Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2009 Susanne James. Todos os direitos reservados.

AMOR EM ROMA, N.º 1285 - Maio 2012

Título original: The Boselli Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-687-0296-4

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

CAPÍTULO 1

– Porque é que não voltas para o hotel e te deitas, Coral? Hoje está muito calor – comentou Emily, olhando compassivamente para a amiga, enquanto percorriam as ruas da cidade sob um sol abrasador.

– Calor? Isto é um inferno – disse Coral, tirando o chapéu para limpar o suor da testa. – Devem estar mais de quarenta graus – suspirou. – Acho que vou apanhar um táxi para voltar… Ainda há muito para ver, Ellie?

– Na verdade não, mas gostaria de ver mais um lugar antes de acabar por hoje – respondeu Emily, dando uma olhadela ao relógio. – Estarei de volta antes das cinco. Assim, terei tempo para descansar e tomar banho antes de sairmos para jantar.

As duas amigas alojavam-se num pequeno hotel em Roma, situado no bairro de Trastevere. Emily estava a visitar hotéis e restaurantes para a agência de viagens para que trabalhava e era a primeira vez que viajava para o estrangeiro acompanhada. O namorado de Coral, Steve, tinha-a abandonado recentemente e Emily tinha-a convidado para ir com ela a Roma para se animar. «Uma mudança será boa para ti, Coral», dissera-lhe. Não precisara de muita persuasão para a convencer.

Emily sabia muito pouco italiano, mas estava decidida a fazer-se entender nos locais que devia investigar. Esperava que o povo italiano soubesse inglês, para se entender com o contínuo fluxo de turistas procedentes do Reino Unido.

Parou para comprar um gelado de cappuccino e começou a andar por uma rua sombria. Voltou a parar para lamber o gelado rapidamente, antes de se derreter e ser impossível degustá-lo, e continuou a andar com torpor. Talvez devesse voltar também para o hotel, mas tinha de visitar mais um restaurante antes de concluir o seu dia.

Perdeu-se na atmosfera quente e histórica da cidade eterna e perguntou-se se os seus pais teriam caminhado por aquela mesma rua em alguma das suas muitas viagens. Sentiu um nó doloroso na garganta ao pensar na mãe, que morrera há quatro anos, quando Emily tinha vinte e um anos. O seu pai, Hugh, seguira em frente sozinho, mas Emily sabia que não era nada fácil. Sempre tinham estado muito unidos e tinham sido uns pais maravilhosos para ela e para o seu irmão, Paul. Paul era apenas alguns anos mais velho do que ela, mas era muito maduro e judicioso, para além de ser um advogado implacável. Emily desejava que estivesse com ela naquele momento, para poder dar-lhe um abraço.

Estava tão absorta nas suas divagações que quase chocou com alguém que estava sentado na calçada, em frente de uma pequena loja de vidro e cerâmica. Estava recostado numa cadeira, com as suas pernas compridas estendidas e um chapéu de aba larga a cobrir-lhe o rosto. Devia estar a dormir, porque não fez o menor movimento para observar Emily enquanto ela parava para olhar para os expositores da entrada. Envergonhada por ter estado tão perto de tropeçar nele e acabar sentada no seu colo, pigarreou ligeiramente e concentrou-se em examinar alguns artigos, embora não tivesse intenção de comprar nada. Se adquirisse alguma lembrança em todos os lugares que visitara desde que começara a trabalhar no estrangeiro, o seu pequeno apartamento transformarse-ia num armazém lotado de objectos imprestáveis. Ainda que, por outro lado… Houvesse sempre espaço para mais uma jarra.

Entrou na loja e agarrou com cuidado num pote para doce. O pai começara a fazer o seu próprio doce e adoraria um presente como este.

– É único – disse uma voz masculina, terrivelmente sedutora.

Emily virou-se bruscamente e encontrou os olhos mais pretos que alguma vez vira. A figura inerte da entrada voltara à vida… Tirara o chapéu e os seus cabelos pretos, brilhantes, caíam-lhe descuidadamente sobre a testa bronzeada e suada.

– Desculpe? – perguntou Emily, corando como uma adolescente.

A sua reacção irritou-a e repreendeu-se. Aquele não era o primeiro italiano com que falava, por amor de Deus.

– É único – repetiu ele, desviando brevemente o olhar para agarrar noutro pote. – Cada peça é única – acrescentou, virando-a lentamente com os seus dedos compridos.

Emily sorriu. Era um homem de poucas palavras, o que parecia indicar que o seu inglês era tão pobre como o italiano de Emily.

– São… Muito… Bonitas – murmurou, lentamente. –Quanto…?

O homem sorriu, mostrando uns dentes brancos e perfeitos que contrastavam com a sua pele bronzeada. Sem desviar o olhar dela, apontou para a etiqueta com o preço na base do pote e arqueou uma sobrancelha.

– Claro… Devia ter reparado – disse Emily, tirando rapidamente a carteira.

– Não faz mal – falava devagar e com cuidado, como se tivesse memorizado as frases básicas para atender os clientes. Apenas pronunciara um punhado de palavras, mas não parecia precisar de muito mais para gerir aquela loja pequena e discreta.

Emily sorriu ao dar-lhe os euros. Os dedos do homem mantiveram-se sobre os seus durante mais alguns segundos do que o necessário, mas Emily descobriu com surpresa que gostava de sentir o seu toque. Não era ofensivo, mas quente e afectuoso. O que ela mais precisava naquele momento.

Viu como embrulhava cuidadosamente o pote, antes de o pôr num saco e entregá-lo a Emily.

– É para si?

Emily não conseguiu evitar sorrir outra vez.

– Não. É um presente… Para o meu pai – acrescentou. – Gosta de fazer o seu próprio doce – porque se incomodava em dar-lhe aquela informação? Aquele homem só estava a ser amável. Não precisava de saber detalhes sobre a sua família.

– Ah, sim… – a sua expressão tornou-se séria por um momento. – O seu pai… Está sozinho?

Emily hesitou por um instante.

– A minha mãe morreu… Há pouco tempo – respondeu, em voz baixa.

O homem surpreendeu-a então ao agarrar-lhe na mão e apertá-la delicadamente. Não foi um toque como o anterior, mas um gesto impulsivo de compaixão.

– Lamento – murmurou, soltando-a e afastando-se.

– Muito obrigada – respondeu, virando-se. – Pelo… Pote.

Ele inclinou ligeiramente a cabeça.

– Não tem de quê.

Emily saiu da loja e afastou-se pela rua, tão atordoada como se tivesse sofrido uma insolação. O encontro com alguém que, certamente, era o italiano mais atraente que alguma vez vira, afectara-a mais do que devia. Ou isso ou tinham-lhe posto alguma coisa no gelado.

Da porta da loja viu como ela se afastava. Vira-a a aproximar-se pela rua há alguns minutos e teria de ser cego para não reparar na sua figura apetitosa, naquele vestido sobre os joelhos que revelava umas pernas bronzeadas e bem torneadas, nos cabelos loiros e compridos sobre os ombros e nas sandálias que reluziam ao calor do dia. Era evidente que não tinha nenhuma pressa ou, pelo menos, fora o que ele pensara ao ver como desfrutava do seu gelado. Parara algumas vezes enquanto o lambia com deleite, saboreara até ao último bocado e tirara um lenço da mala para limpar os lábios.

Saltava à vista que não era italiana. Certamente, era inglesa, alemã ou talvez sueca. Um arrepio de desejo muito familiar percorrera-lhe as costas enquanto a via aproximarse e mantivera a cabeça baixa deliberadamente para continuar a observá-la enquanto fingia dormir. Então, dera-lhe a oportunidade perfeita ao parar para examinar os artigos à venda e comprar alguma coisa, e ele não a desperdiçara. Levara o seu tempo a embrulhar o pote para doce e a inalar a fragrância subtil do seu perfume.

Deixou escapar um suspiro ao perdê-la de vista. Fora como uma alucinação passageira no calor sufocante da tarde. Incomodado, deu uma olhadela ao seu relógio. Ainda faltava uma hora até irem substituí-lo e ele poder ir beber qualquer coisa para se refrescar.

Emily demorou um pouco a encontrar o restaurante da sua lista, pois nenhuma das pessoas a quem perguntou parecia conhecê-lo. Mas, finalmente, conseguiu encontrar a sua localização e fez uma breve entrevista ao gerente. O local estava bem equipado e oferecia um ambiente muito agradável. Era o tipo de restaurante onde Emily gostava de comer. Ficou com alguns menus e folhetos, e voltou para o hotel de táxi.

Coral estava deitada na cama, a ler uma revista.

– Ah, já estás aqui… Acabaste o que tinhas de fazer? – perguntou, olhando para Emily e pensando que a sua amiga era muito bonita. Tinha a mesma figura que ela tivera na sua adolescência. – Pareces tão fresca como uma alface, Ellie… Tiveste muita sorte por não te queimares com este sol – comentou. – Não como eu. Com essa pele tão branca devias ter ficado tão vermelha como um caranguejo – e suspirou. – Não é justo… – com a pele sardenta e o seu cabelo avermelhado, Coral precisava de uma protecção especial para suportar aquele clima.

– Talvez não me tenha queimado por fora, mas por dentro estou a arder – replicou Emily, com um sorriso. – Vou tomar um duche frio – tirou uma saia de algodão e uma t-shirt da sua mala e entrou na casa de banho. –Não demoro nada.

Um pouco depois, já mais fresca e arranjada, as duas raparigas abandonaram o hotel e apanharam um táxi para irem para o centro.

– Com a tua experiência, de certeza que conheces os melhores lugares para comer – comentou Coral, enquanto caminhavam pelas ruas cheias de gente.

– Ainda há muito para aprender – disse Emily. – Esta é a segunda vez que estou em Roma, mas sem dúvida, há muito por onde escolher – passaram à frente de um restaurante após outro e, finalmente, pararam para examinar o menu na porta de um bonito estabelecimento. –Tem bom aspecto… Experimentamos este?

Ocuparam uma mesa sob o toldo e Coral suspirou com expectativa.

– Só de pensar na comida já me abre o apetite – olhou para Emily. – Neste momento, não quereria estar em nenhum outro lugar… Nem com nenhuma outra pessoa.

Emily sorriu. Coral sempre gostara de comer, mas desde que acabara com o namorado no mês anterior, perdera muito peso, o que não era normal nela. O apetite de Coral era lendário e estava intrinsecamente ligado à sua popularidade e optimismo em relação à vida.

– A única coisa que falta é que um italiano muito bonito caia aos meus pés e me convide para um encontro romântico num lugar ideal – disse Coral, enquanto lia o menu. – Mas só depois de eu acabar de comer – apressouse a acrescentar.

Emily alegrava-se por a viagem estar a fazer tão bem a Coral. Parecia estar a recuperar o seu entusiasmo e a esquecer a sua depressão. Coral e Steve tinham estado juntos durante quatro anos, sem que nenhum deles quisesse comprometer-se a sério, até que, um dia, Steve declarara que já estava farto e queria acabar a relação. O golpe fora demolidor e Emily sentira-o na sua própria pele ao ser a sua companheira de apartamento. Coral sempre fora uma rapariga alegre e optimista, e era horrível vê-la tão desanimada.

Emily franziu o sobrolho enquanto percorria o menu com o dedo. Era muito bom pensar nas relações dos outros, mas o que se passava com ela? Tinha de admitir que a sua vida não suportaria um escrutínio demasiado severo. E a quem podia culpar? Perdera a confiança nas relações estáveis desde que Marcus, o seu último namorado, sucumbira aos encantos da sua melhor amiga. A rapariga nunca escondera que gostava de Marcus, mas Emily cometera o erro de confiar cegamente nele. Daquela vez, fora Coral que a ajudara a apanhar os pedaços do seu coração maltratado.

Isso acontecera há mais de um ano e, embora Emily mal pensasse em Marcus, aprendera uma dura lição.

Não podia confiar nas pessoas que pensava conhecer e muito menos nos homens atraentes e interessantes, incapazes de resistir ao sexo feminino.

Um jovem empregado italiano tomou nota do pedido e, ao fim de dois minutos, serviu-lhes dois copos de vinho branco. Coral levantou o seu e sorriu para Emily.

– Saúde – bebeu um longo gole e Emily imitou-a. Era óptimo contar com a companhia da amiga naquela viagem, apesar de começar a habituar-se a sobreviver sozinha.

Coral recostou-se na cadeira e olhou à sua volta.

– Há material abundante por aqui – disse, num tom melancólico. – Olha aqueles dois tipos, Ellie… Não te parecem muito bonitos? – calou-se por um momento. –Eh, estão a olhar para nós! Talvez tenhamos sorte e…

– Talvez tu tenhas, de qualquer modo – interrompeu Emily, alegremente. – Mas não me envolvas nisso. Amanhã, espera-me um dia muito ocupado e vou deitar-me assim que acabarmos de jantar.

– És uma desmancha-prazeres – reprovou Coral. –Além disso, só estava a brincar – declarou, embora continuasse a olhar para os homens e a retribuir os seus sorrisos.

– Não os encorajes, Coral – aconselhou, – ou depois será muito difícil afastarmo-nos deles.

Serviram os pratos e, durante os próximos dez minutos, Coral esteve a devorar a comida sem dizer uma só palavra.

– A vitela está muito tenra – comentou Emily. – E o molho é delicioso.

– Adoro as batatas fritas! – exclamou Coral. – Tinha medo que só pudéssemos comer massa nesta viagem.

As doses eram tão generosas que só precisavam de fruta e café para completar o jantar. Mas Coral insistiu em pedir mais vinho, apesar dos protestos de Emily.

– Emily, por favor… Estamos de férias, recordas-te?

– Tu estás de férias, eu não – replicou Emily, mas bebeu o vinho de qualquer forma. Não queria estragar a diversão de Coral, cujo entusiasmo chegava a ser contagiante.

Enquanto bebiam o vinho, os dois homens a quem Coral estivera a sorrir aproximaram-se e, sem pedir permissão, arrastaram duas cadeiras até à sua mesa para se sentarem.

– Podemos sentar-nos? – perguntou um deles, depois de já estarem sentados.

Emily limitou-se a encolher os ombros, mas Coral estava muito satisfeita.

– Claro – respondeu, com um sorriso radiante, olhando fugazmente para Emily.

Um dos homens chamou um empregado e pediu mais vinho. Ambos eram muito jovens, cerca de vinte anos, de aparência agradável e vestidos com roupa informal, e claramente encorajados pelos olhares descarados de Coral.

Custou-lhes entender que as raparigas eram inglesas e que estavam de férias. O seu inglês era péssimo e custavalhes fazerem-se entender, rindo às gargalhadas devido às contínuas falhas que cometiam. Começaram a animar-se cada vez mais, contudo, quando um deles agarrou na mão de Emily, a olhou fixamente nos olhos e lhe disse que era muito bonita, ela fartou-se. Podia tolerar até certo ponto pelo bem de Coral, mas não estava disposta a ir mais além. Afastou a mão e olhou para o relógio.

– Bom, foi um prazer conhecer-vos, mas temos de ir.

– Oh, não, não! – protestou o seu admirador. – É muito cedo.

Emily olhou para Coral à procura de apoio, mas a amiga recusou-se a olhar para ela. Estava a divertir-se muito com a situação e, durante alguns segundos, Emily não soube o que fazer. Sabia que não tinha nada a recear daqueles homens, que só estavam a ser amáveis, mas aquela era a situação que queria evitar a todo o custo. Como ia sair dali sem ofender os dois jovens italianos?

Mas então a boa sorte pousou no seu ombro, literalmente. A mão do italiano atraente que conhecera há poucas horas pousou no seu braço nu por um instante. O homem olhou-a nos olhos e esboçou um sorriso que lhe acelerou o coração.

– Voltamos a encontrar-nos – disse, calmamente. –Estava a beber um copo no bar quando te vi entrar – fez uma pausa. – Está tudo bem? – expressava-se num inglês tão perfeito que Emily ficou momentaneamente perturbada. Aparentemente, o pobre conhecimento linguístico que demonstrara na loja era apenas um estratagema para evitar conversas longas e tediosas com os clientes.

Fosse como fosse, sentia-se tremendamente aliviada com o seu aparecimento repentino. Os dois jovens também pareceram aperceber-se da sua presença, pois levantaramse de uma maneira quase reverencial.

– Giovanni – disseram, ao mesmo tempo. Aparentemente, era um homem muito conhecido. E porque não? Era o dono de uma loja no centro de Roma.

– Oh… Olá, outra vez – cumprimentou-o, com um sorriso. – Estávamos… A explicar a estes rapazes que temos de ir.

O tal Giovanni começou a falar em italiano com os dois jovens e os três desataram a rir, certamente às custas dela e de Coral. Então, os dois homens foram-se embora e Giovanni apresentou-se, esboçou um dos seus sorrisos arrebatadores para Coral e apertou a mão a cada uma delas.

– O meu nome é Giovanni, mas os meus amigos chamam-me Joe… Gio – disse, percorrendo o rosto de Emily com o olhar.

– Eu… O meu nome é Emily e esta é Coral – disse Emily, rapidamente. – Estamos a passar alguns dias em Roma… De férias – as palavras saíam-lhe atrapalhadamente da boca, enquanto Coral olhava para ela, boquiaberta. Não só porque era evidente que Emily e Giovanni já se conheciam, mas porque o italiano era tão atraente que a sua amiga devia estar a morrer de curiosidade… – Senta-te, Giovanni – convidou-o, num tom de voz hesitante, e ele não perdeu tempo a sentar-se.

Emily olhou para Coral.

– Esta tarde, comprei uma lembrança para o meu pai na loja de Giovanni… E foi assim que nos conhecemos… Giovanni… Gio e eu.

Coral não devia ter achado muita graça à fuga apressada dos dois jovens, mas estava tão contente com o recémchegado que mal conseguia falar.

Giovanni vestia umas calças de ganga e uma camisa branca folgada, aberta na gola, revelando um pouco de peito moreno e musculado. Tinha o cabelo despenteado com estilo, com algumas madeixas a cair sobre a testa. Os seus olhos eram brilhantes e cativantes, emoldurados por pestanas espessas e, quando se inclinou para agarrar brevemente na mão de Coral e expressar o seu prazer por a conhecer, Emily pensou que a amiga ia desmaiar de emoção.

– Eu… É um prazer conhecer-te, Gio – conseguiu dizer Coral e lançou um rápido olhar de recriminação a Emily, antes de dedicar toda a sua atenção ao italiano.

A conversa fluiu com naturalidade graças ao inglês impecável de Giovanni, modulado com o sensual sotaque italiano e o seu encanto latino irresistível. Chamou o empregado e virou-se para Emily.

– Que tal celebrarmos o nosso encontro? – sugeriu. – O que gostarias de tomar? E tu, Coral? O que queres que peça?

– Eu gostaria de outro café, por favor – disse Emily. Já bebera vários copos de vinho e não queria beber mais do que devia.

Coral não parecia ter nenhum problema em continuar a beber enquanto contava a sua vida a Giovanni, permitindo que Emily incluísse algum comentário sobre si própria.

Finalmente, Emily decidiu que a noite já durara o suficiente para ela.

– Eu gostaria de voltar para o hotel, Coral – disse. –É tarde.

– Onde se alojam? – perguntou Giovanni, num tom despreocupado. Elas disseram-lhe e ele ofereceu-se para as levar no seu carro. – Está estacionado muito perto daqui – disse.

– Óptimo! – exclamou Coral.

– Obrigada, mas podemos ir de táxi – disse Emily. – Não queremos causar-te incómodos – levantou-se e lançou um olhar de aviso a Coral, que também se levantou. – Foi um prazer conhecer-te… Gio – estendeu-lhe a mão. – E obrigada pelo café.

Ele sorriu e inclinou brevemente a cabeça.

– Não tens de quê – hesitou por um momento. – Se amanhã tiveres problemas em encontrar os lugares que deves visitar, estarei na loja, para o caso de precisares de orientações.

– Obrigada, mas de certeza que conseguirei encontrálos sozinha – respondeu Emily, com firmeza.

– Porque não quiseste que nos levasse ao hotel? – perguntou Coral, enquanto voltavam para o hotel de táxi.

– Porque não o conhecemos, Coral!

– Não é exactamente um desconhecido…

– Claro que é – replicou Emily.

Mas mais tarde, enquanto ouvia os roncos de Coral na outra cama, sentiu que não tinha nenhum motivo para desconfiar das intenções de Giovanni. Era um cidadão muito conhecido na cidade e, a julgar pela reacção dos dois jovens no restaurante, muito respeitado.

Virou-se e estendeu o braço sobre a almofada. Não parava de ver aqueles olhos pretos, cativando-a com o seu olhar penetrante… Endireitou-se bruscamente na cama e afastou o cabelo da cara. «Chega!», ordenou a si mesma. Estava ali em trabalho e não para fantasiar com o primeiro italiano que lhe dedicasse uma atenção especial. Além disso, era improvável que ela e Giovanni voltassem a encontrar-se, sobretudo, porque só faltavam dois dias para regressar a Inglaterra.

De volta ao seu apartamento de luxo, situado no coração da cidade, Giovanni despiu-se e entrou na casa de banho. Ainda não conseguia acreditar na sorte que tivera ao encontrar Emily outra vez. Afinal, ela podia ter ido a qualquer outro dos milhares de restaurantes de Roma ou até ter voltado para casa. Mas o destino dera a Giovanni a oportunidade de se aproximar dela sem perigo de a ofender. Vira como os jovens se aproximavam das duas raparigas sem serem convidados e aperceberase do desconforto de Emily. Fora isso que o fizera intervir.

Olhou-se ao espelho e sorriu ligeiramente. Conhecera imensas mulheres na sua vida, mas aquela era a primeira vez que alguma coisa mudava no seu interior.

De repente, voltava a sentir-se vivo, sem o sentimento de culpa que o perseguira sem trégua durante os últimos dezoito meses.

Mordeu o lábio e tentou afastar os remorsos. Não podia continuar a arrastar os traumas do passado. Era hora de fazer um descanso emocional e começar a olhar em frente. E não podia negar que Emily acendera uma faísca inesperada no seu interior. Só tinham partilhado algumas horas e já estava a apaixonar-se por ela. Não só era bonita e tinha uns lindos olhos cinzentos, como também era sensível, atenta, vulnerável e inspirava um desejo irresistível de a proteger. Giovanni nunca sentira nada parecido com nenhuma outra mulher e essa certeza não era muito tranquilizadora.