson àquela hora da noite quando as águas estavam calmas e pacíficas. Poucas coisas naquele local podiam abalar a sua tranquilidade.

Abrandou e manobrou o Suzy cuidadosamente de encontro aos protetores do cais. Orgulhoso da acostagem suave, desligou o motor e amarrou o barco ao cais.

Os passageiros saíram do barco aos trambolhões e a rir destemperadamente. Cambalearam do cais para terra firme e dirigiram-se para o Bed & Breakfast em que estavam hospedados. Jimmy estava contente por terem pago adiantado.

Mas não conseguia parar de pensar no objeto estranho que detetara. Estava bem para lá da linha da costa e não era possível vê-lo de onde se encontrava. Quem ou o que seria?

Incomodado, sabia que não ia sossegar enquanto não desvendasse aquele mistério. Ele era assim mesmo.

Jimmy suspirou audivelmente, aborrecido, e começou a caminhar pela margem do rio, seguindo a linha de comboio que bordejava as águas do rio. Aquela linha estivera ativa há cem anos atrás, na altura em que Reedsport era essencialmente constituída por bordéis e casas de jogo. Agora, era apenas mais uma relíquia de uma era passada.

Jimmy conseguiu finalmente contornar uma curva, aproximando-se de um velho armazém próximo da linha. Emanava uma luz difusa do edifício, mas ainda assim suficiente para conseguir ver uma luminosa forma humana que parecia flutuar ao vento. A forma estava suspensa de uma das traves de um poste de energia.

Quando se aproximou, viu com nitidez algo que lhe provocou um calafrio. A forma era de facto humana, apesar de não dar mostras de qualquer sinal de vida. O corpo estava de costas para ele, envolto num qualquer tipo de tecido e completamente embrulhado em pesadas correntes que cintilavam à luz.

Oh, meu Deus, outra vez não.

Jimmy não conseguiu evitar lembrar-se de um crime macabro que abalara a região há alguns anos atrás.

Jimmy dirigiu-se ao outro lado do corpo sentindo os frágeis joelhos a vacilar. Aproximou-se o suficiente para conseguir ver o rosto de quem ali estava pendurado e quando o contemplou, quase caiu na linha em estado de choque. Reconheceu-a. Era uma mulher que vivia na cidade, uma enfermeira, uma amiga de longa data. A garganta estava cortada e a boca aberta sem vida estava amordaçada por uma corrente que envolvia a cabeça.

Jimmy arquejou de dor perante aquele horror.

O assassino estava de volta.

 

 

CAPÍTULO 1

 

A Agente Especial Riley Page estacou, observando a cena em estado de choque. A mão cheia de pedras na sua cama não deveria ali estar. Alguém tinha arrombado a sua casa e tinha-os colocado ali. Alguém que lhe queria fazer mal.

Compreendeu de imediato que as pedras eram uma mensagem e que o portador da mensagem era um velho inimigo. Dizia-lhe que, afinal, ela não o tinha morto.

O Peterson está vivo.

O mero pensamento provocou-lhe um tremor que percorreu todo o seu corpo.

Há muito que suspeitava dessa possibilidade e agora tinha a certeza absoluta. Pior, ele tinha estado dentro da sua casa. A simples ideia nauseava-a a ponto de lhe apetecer vomitar. Ainda estaria ali?

Agora respirava com dificuldade, dominada pelo medo. Riley sabia que os seus recursos físicos eram limitados. Precisamente naquele dia, tinha sobrevivido a um perigoso confronto com um assassino sádico, e ainda tinha a cabeça ligada e o corpo repleto de hematomas. Estaria preparada para o enfrentar se ele estivesse dentro da sua casa?

Riley retirou imediatamente a arma do coldre. Com as mãos a tremer, dirigiu-se ao roupeiro e abriu-o. Ninguém estava ali. Confirmou debaixo da cama. Ali também não estava ninguém.

Riley parou e forçou-se a pensar com clareza. Tinha estado no quarto desde que tinha chegado a casa? Sim, porque tinha colocado o coldre por cima do armário ao lado da porta. Mas não tinha ligado a luz e não tinha olhado para o interior. Tinha-se circunscrito ao umbral da porta e a colocar a arma em cima do armário antes de sair. Tinha vestido o pijama na casa de banho.

Teria o seu inimigo estado na casa todo aquele tempo? Depois de chegarem a casa, ela e April tinham conversado e visto televisão até tarde. Depois April fora para a cama. Só alguém muito furtivo e ardiloso conseguiria ficar escondido numa casa minúscula como a dela. Mas era uma possibilidade que ela não podia descartar.

E então um novo medo se apoderou dela.

April!

Riley agarrou na lanterna que guardava na mesa-de-cabeceira. Com a arma em riste na mão direita e a lanterna na mão esquerda, saiu do quarto e ligou a luz do corredor. A casa parecia adormecida. Dirigiu-se rapidamente ao quarto de April e escancarou a porta. O quarto estava mergulhado em escuridão. Riley ligou a luz do teto.

A filha estava na cama.

“O que foi, Mãe?” Perguntou April, semicerrando os olhos surpreendida.

Riley entrou no quarto.

“Não saias da cama,” Disse. “Fica sossegada onde estás.”

“Estás-me a assustar,” Disse April com a voz a tremer.

Não havia problema. Também ela estava com muito medo e a filha tinha todas as razões para sentir medo como ela. Dirigiu-se ao roupeiro de April, apontou a lanterna para o seu interior e viu que ninguém se encontrava lá dentro. Também não havia ninguém debaixo da cama da April.

O que fazer de seguida? Tinha que percorrer cada canto e recanto da casa.

Riley sabia o que o seu parceiro Bill Jeffreys teria dito.

Raios Riley, pede ajuda.

A sua tendência de longa data de fazer tudo sozinha, sempre tinha enfurecido o Bill. Só que desta vez ia seguir o seu conselho. Com a April em casa, Riley não ia correr riscos.

“Veste um robe e calça-te,” Disse à filha. “Mas ainda não saias do quarto.”

Riley voltou ao seu quarto e pegou no telefone, pousado em cima da mesa-de-cabeceira. Pressionou a ligação automática para falar com a Unidade de Análise Comportamental. Mal ouviu uma voz do outro lado, sussurrou, “Daqui fala Agente Especial Riley Page. Alguém entrou na minha casa e ainda pode estar cá. Preciso que alguém cá venha rapidamente.” Pensou durante um segundo e depois acrescentou, “E enviem uma equipa de análise de provas.”

“Vamos já para aí,” Responderam do outro lado da linha.

Riley desligou a chamada e regressou ao corredor. Com exceção dos dois quartos e do corredor, a casa continuava mergulhada na escuridão. Ele podia estar em qualquer lugar, à espreita, à espera de desferir um ataque. Este homem já a tinha apanhado desprevenida uma vez e quase tinha morrido às suas mãos.

Riley moveu-se sorrateiramente pela casa, ligando as luzes à medida que avançava com a arma pronta para qualquer eventualidade. Apontou a lanterna para o interior de todos os roupeiros e para todos os cantos penumbrosos.

Finalmente, olhou para o teto do corredor. A portinhola acima dela conduzia ao sótão, escondendo uma escada de puxar nas suas entranhas. Atrever-se-ia a subir lá acima e espreitar?

Naquele preciso momento, Riley ouviu as sirenes da polícia. Soltou um profundo suspiro de alívio ao ouvir aquele som. Apercebeu-se que a agência tinha chamado a polícia local, considerando a distância de mais de meia hora da sede da UAC.

Dirigiu-se ao seu quarto, calçou uns sapatos e vestiu um roupão de banho, regressando depois ao quarto de April.

“Vem comigo,” Disse. “Fica perto de mim.”

Ainda segurando na arma, Riley envolveu com o seu braço esquerdo os ombros de April. A pobre criança tremia de medo. Riley levou April para a porta de entrada, abrindo-a ao mesmo tempo que vários polícias de uniforme se apressavam em direção à casa.

O polícia responsável aproximou-se da casa com a arma em riste.

“Qual é o problema?” Perguntou.

“Alguém esteve na minha casa,” Respondeu Riley. “Ainda pode lá estar.”

O polícia contemplou, inquieto, a arma que Riley empunhava.

“Sou do FBI,” Tranquilizou-o Riley. “Os agentes da UAC devem estar a chegar. Já revistei a casa, exceto o sótão.” Disse, apontando na sua direção. “Há uma porta no teto por cima do corredor.”

O polícia chamou, “Bowers, Wright, venham cá e revistem o sótão. Os outros revistam lá fora, atrás e à frente da casa.”

Bowers e Wright foram diretamente para o corredor e puxaram a escada para subirem até ao sótão. Ambos empunhavam as suas armas. Um esperou no fundo da escada, enquanto o outro subia e apontava uma lanterna em todas as direções. Dali a momentos, o homem desapareceu no interior do sótão.

E logo depois uma voz ressoou, anuncinado, “Não está aqui ninguém.”

Riley queria sentir-se aliviada. Mas a verdade era que desejava que Peterson estivesse ali em cima. Seria preso ali naquele momento, ou ainda melhor, alvejado, morto. E tinha a certeza de que não estaria nem atrás, nem à frente da casa.

“Tem uma cave?” Perguntou o polícia responsável.

“Não, só uma pequena arrecadação,” Respondeu Riley.

O polícia vociferou lá para fora, “Benson, Pratt, vejam debaixo da casa.”

April ainda estava desesperadamente agarrada à mãe.

“O que é que se passa, Mãe?” Perguntou.

Riley hesitou. Durante anos, evitara contar a April a verdade crua do seu trabalho. Contudo, recentemente compreendera que tinha sido excessivamente protetora. Então, contara a April o traumático cativeiro sofrido às mãos de Peterson, ou pelo menos, o que considerou suportável para ela. Também partilhara com ela as dúvidas quanto à morte do homem.

Mas o que diria agora a April? Não sabia ao certo.

Antes de Riley se decidir, April disse, “É o Peterson, não é?”

Riley abraçou a filha com força. Anuiu, tentando esconder o arrepio que lhe trespassou o corpo.

“Ele ainda está vivo.”

 

 

CAPÍTULO 2

 

Uma hora mais tarde, a casa de Riley estava repleta de pessoas de uniforme e agentes do FBI. Agentes federais armados até aos dentes e uma equipa de análise de provas estavam a trabalhar com a polícia.

“Embala essas pedras na cama,” Ordenou Craig Huang. “Têm que ser examinados para se detetarem impressões digitais ou ADN.”

Inicialmente, Riley não ficara muito satisfeita por ver que Huang era o agente encarregue de analisar o sucedido em sua casa. Ele era muito jovem e a anterior experiência de trabalho com ele não tinha corrido da melhor forma. Mas agora via que dava ordens sólidas e organizava a cena de forma eficiente. Huang estava a amadurecer.

A equipa de análise de provas já estava a trabalhar, percorrendo cada recanto da casa à procura de impressões digitais. Outros agentes tinham desaparecido na escuridão atrás da casa, tentando detetar marcas de veículos ou algum rasto na floresta. Agora que tudo parecia orientado, Huang levou Riley até à cozinha. Sentaram-se à mesa e April juntou-se a eles, ainda combalida.

“O que achas?” Perguntou Huang a Riley. “Há alguma hipótese de ainda o encontrarmos?”

Riley suspirou, desanimada.

“Não, temo que já não seja possível. Deve ter estado aqui no início da noite, antes de eu e a minha filha chegarmos a casa.”

Naquele preciso momento, uma agente envergando um fato Kevlar, surgiu vinda das traseiras da casa. Tinha cabelo escuro, olhos negros, tez morena e aparentava ser ainda mais nova do que Huang.

“Agente Huang, descobri uma coisa,” Anunciou. “Arranhões na fechadura da porta das traseiras. Parece que alguém a abriu.”

“Bom trabalho, Vargas,” Disse Huang. “Agora sabemos como entrou. Pode ficar com a Riley e a filha por um momento?”

O rosto da jovem mulher acendeu-se de satisfação.

“Claro que sim,” Respondeu.

Sentou-se à mesa e Huang saiu da cozinha para se juntar aos outros.

“Agente Paige, sou a Agente María de la Luz Vargas Ramírez.” Depois, disse sorrindo. “Eu sei, é um bocado complicado. É uma característica Mexicana. Tratam-me por Lucy Vargas.”

“Estou contente por estar aqui, Agente Vargas,” Transmitiu-lhe Riley.

“Trate-me só por Lucy.”

A jovem mulher permaneceu silenciosa durante algum tempo, limitando-se a olhar para Riley. Por fim, disse, “Agente Paige, espero não estar a pisar o risco ao dizer isto, mas… É um verdadeiro prazer conhecê-la. Sigo o seu trabalho desde que comecei o curso. Tudo o que fez é simplesmente incrível.”

“Obrigada,” Agradeceu Riley.

Lucy sorriu com admiração. “Quero dizer, a forma como resolveu o caso Peterson – toda a história é surpreendente.”

Riley abanou a cabeça.

“Quem me dera que as coisas fossem assim tão simples,” Declarou. “Ele não está morto. Foi ele quem entrou hoje na minha casa.”

Lucy fitou-a, atordoada.

“Mas toda a gente diz…” Começou Lucy.

Riley interrompeu-a.

“Mais alguém pensava que ele estava vivo. Marie, a mulher que salvei. Ela tinha a certeza que ele ainda andava por aí a provocá-la. Ela…”

De súbito, Riley parou, recordando dolorosamente o corpo de Marie pendurado no seu próprio quarto.

“Ela suicidou-se,” Rematou Riley.

Lucy parecia horrorizada e surpreendida em simultâneo. “Lamento,” Disse.

Naquele momento, Riley ouviu uma voz familiar dirigir-se a ela.

“Riley? Estás bem?”

Virou-se e viu Bill Jeffreys de pé na soleira da porta da cozinha, com um ar ansioso. A UAC devia tê-lo alertado sobre o sucedido e fora até lá por sua conta e risco.

“Estou bem, Bill,” Respondeu. “E a April também. Senta-te.”

Bill sentou-a à mesa com Riley, April e Lucy. Lucy fitava-o, aparentemente deslumbrada por conhecer o antigo parceiro de Riley, outra lenda do FBI.

Huang voltou à cozinha.

“Não está ninguém na casa ou fora dela,” Informou Riley. “O meu pessoal reuniu todas as provas que encontraram. Dizem que não é muito para se chegar a alguma conclusão. Terão que ser os técnicos do laboratório a determinar se é material sustentável ou não.”

“Já temia isso,” Sentenciou Riley.

“Parece-me que já terminámos por esta noite,” Disse Huang. E saiu da cozinha para dar as últimas ordens aos agentes.

Riley virou-se para a filha.

“April, esta noite vais ficar na casa do teu pai.”

Os olhos de April abriram-se muito.

“Não te vou deixar aqui,” Disse April. “E não quero ficar com o pai.”

“Tens que ficar,” Forçou Riley. “Aqui podes não estar segura.”

“Mas Mãe…”

Riley interrompeu-a. “April, há coisas que ainda não te contei sobre este homem. Coisas terríveis. Estás segura com o teu pai. Vou-te buscar amanhã depois das aulas.”

Antes de April protestar mais uma vez, Lucy falou.

“A tua mãe tem razão, April. Confia no que te digo. Aliás, encara-o como uma ordem minha. Vou escolher dois agentes para te levarem a casa do teu pai. Agente Paige, com sua autorização, posso ligar ao seu ex-marido e contar-lhe o que se passa.”

Riley ficou surpreendida com a oferta de Lucy. Mas também ficou satisfeita. De forma quase estranha, Lucy parecia compreender que aquela seria uma chamada estranha para ela realizar. O Ryan levaria aquelas notícias indubitavelmente mais a sério se transmitidas por qualquer outra pessoa que não Riley. Lucy também tinha lidado com April da melhor forma.

Lucy não só tinha detetado a fechadura forçada, como também tinha demonstrado empatia, uma excelente qualidade num agente da UAC muitas vezes ocultada pelo stress do trabalho.

Esta mulher é boa, Pensou Riley.

“Vamos lá,” Disse Lucy a April. “Vamos ligar ao teu pai.”

April olhou fixa e friamente para Riley. Ainda assim, levantou-se e seguiu Lucy até à sala de estar onde fizeram a chamada,

Riley e Bill ficaram sozinhos na mesa da cozinha. Apesar de parecer que nada mais havia a fazer, parecia correcto a Riley, Bill estar ali. Tinham trabalhado juntos durante vários anos e ela sempre os encarara como um par compatível – ambos estavam na casa dos quarenta com brancas a despontar do cabelo preto. Ambos eram dedicados aos seus trabalhos e ambos haviam tido casamentos problemáticos. O Bill era de constituição e temperamento sólidos.

“Era o Peterson,” Atirou Riley. “Ele esteve aqui.”

Bill não disse nada. Parecia não estar muito convencido.

“Não acreditas em mim?” Perguntou Riley. “Tinha pedras na minha cama. Ele deve tê-los colocado lá. Não podiam lá ter ido parar de outra forma.”

Bill abanou a cabeça.

“Riley, tenho a certeza que alguém entrou em tua casa,” Disse. “Não imaginaste isso. Mas o Peterson? Duvido muito.”

Riley começou a sentir invadir-se por uma onda de fúria crescente.

“Bill, ouve-me. Uma noite, ouvi ruídos à porta, olhei lá para fora e vi pedras. A Marie ouviu alguém a atirar pedras à janela do quarto. Quem mais podia ser?”

Bill suspirou e abanou a cabeça.

“Riley, estás cansada,” Afirmou. “ E quando estás cansada e tens uma ideia fixa na cabeça, é fácil acreditares em quase tudo. Pode acontecer a qualquer um.”

Riley tentou conter as lágrimas. Outrora, Bill teria confiado nos seus instintos sem sequer duvidar. Mas esse tempo já lá ia. E ela sabia porquê. Há algumas noites, ela tinha-lhe telefonado bêbeda e sugerira que tomassem medidas em relação à sua mútua atração, iniciando um caso. Tinha sido horrível e ela sabia-o, Não voltara a beber desde então. Mesmo assim, as coisas não se tinham endireitado entre ela e Bill desde então.

“Eu sei o que é que se passa, Bill,” Disse ela. “É por causa daquele estúpido telefonema. Já não confias em mim."

Agora a voz de Bill estalou de fúria.

“Raios, Riley, só estou a tentar ser realista.”

Riley não aguentou mais. “Vai-te embora, Bill.”

“Mas Riley…”

“Acredita em mim ou não acredites em mim. Escolhe. Mas neste momento, só quero que te vás embora.”

Resignado, Bill levantou-se e foi-se embora.

Pela soleira da porta da cozinha, Riley conseguia ver que quase todos tinham abandonado a casa, incluindo April. Lucy regressou à cozinha.

“O agente Huang vai deixar alguns agentes aqui,” Disse. “Vão vigiar a casa a partir de um carro durante a noite. Não me parece ser boa ideia que fique sozinha aqui dentro. Não me importo de ficar.”

Riley sentou-se e pensou por um momento. O que ela queria – o que ela precisava naquele exato instante – era que alguém acreditasse que o Peterson não estava morto. Duvidava até de conseguir convencer Lucy disso. Parecia um caso perdido.

“Eu fico bem, Lucy,” Disse Riley.

Lucy assentiu e saiu da cozinha. Riley ainda ouviu o som dos últimos agentes a sair da casa e a fechar a porta atrás deles. Riley levantou-se e confirmou se as portas de trás e da frente estavam trancadas. Colocou duas cadeiras encostadas à porta de trás. Se alguém tentasse arrombá-la, as cadeiras dariam sinal.

Depois dirigiu-se à sala de estar e olhou em seu redor. A casa parecia estranhamente luminosa com todas as luzes brilhando incandescentes.

Devia desligar algumas, Pensou.

Mas ao tentar alcançar o interruptor da sala de estar, os dedos congelaram. Não as conseguia desligar. Estava paralisada de terror.

Riley sabia que Peterson estava novamente no seu encalce.

 

 

CAPÍTULO 3

 

Riley hesitou por um momento ao entrar no edifício da UAC, não estava certa de estar preparada para encarar quem quer que fosse naquele dia. Não pregara olho a noite toda e estava exausta. A sensação de terror que a mantivera acordada a noite toda esgotara toda a sua adrenalina. Agora, apenas se sentia esvaziada.

Riley respirou fundo.

A única saída é enfrentar os medos.

Reuniu toda a sua determinação e caminhou na direção do labirinto buliçoso de agentes do FBI, especialistas e pessoal de apoio. Há medida que desbravava caminho, rostos familiares desviaram os olhares dos computadores na sua direção. A maioria sorriu por vê-la e vários dirigiram-lhe gestos de incentivo. Aos poucos, Riley sentiu-se feliz por se ter decidido entrar. Precisava de alguma coisa que a fizesse sentir-se melhor.

“Isso é que foi com o Dolly Killer,” Atirou um jovem agente.

Riley demorou alguns segundos a compreender a que é que ele se referia. Depois percebeu que “Dolly Killer” devia ser a alcunha de Dirk Monroe, o psicopata que tinha abatido. O nome fazia todo o sentido.

Riley também reparou que alguns dos rostos a encaravam de forma mais prudente. Não havia dúvidas de que tinham sabido do incidente ocorrido em sua casa a noite passada já que toda uma equipa tinha acorrido à sua chamada desesperada a solicitar apoio. Provavelmente pensam que não estou no meu juízo perfeito, Pensou. Tanto quanto sabia, mais ninguém no Bureau acreditava que o Peterson ainda pudesse estar vivo.

Riley parou junto à secretária de Sam Flores, um técnico de laboratório com óculos de aros pretos que trabalhava arduamente em frente ao computador.

“Que notícias tens para mim, Sam?” Perguntou Riley.

Sam desviou o olhar do monitor e ergueu-o para ela.

“Referes-te ao assalto a tua casa, certo? Estou agora mesmo a ver alguns relatórios preliminares. Não há muito por onde pegar. Os tipos do laboratório não conseguiram sacar nada das pedras. Nem ADN, nem fibras, nem impressões digitais.”

Riley suspirou, desalentada.

“Avisa-me se derem com alguma coisa,” Disse, dando uma palmadinha nas costas de Flores.

“Não contaria muito com isso,” Rematou Flores.

Riley permaneceu na área partilhada por agentes seniores. Quando passou junto aos gabinetes envidraçados, viu que Bill não estava lá. Na verdade, era um alívio, mas Riley também sabia que mais tarde ou mais cedo teria que esclarecer as recentes situações mal resolvidas entre eles.

Mal entrou no seu gabinete simples e bem organizado, Riley de imediato reparou que tinha uma mensagem no telefone. Era de Mike Devins, o psiquiatra forense de D.C. que por vezes consultava em casos da UAC. Há vários anos que ele lhe transmitia importantes perceções, não só relacionadas com os casos que Riley tinha em mãos. Mike também a ajudara a enfrentar as crises de Stress Pós-Traumático depois de Peterson a ter capturado e torturado. Riley sabia que ele estava a ligar para ver como ela estava, algo que fazia habitualmente.

Estava prestes a devolver-lhe a chamada quando a figura maciça do Agente Especial Brent Meredith surgiu na soleira da porta do seu gabinete. As feições negras e angulares do comandante da unidade sugeriam uma personalidade dura e inquebrantável. Riley ficou aliviada por vê-lo, tranquilizada, como sempre, pela sua presença.

“Bem-vinda, Agente Paige,” Disse.

Riley levantou-se para lhe apertar a mão. “Obrigado, Agente Meredith.”

“Ouvi dizer que teve outra pequena aventura a noite passada. Espero que esteja bem.”

“Estou bem, obrigado.”

Meredith fitou-a com sincera preocupação e Riley sabia que ele estava a avaliar a sua capacidade para retomar o trabalho.

“Vamos tomar um café?” Perguntou.

“Obrigado, mas tenho aqui uns ficheiros em que tenho que trabalhar. Fica para outra vez.”

Meredith assentiu e não disse mais nada. Riley sabia que ele estava à espera que ela falasse. Não havia dúvidas de que ele já sabia da sua crença de que Peterson tinha sido o intruso. Estava a dar-lhe uma oportunidade de dar a sua opinião. Mas ela tinha a certeza de que Meredith não estaria mais propenso do que os outros a acreditar na sua teoria sobre Peterson.

“Bem, é melhor eu ir andando,” Disse. “Quando quiser tomar um café ou almoçar, avise.”

“Assim farei.”

Meredith estacou e virou-se para Riley.

Lenta e cuidadosamente, disse, “Tenha cuidado, Agente Paige.”

Pareceu a Riley detetar um significado profundo naquelas palavras. Não há muito tempo, outro superior da agência tinha-a suspenso por subordinação. Tinha acabado por ser reintegrada, mas a sua posição ali dentro ainda parecia ser frágil. Reley pressentiu que Meredith lhe dava um aviso amigável. Não queria que ela cometesse um ato que a colocasse em xeque. E levantar poeira sobre Peterson, podia trazer problemas com aqueles que haviam dado o caso por encerrado.

Mal se encontrou sozinha, Riley procurou e retirou o grosso ficheiro do caso Peterson. Abriu-o em cima da secretária e percorreu-o, avivando a memória sobre as características do seu inimigo. Não encontrou nada que fosse muito útil.

A verdade era que o homem permanecia um enigma. Nem sequer havia qualquer registo da sua existência até Bill e Riley o terem apanhado. Peterson até podia nem ser o seu nome verdadeiro e tinham encontrado vários nomes próprios supostamente ligados a ele.

Ao folhear o ficheiro, Riley encontrou fotos das suas vítimas, mulheres que haviam sido encontradas em campas rasas. Todas apresentavam cicatrizes de queimaduras e a causa das mortes fora o estrangulamento. Riley estremeceu ao lembrar-se das mãos grandes e poderosas que a haviam apanhado e aprisionado como um animal.

Ninguém sabia ao certo quantas mulheres ele tinha assassinado. Ainda podia haver muitos corpos perdidos algures. E até Marie e Riley serem capturadas e terem sobrevivido para contar, ninguém sabia o quanto ele gostava de atormentar as mulheres no escuro com um maçarico de gás propano. E mais ninguém estava disposto a acreditar que Peterson ainda estava vivo.

Tudo isto estava a deitá-la abaixo. Riley era conhecida pela sua capacidade de entrar nas mentes dos assassinos – uma aptidão que por vezes a assustava. Ainda assim, nunca conseguira entrar na mente de Peterson. E mesmo agora, sentia que o compreendia menos do que nunca.

Riley nunca o encarou como um psicopata organizado. O facto de abandonar as vítimas em campas rasas, sugeria o contrário. Não era um perfeccionista. Ainda assim, era suficientemente meticuloso para não deixar pistas. O homem era um verdadeiro paradoxo.

Lembrou-se de algo que Marie lhe tinha dito pouco antes de se suicidar…

“Talvez ele seja como um fantasma, Riley. Talvez seja o que aconteceu quando rebentaste com ele. Mataste-lhe o corpo, mas não lhe mataste o mal.”

Ele não era um fantasma, Riley sabia que não. Ela tinha a certeza – mais do que nunca – de que ele andava à solta e que ela era o seu próximo alvo. É claro que, no que a ela dizia respeito, ele bem podia ser um fantasma. Para além dela, mais ninguém acreditava que ele existia.

“Onde estás tu, sacana?” Sussurrou.

Não sabia e não tinha forma de o saber. Estava completamente bloqueada. Não tinha escolha senão deixar as coisas como estavam por agora. Encerrou o ficheiro e colocou-o novamente no lugar.

Nessa altura, o telefone do gabinete tocou. Viu que a chamada provinha de uma linha partilhada por todos os agentes especiais. Era uma linha que a central telefónica da UAC utilizava para encaminhar chamadas destinadas aos agentes. A norma ditava que o agente que atendesse tal chamada em primeiro lugar, ficaria com o caso.

Riley olhou em redor para os outros gabinetes. Ninguém parecia estar disponível naquele momento. Os outros agentes estavam todos na pausa ou a trabalhar em casos no terreno. Riley atendeu o telefone.

“Agente Especial Riley Paige. Em que posso ajudar?”

A voz do outro lado da linha parecia preocupada.

“Agente Paige, fala Raymond Alford, Chefe da Polícia de Reedsport, Nova Iorque. Temos problemas por cá. Era possível falarmos por vídeo chamada? Talvez conseguisse explicar melhor. E tenho algumas fotos que deveria ver.”

Riley sentiu a sua curiosidade ser espicaçada. “Claro,” Disse e deu o seu contacto a Alford. Alguns momentos depois, já falava com ele olhos nos olhos. Era um homem esguio e careca aparentando já alguma idade. Naquele momento, apresentava uma expressão ansiosa e cansada.

“Tivemos um homicídio aqui a noite passada,” Relatou Alford. “Uma coisa bastante feia. Deixe-me mostrar-lhe.”

Surgiu uma fotografia no ecrã de Riley. Mostrava o que aparentava ser o corpo de uma mulher pendurado de uma corrente sobre uma linha de comboio. O corpo estava envolto num amontoado de correntes e parecia estar vestido de forma estranha.

“O que é que a vítima tem vestido?” Perguntou Riley.

“Um colete-de-forças,” Respondeu Alford.

Riley ficou sobressaltada. Olhando para a foto com mais atenção, conseguia ver que assim era. Depois a imagem desapareceu e Riley deu por si a olhar novamente para Alford.

“Chefe Alford, compreendo a sua preocupação. Mas o que é que o leva a pensar que este caso é apropriado para a Unidade de Análise Comportamental?”

“Porque a mesma coisa aconteceu muito perto daqui há cinco anos atrás,” Respondeu Alford.

Uma imagem com outro corpo de mulher apareceu no ecrã. Também ela estava toda acorrentada e presa por um colete-de-forças.

“Naquela altura foi uma funcionária prisional em part-time, Marla Blainey. O MO foi idêntico, mas em vez de ser pendurada, foi atirada para a margem do rio.”

O rosto de Alford voltou a aparecer.

“Desta vez a vítima foi Rosemary Pickens, uma enfermeira da cidade,” Informou. “Não ocorre um motivo a ninguém, para nenhuma das mulheres. Ambas eram pessoas queridas.”

Alford afundou-se na cadeira e abanou a cabeça.

“Agente Paige, eu e o meu pessoal estamos a apalpar terreno para nós desconhecido. Esta nova morte tem que se enquadrar numa série ou numa cópia. O problema é que nenhuma dessas hipóteses faz sentido. Não costumamos ter esse tipo de problema em Reedsport. Esta é apenas uma pequena cidade turística junto ao rio Hudson com uma população de cerca de sete mil habitantes. Por vezes temos que intervir numa escaramuça ou pescar um turista do rio. E isso é tudo o que de mais negativo se passa por aqui.”

Riley pensou naquilo. Parecia mesmo um caso para a UAC. Ela devia encaminhar Alford diretamente para Meredith.

Mas Riley relanceou o gabinete de Meredith e viu que ainda não tinha regressado. Podia falar com ele sobre o assunto mais tarde. Entretanto, talvez pudesse ajudar um pouco.

“Quais as causas das mortes?” Perguntou.

“Gargantas cortadas, ambas.”

Riley tentou não mostrar a sua surpresa. O estrangulamento e golpe grosseiro eram mais comuns do que o corte.

Parecia ser um assassino muito invulgar. Ainda assim, era o tipo de psicopata que Riley conhecia bem. Especializara-se exatamente em casos como aquele. Seria uma pena não poder aplicar os seus conhecimentos àquele caso. À luz do seu trauma recente, não lhe atribuiriam o caso.

“Já desceram o corpo?” Perguntou Riley.

“Ainda não,” Respondeu Alford. “Ainda está aqui pendurada.”

“Então não desçam. Deixem-no aí por agora. Esperem até os nossos agentes chegarem.”

Alford não pareceu agradado.

“Agente Paige, isso vai ser difícil. Está mesmo ao lado das linhas de comboio e pode ser visto do rio. E a cidade não precisa deste tipo de publicidade. A pressão para o descer é imensa.”

“Deixe-o,” Disse Riley. “Sei que não é fácil, mas é importante. Não vai demorar muito tempo. Teremos agentes aí ainda esta tarde.”

Alford assentiu, concordado em silêncio.

“Tem mais fotos da última vítima?” Perguntou Riley. “Imagens mais detalhadas?”

“Claro, vou mostrar-lhas.”

Riley observou uma série de fotos pormenorizadas do corpo. Os polícias locais tinham feito um bom trabalho. As fotos mostravam quão apertadas e elaboradamente envoltas no corpo estavam as correntes.

Finalmente, surgiu uma imagem aproximada do rosto da vítima.

Riley sentiu um sobressalto no coração. Os olhos da vítima estavam inchados e a boca estava amordaçada com uma corrente. Mas não foi isso que chocou Riley.

A mulher era muito parecida com Marie. Era mais velha e mais pesada, mas ainda assim, Marie ficaria muito parecida com aquela mulher se tivesse vivido mais uma década. Aquela imagem fora um soco no estômago de Riley. Era como se Marie lhe estivesse a pedir ajuda, a exigir que ela apanhasse aquele assassino.

Sabia que tinha que ficar com aquele caso.

 

 

CAPÍTULO 4

 

Peterson circulava, nem muito devagar, nem muito depressa, sentindo-se bem por ter a rapariga novamente debaixo de olho. Tinha-a finalmente encontrado. Ali estava ela, a filha de Riley, sozinha, a ir para a escola, sem lhe passar pela cabeça que ele a perseguia, sem lhe passar pela cabeça que ele estava prestes a matá-la.

Enquanto a observava, ela parou repentinamente e virou-se, como se pressentisse que estava a ser vigiada. Estacou e ali ficou, indecisa. Alguns estudantes passaram por ela e entraram no edifício.

Peterson encostou o carro na berma, esperando pelo seu próximo passo.

Não que a rapariga lhe interessasse particularmente. A mãe é que era o verdadeiro alvo da sua vingança. A mãe que o havia contrariado de forma inominável e que tinha que pagar por isso. De certa forma, já tinha pago, afinal, ele levara Marie Sayles a suicidar-se. Mas agora chegara a altura de lhe arrancar dos braços a pessoa mais importante da sua vida.

Para seu contentamento, a rapariga começou a voltar para trás e a afastar-se da escola. Aparentemente, decidira hoje não ir às aulas. O seu coração bateu com mais intensidade – ele queria atacar. Mas não podia. Ainda não. Tinha que ser paciente. Havia outras pessoas na rua.

Peterson arrancou e circulou no espaço de um quarteirão, forçando-se a ser paciente. Reprimiu um sorriso, antevendo a alegria iminente. Com aquilo que reservara para a sua filha, Riley ia sofrer de uma forma inimaginável. Apesar de ainda ser desengonçada e estranha, a miúda era muito parecida com a mãe. E isso só tornava tudo ainda mais agradável.

Enquanto conduzia, reparou que a miúda caminhava vigorosamente. Parou na curva e observou-a durante alguns momentos até se aperceber que se encaminhava para fora da cidade. Se ia para casa sozinha, então este poderia ser o momento ideal para levar o seu plano avante.

Com o coração a bater descompassadamente, querendo saborear a antecipação, Peterson conduziu mais um quarteirão.