Editado por Harlequin Ibérica.
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28001 Madrid
© 2007 Christina Hollis
© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
A amante do conde, n.º 1055 - maio 2017
Título original: Count Giovanni’s Virgin
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-9664-2
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Se gostou deste livro…
Katie esperara que a Toscana fosse quente e poeirenta. Não que fosse tão bonita e cheirasse tão bem devido ao cheiro das plantas que cresciam sob o céu azul.
– Espera-se que comece a trabalhar imediatamente, menina Carter. O senhor Amato raramente faz excepções com ninguém. Muito menos com uma decoradora! – o roliço Eduardo inclinou-se para a frente e bateu no vidro que os separava do motorista. Deu-lhe uma ordem breve em italiano e voltou a recostar-se no banco de couro. – O senhor Amato tem de passar à tardinha pelo seu escritório da cidade e esta noite irá a um jantar oferecido por uma delegação australiana. O seu dia está cheio ao segundo. Como o seu braço direito em Villa Antico, devo certificar-me de que estamos lá à hora certa.
– Lamento que tenham cancelado o meu voo. Devia ter chegado ontem – agarrou com força na mala.
Aquele trabalho era um sonho para ela. Giovanni Amato tinha fama de ser um multimilionário muito solitário. Quando graças à recomendação pessoal da marquesa de São Marcos conseguira o trabalho de decorar a casa no norte de Florença, não fora capaz de acreditar. Previra tudo até ao mínimo detalhe. Certificara-se de que passava a noite em Milão para estar fresca quando se encontrassem de manhã. Depois todos os seus planos se desmoronaram como um castelo de cartas. Em vez de chegar fresca, tranquila e sossegada, Katie estava cansada depois de passar a noite no aeroporto. Suavam-lhe as palmas das mãos e o seu coração estava acelerado. Não era assim que pensava que devia chegar no seu primeiro dia no paraíso.
Trabalhar num lugar como aquele não seria difícil, pensou enquanto atravessavam os campos verdes salpicados de pequenas villas de tijolo e de pedra. De repente, a limusina virou e parou à frente de umas portas enormes de ferro. O condutor abriu a janela e manipulou o sistema de segurança. As portas abriram-se obedientemente e o carro percorreu uma longa avenida de tílias. Katie sentiu falta de ar ao ver a villa toscana clássica que apareceu à frente dela. Era só um pouco mais pequena do que o castelo de Windsor.
Um jovem com um fato Armani saiu da casa assim que apareceu o carro. Abriu a porta de Katie antes de o veículo parar, acabando com a temperatura proporcionada pelo ar condicionado. O calor envolveu Katie como uma manta térmica.
– Meu Deus, que tempo tão bom – começou a dizer ela, mas o pessoal de Antico não estava ali para conversar com ela.
– O senhor Amato encontrar-se-á consigo no escritório branco, menina Carter – informou o mordomo e, depois, dirigiu-se a Eduardo. – Estão atrasados.
– Mostre-me o caminho e irei a correr – declarou Katie.
Giovanni Amato estava de pé de costas para a porta. As janelas que chegavam desde o chão até ao tecto naquele escritório com ar de catedral permitiam ver a sua figura alta e musculada. Desde esse primeiro instante, Katie soube que ele seria uma força contra a qual teria de lutar. Amato fez-lhe um gesto com a mão quando entrou na sala e, depois, continuou a falar em italiano pelo telefone minúsculo que tinha na mão. Katie teve de esperar até ele parar de falar para ter uma primeira visão completa dele.
– Espero não o ter incomodado, senhor Amato – replicou, quando ele se virou.
Tinha um rosto que podia assustar os homens, mas ao qual as mulheres não resistiriam. Um olhar daqueles olhos cinzentos e intensos e estaria perdida. Por um instante, pareceu que carregava sobre os seus ombros o peso do mundo, mas sorriu imediatamente.
– Nem pensar. É a menina Carter, suponho. Estou agradavelmente surpreendido por a conhecer. Os empreiteiros que Mima costuma enviar-me costumam ser napolitanos rudes – declarou num inglês perfeito, enquanto passava uma mão pelo cabelo com um gesto que deixava ver os seus músculos poderosos por baixo da camisa. Depois, com elegância, olhou para o Rolex que tinha no pulso. – Tinham-me dito que chegaria atrasada, mas são apenas cinco minutos, isso não é nada – voltou a sorrir com um ar ligeiramente diabólico. – Algumas vezes o meu pessoal preocupa-se demasiado, mas não vou criticar. Quando trabalham bem, os meus dias decorrem lindamente. É tudo o que peço.
Katie ficou sem palavras. Era absolutamente encantador e o seu tratamento simples continuou enquanto dava a volta à sua mesa de trabalho e se dirigia para ela.
– Uma mesa é uma barreira entre as pessoas, não lhe parece? – pegou numa chávena de porcelana chinesa que havia atrás dele, provou o conteúdo e franziu o sobrolho. – O cappuccino frio mantém toda a cafeína, mas nada do sabor. Desculpe-me enquanto peço outro.
Katie observou o escritório espaçoso enquanto ele telefonava para a cozinha. O esplendor esvaído de Villa Antico era evidente naquela sala. Todo o equipamento de trabalho de última tecnologia de Amato ficara no meio de uma sala cheia de pinturas esquartejadas e tapetes puídos.
– Más notícias da cozinha, lamento muito, menina Carter. Supostamente, tenho de ir para Milão daqui a dez minutos e o meu assistente pessoal super eficiente sugere que não me entretenha com o café – ele riu-se, abanando a cabeça.
– Eh… sim… está bem – balbuciou Katie. Aquele homem era tão sério como bonito e era evidente que havia um tempo limitado de audiência. – Bom, sou Katie Carter…
– Eu sei. Vem com as melhores recomendações possíveis da minha amiga a marquesa de São Marcos. Não sei o que ela lhe terá contado, mas herdei este lugar do meu pai há algum tempo. Quando estava habitado deixou que se estragasse até à condição penosa em que pode vê-lo agora, mas decidi que é o momento de devolver o esplendor a Villa Antico. Quero restaurá-la e devolver-lhe o esplendor do passado, portanto é melhor livrar-se dos restos da sua ocupação recente. Como não tenho tempo para o fazer sozinho, preciso de uma especialista. Todo o meu pessoal trabalha ao mais alto nível. Espera-se a mesma atitude dos empreiteiros – perdeu o fio à meada por um instante e, depois, fez um ar divertido. – Sabe que acabei de perceber que em certo modo a invejo, menina Carter? Aqui está, uma mulher de sucesso. Mima contou-me como chegou até onde está à base de luta. Só depende de si própria. Pergunto-me até onde a Amato Internacional teria chegado se tivesse começado do zero. A lealdade à família e à tradição são as minhas forças e não há dúvida de que tenho o instinto assassino suficiente para proteger a velha empresa, mas pergunto-me quais serão as qualidades necessárias para começar do nada – olhou para ela fixamente com um sorriso, mas voltou a ficar sério. – A questão é que preciso de um lugar para onde me retirar da vida pública. Não tenciono divertir-me aqui, isso é para o meu iate ou para o meu apartamento da cidade, mas quando Mima me visitou, disse-me maravilhas do seu trabalho na Villa Adriática e pareceu-lhe boa ideia que a menina se encarregasse deste velho lugar. Nunca entristeci uma mulher e não ia começar com Mima, portanto aceitei e é por isso que está aqui – estendeu as mãos num gesto de boas-vindas.
Katie não disse nada. Sabia que os clientes tinham sempre opiniões sólidas sobre o que queriam. Esperava que um homem de negócios como ele tivesse uma longa lista de exigências. Esperou que lhas explicasse, mas não disse nada, continuou a sorrir. Teria os olhos mais bonitos do mundo, pensou, se não fosse por uma coisa. Eram cinzentos e profundos, de pestanas longas e perfeitas, mas havia uma sombra de algo. O que era?, perguntava-se. Dor? Receio? A forma como se mexera quando mencionara o seu pai escondia algum tipo de desavença no seu passado. Havia segredos por trás daquela eficácia calma vestida de marca. Katie conseguia senti-lo.
A sua conversa foi interrompida pela chegada de Eduardo com o recado de que era hora de se irem embora. Giovanni afastou-se da mesa, tirou um casaco de um armário e pô-lo pelos ombros.
– Tenho de ir a Milão, menina Carter. Conhece o edifício Amato? Servem os refrigerantes mais deliciosos – virou-se para o seu assistente. – A menina e eu continuaremos a reunião durante o voo, Eduardo. Ao descer passaremos por uma das primeiras zonas que quero arranjar, menina Carter. Ninguém toca nela há pelo menos trinta anos, que eu saiba.
Segurou a porta aberta para que ela saísse e passaram do escritório para um labirinto de salas e corredores cobertos de painéis de madeira. Katie estava impressionada com o tamanho e o esplendor do lugar. Teria demorado uma vida a encontrar o caminho de saída. Reservara apenas um mês para estar ali. Ao fundo do corredor, Giovanni agarrou nas maçanetas polidas de uma porta. Quando a abriu, uma onda de ar quente atingiu-os. Cheirava a cera. Katie seguiu-o para o interior de uma sala enorme. Os raios de sol que entravam através das janelas altas caíam sobre o soalho antigo de madeira ao qual séculos de polimento tinham dado um brilho dourado.
– Quando tiver de voltar a encontrar este lugar saiba que se chama a galeria do fumo – explicou, respondendo à sua pergunta antes de ela a formular.
– Portanto, é fumador, senhor Amato.
– Não. O meu bisavô viu arquitectura interessante quando visitou Inglaterra há um século. Quando voltou, quis recrear algumas das lareiras do tipo das que vira lá. Infelizmente, não funcionavam bem e o fumo não saía.
Foi até uma grande lareira de mármore preto que havia num canto da sala. Apoiou um pé com cuidado no guarda-fogo e apontou para cima da lareira. Tinha uns painéis antigos de madeira com a árvore genealógica da família Amato. Estava decorada com brasões brilhantes e bandeiras antigas. Os nomes estavam escritos a ouro e ao lado de cada um deles havia um escudo ou uma bandeira com as cores da família.
Aquele homem tinha história. Katie perguntou-se qual seria. Olhou para ele e estava prestes a dizer algo, mas descobriu que Giovanni tinha um ar sombrio e cheio de dor. Imediatamente, voltou para o seu sorriso quente e habitual. Apesar disso, Katie sentiu-se alarmada. Voltou a olhar para os painéis para ver o que provocara aquela expressão.
Na árvore genealógica não havia nada. Tinha à frente dela um período enorme da história dos Amato. Seguiu uma das linhas até ao final e descobriu um nome dourado: Giovanni Francisco Salvatore Amato. Aquilo fez Katie chegar a uma conclusão. Aquele homem não tinha nem esposa nem descendência… ainda. Devia ser isso que o preocupava, pensou. Havia algumas vantagens de se nascer como alguém comum, como ela. Giovanni tinha de carregar sobre os seus ombros o fardo de continuar a linha familiar.
Não viajariam para a cidade num avião privado, no seu lugar, um helicóptero esperava por eles pronto para descolar. Depois de a ajudar a entrar, Giovanni sentou-se no lugar do piloto e carregou numa série de botões.
– Surpreende-me que os milionários se desloquem para fazer negócios em vez de fazer com que as pessoas venham vê-los – brincou Katie.
Ele não respondeu enquanto fazia com que o aparelho se elevasse suavemente. Uma vez no ar, fez com que desse uma volta por cima de Villa Antico.
– Há duas razões pelas quais faço isto, menina Carter – deu uma volta por cima dos telhados. Voava tão baixo que Katie pensou que conseguiria olhar para dentro das lareiras se não tivesse permanecido rígida no banco, tentando parecer tranquila. – A primeira razão é que por muito boa que seja a ligação por satélite, nada pode substituir um aperto de mãos. As pessoas querem conhecer-me pessoalmente. E quem sou eu para lhes negar esse prazer? – arqueando uma sobrancelha, lançou-lhe um olhar que lhe chegou directo ao coração. O efeito foi evidente, mas Katie sabia que tinha de o esconder. As mulheres deviam derreter-se assim que ele olhava para elas, mas ela nunca seguia o rebanho.
Levantou mais o helicóptero e seguiu para noroeste.
– O gemido significa que quer que reduza a velocidade, menina Carter? – com um sorriso de tranquilidade reviu e nivelou o aparelho. – Não se preocupe. Ainda não perdi nenhum passageiro.
Aliviada, Katie parou de se agarrar aos estofos.
– Disse que havia duas razões, senhor Amato.
– Oh, sim… – deu uma volta impossível e orientou o helicóptero para sobrevoar a avenida de tílias. – A segunda razão é que gosto de o fazer.
Katie sobrepôs-se ao medo de andar de helicóptero. Começou a olhar para o exterior. Perguntou-se o que a sua mãe teria pensado daquilo. A pequena Katie que odiava todo o tipo de alvoroço crescera e viajava no helicóptero privado de um multimilionário.
A sua admiração aumentou à medida que se aproximavam de Milão. Em vez dos ciprestes, os arranha-céus da cidade apareciam por cima de uma camada de nuvens finas.
– Vê isso? É o quartel geral da Amato Internacional – explicou Giovanni, apontando para um edifício.
Ao aproximar-se, Katie conseguiu ver um «H» branco no telhado. Nervosa, agarrou-se ao banco novamente enquanto Giovanni fazia descer o helicóptero.
– Começou como um negócio local há séculos – replicou, quando já estavam seguros em terra. – Depois, a minha família foi abordada por comerciantes que estavam à procura de investidores. As coisas cresceram depressa depois disso. No princípio do século passado, os fabricantes de carros tiveram de decidir como olear os seus motores. Os investidores tiveram de fazer algo parecido.
– A Amato Internacional decidiu apostar no petróleo? – perguntou Katie e ele respondeu com uma gargalhada.
A sua família devia ter sido tocada pela sorte um milhão de vezes ao longo das gerações, pensou Katie enquanto o seguia para o elevador. Perguntou-se se ele saberia. Apesar do seu aspecto afável, supôs que o senhor Amato manteria os seus pensamentos reais bastante escondidos.
Foram para a zona de escritórios dos executivos num elevador coberto de espelhos. Katie achava muito difícil saber para onde olhar… Bom, sabia exactamente para onde devia olhar, mas tentava resistir. Giovanni Amato reflectia-se em todos eles. Se ela olhasse para a frente, era impossível evitar o seu olhar agudo. A sua figura alta ladeava-a, uma real e outra reflectida. Olhar para cima também não permitia fugir da sua presença, mas não era tão perturbador.
Saíram do elevador para um tapete grosso até ao tornozelo. Katie calculou automaticamente o preço daquele luxo que chegava de parede a parede. Fazer algo do género fez com que se preocupasse. Se calhar o trabalho estava realmente a invadir toda a sua vida; começava a calcular o preço de tudo o que a rodeava. Vira por si própria que o trabalho e a vida familiar não eram algo que combinasse bem. O seu passado fizera-a decidir-se a levar uma vida tranquila. O trabalho era a chave. Podia agradar às pessoas fazendo algo que ela amava. Aquela era a sua receita para uma vida tranquila e estava a permitir-lhe obter o sucesso. Começara com um trabalho aos sábados numa loja de tecidos com catorze anos. Pensara nisso como uma forma de fugir algumas horas da sua casa, mas desde o primeiro dia encontrara-se no paraíso. Ela adorou as cores e as texturas. Com os seus veludos rubi e o chiffon, a loja de tecidos fora uma libertação do trabalho doméstico aborrecido. De lá, saíra para iniciar os seus estudos de decoradora de interiores que a levara até à universidade. Depois, montara o seu próprio negócio de consultoria. E ali estava, a trabalhar com algumas das pessoas mais ricas e influentes do mundo. Quase não podia acreditar na sorte que tivera!
Um privilégio assim tinha o seu preço. Katie tinha fama devido à sua discrição absoluta. Nunca contava nada. Vira e ouvira coisas que a teriam feito ganhar uma fortuna se as tivesse revelado à imprensa, porém, na opinião de Katie, o dinheiro não era tudo. Sabia o que era importante, nem mais nem menos. A sua fama crescera rapidamente. Conseguiria contratar um assistente para partilhar a carga de trabalho, embora continuasse a fazer sozinha a maior parte das coisas importantes. Vira o que se passava quando se envolvia demasiado com outras pessoas e não ia permitir que ninguém estragasse a sua vida.
A zona dos executivos era excessiva. Obras de arte moderna disputavam a atenção com as paredes pintadas de vermelho. Um dos lados da sala era todo de vidro. Como um ninho de águias, dava aos executivos da Amato Internacional uma vista impressionante sobre a cidade muito mais abaixo. Houve imensos olhares de confusão e sorrisos afectados enquanto Katie entrava no escritório junto de Giovanni. Instintivamente, tentava manter-se um ou dois passos atrás dele, tentando ser invisível. Não conseguiu nenhuma das duas coisas. Pondo uma mão protectora em cima do seu ombro, ele pô-la ao seu lado e dirigiu-se para o grupo de empregados de escritório lascivos e pançudos.
– Cavalheiros, a menina Carter é a responsável por uma empresa de contratação. Vai reformar a Villa Antico, portanto precisa de ter uma ideia dos meus gostos. Talvez eu tenha muitas capacidades, mas careço do tempo necessário para descobrir se a decoração é uma delas. Trouxe-a aqui para que os vejas, e a estes escritórios, como um exemplo do que não preciso na minha vida privada – todos responderam com uma gargalhada. – A menina Carter vai trabalhar comigo no próximo mês e precisa de ter uma ideia dos meus métodos e das minhas condições de trabalho – fez uma pausa. – Para poupar tempo, trouxe-a aqui para conhecer as secretárias.
Os executivos continuavam a sorrir e já pareciam menos ferozes. Enquanto acompanhava Giovanni, alegrou-se por ter vestido roupa de trabalho. O seu fato preto era quase de funeral, mas mesmo assim teve de aguentar uma sucessão de olhares de apreciação por parte dos executivos. Giovanni não partilhava esse tipo de afeições. Katie pensou que seria porque sabia o que era sentir-se admirado de forma evidente. Quando entraram numa sala contígua cheia de administrativas e secretárias, sentiu uma onda de nervosismo. Todas as mulheres presentes olharam para ele. Ele pareceu não notar e apresentou Katie de forma calma como a sua nova decoradora e, depois, foi-se embora para se juntar aos seus colegas. Deixou-a exposta a milhares de perguntas. Todas as raparigas estavam desesperadas por saber como era a Villa Antico por dentro. Algumas tinham ido a uma festa nos seus jardins no Verão anterior, mas nenhuma entrara lá dentro. Katie disse-lhes que só conhecia o escritório branco.
– Tem de nos contar como são os quartos, fá-lo-á? – perguntou a senhora Gabo, com um piscar de olho. Era uma mulher de cabelo grisalho com ar de matrona, o que não a impedira de participar do caos que se formou quando Giovanni se foi embora. – Todas as mulheres que aparecem nas revistas cor-de-rosa morrem por um convite para aquela casa, mas nenhuma parece ter tido muita sorte.
Felicia, uma rapariga magra que olhava através de uma cortina de extensões de cabelo loiro, assentiu e disse:
– Todas as solteiras da alta sociedade estão a tentar ser convidadas. Ouvi o meu chefe, Gido, a falar sobre isso. Todas querem ser apresentadas ao solteiro mais apetitoso do mundo. Parece que ele já está um pouco cansado. O problema é que há tão poucas mulheres de nível para escolher. É claro, um homem como ele não pode casar-se com quem quiser.
– Porquê? – perguntou Katie, entre gargalhadas devido à sua ingenuidade.
– Porque é conde! Embora não use o título quando está a trabalhar. A pessoa que se casar com o bonito Giovanni terá de ter título. Espero que escolha uma de nós em vez de, como disse um colunista de um jornal ao referir-se a uma das candidatas, uma mulher de um metro e cinquenta, olhos azuis, quarenta e cinco quilos e nada na cabeça.
– Escreveram algo do género num jornal? – perguntou Katie, quase num gemido. – Ninguém se queixou?
villaVilla
– O tempo que passei nos seus escritórios foi muito útil, senhor Amato. Apesar de ter notado que os seus executivos estavam um pouco impacientes.
– São boas pessoas, mas têm o cérebro nas calças quando estão perto de uma mulher bonita.
Katie corou devido ao elogio. Não houve acrobacias na viagem de regresso. Giovanni aterrou com precisão na zona indicada e, depois, deu a volta para a ajudar a sair. Daquela vez, Katie hesitou antes de aceitar a sua mão, mas ele só reparou no atraso. Agarrou-a pelo pulso e Katie sentiu um nó no estômago. Decidiu concentrar-se no trabalho.
– Esta viagem foi muito útil para conhecer os seus gostos no ambiente de trabalho, senhor Amato, mas o melhor foi poder falar com os seus empregados.
– E almoçar – indicou ele, com um piscar de olho. – Acho que as raparigas a levaram a almoçar a um dos melhores restaurantes de Milão.
Katie voltou a corar.
– Voltámos todas a horas, senhor. Pergunto-me se seria possível voltar aos escritórios de Milão e dar uma olhadela ao resto das suas instalações.
– Porque não vai directa à questão e me diz que gostaria de conseguir um contrato para renovar todas as minhas propriedades, menina Carter? – perguntou, com um sorriso enigmático. – É muito ambiciosa para alguém tão jovem, não é?
Katie corou outra vez, mas daquela vez manteve melhor a calma.
– Sim. Não posso negar que essa ideia está no fundo da minha mente, mas mais nada.
– Bem pensado, ter um olho no futuro é fundamental nos negócios – concordou, para alívio de Katie.
Atravessavam a zona de relva que separava o heliporto da casa quando ele parou para afrouxar a gravata e desabotoar alguns botões da camisa. Um indício insinuante de pêlos escuros apareceu sob a sua garganta e fez com que Katie se perguntasse o que mais é que a camisa austera esconderia. Surpreendida com um pensamento tão pouco usual nela, respirou fundo. Imediatamente, ouviu uma gargalhada suave e levantou o olhar.
– Menina Carter, corou de um modo tão casto como uma condessa. A marquesa de São Marcos não me disse que tinha sangue azul nas suas veias quando ma recomendou para este trabalho. Espero que não seja uma das suas parentes avaras a tentar a sua sorte.
Era uma conversa informal, mas mesmo assim afectou Katie. Não podia acreditar que alguém fosse capaz de fazer semelhante acusação de um modo tão brusco. Uma coisa era desprezar as caçadoras de fortunas e outra era insultar as suas trabalhadoras.
– Não sou a parente avara de ninguém! Consegui este trabalho pelos meus méritos próprios – respondeu, com firmeza.
– Espero que sim – redarguiu ele, com satisfação. – Não tenho tempo para a vigiar constantemente.
– Não o deixaria – declarou Katie, erguendo o queixo e olhando para ele nos olhos.
– Excelente! Fico contente por estarmos de acordo – afirmou ele, sem se alterar e com um gesto para que ela o seguisse, dirigiu-se a passos largos para a casa.