Editado por Harlequin Ibérica.
Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 1998 Jennifer Greene
© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Um pai solteiro, n.º 289 - dezembro 2017
Título original: A Baby in His In-Box
Publicado originalmente por Silhouette® Books.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.
Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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I.S.B.N.: 978-84-9170-649-6
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Se gostou deste livro…
– Que diabo é isto?
Flynn McGannon acabara de desligar o telefone quando aquele furacão entrou no seu gabinete.
– O quê?
– Sabes exactamente a que é que me refiro – afirmou o furacão, ao mesmo tempo que deixava uns papéis sobre a mesa. – Há palavras para descrever um homem como tu, começando por preguiçoso e irresponsável. Se não acreditasse que podias melhorar, despedia-te agora mesmo.
Flynn nem sequer olhou para os papéis. Aquilo que verdadeiramente lhe despertava interesse era a sua contabilista, até mesmo quando estava zangada como naquele momento.
– Não achas que despedir-me podia ser perigoso, tendo em conta que sou eu o dono da empresa e tu uma empregada?
– Se esse argumento te parece relevante, podes arranjar outro, porque não vais ser proprietário de nada a não ser que te reformes. Vais ter que enfrentar as Finanças e não me admirava se se rissem às gargalhadas quando vissem os teus livros. Sei que odeias números, mas isto é ridículo. Tens mesmo a lata de chamar a estes papéis livros de contas?
A verdade era essa mesma. Enquanto fora pobre, nunca necessitara de organizar a sua contabilidade. Quem é que poderia imaginar que aqueles programas de software iam vender-se tão bem? Para ele, o trabalho fora simplesmente divertido, pois de outro modo não o teria feito, e os agigantados lucros que entravam nos seus cofres desde há três anos atrás devido a esse trabalho eram um mero acidente.
Molly começara a trabalhar há seis meses; era uma mulher de voz suave e doce, e tão tímida que até a sua própria sombra a intimidava.
Viu-a procurar entre a papelada até encontrar uma estatística, uma das suas coisas preferidas, e apontou-a com o dedo.
– É a isto que chamas despesas? O que é que quer dizer isto de oitocentos dólares para comer?
– Bom, a verdade é que não gastei esse dinheiro em comer. Comprei uma cadeira ergonómica ao Ralph, por causa do joelho dele, mas como perdi a factura e como sabia que ias ficar furiosa, pensei que seria mais fácil…
– Não, não pensaste – corrigiu-o.
Como já tivera que ouvir outras vezes aquela lengalenga, Flynn colocou os pés sobre a borda da mesa e centrou toda a sua atenção em Molly. Esta passeava-se de um lado para o outro, mas, para fazê-lo, teve que dar um pontapé nos acessórios do mini-golfe.
De início, o aspecto do escritório em geral e do seu gabinete em particular, horrorizara-a. Flynn achava que a alcatifa vermelha, os móveis de madeira tratada e a mesa azul pareciam convenientemente caros e dignos dos melhores executivos. Claro, tivera que juntar o seu toque pessoal, ou seja, colocar um cabide na porta e o mini-golfe ao lado da janela. A sua cadeira era quase tão boa como uma amante… tinha onze comandos, programados e dispostos para lhe proporcionar uma relaxante massagem em qualquer parte do corpo e onde ele quisesse. Não podia competir com as mãos de uma mulher, claro, mas ninguém pode ter tudo no seu local de trabalho.
Molly não gostava muito de cadeiras vibradoras e muito menos do excesso de à-vontade da indumentária dele que consistia numas calças de ganga e nuns mocassins, apesar de, na realidade, não haver necessidade de que numa empresa de cinco pessoas tivesse que usar roupa formal. Até podiam trabalhar todos nus se quisessem. Os seus clientes estavam espalhados pelo mundo inteiro, mas raramente iam às instalações deles.
No entanto, Molly era mais amante da formalidade. Gostava de usar fatos de saia e casaco, de preferência azuis, pretos ou cinzentos, excepto num dia de loucura que fora trabalhar com um fato bordeaux. Nessa manhã, levava uma saia azul marinha, sapatos de salto da mesma cor e uma impecável blusa fechada no pescoço com um alfinete que lhe ameaçava cortar a respiração. Tinha o cabelo dourado, cor de chá, cortado com muito estilo à altura dos ombros.
Tinha os olhos castanhos, mas não era um castanho claro e sim a mesma cor do chocolate derretido. Suaves. Emotivos. Olhos que reflectiam vulnerabilidade. E o seu rosto oval continha mais desses traços delicados: sobrancelhas finas, pómulos delicados e uma boca pequena perfeita… óptima para ser beijada.
E, invariavelmente, naqueles últimos dias, Flynn pensava em beijá-la. Diabos… Pensava em deitar-se com ela entre lençóis frescos. Apostava o seu Lotus em como usava um desses soutiens de menina bem comportada sob aquela linda blusa. Ainda não chegara tão longe ao ponto de verificar tal facto. Ainda.
– Estás a ouvir-me?
– Sim, claro. Queres saber porque é que há dinheiro extra nessa conta e onde é que estão os papéis que demonstram a sua procedência. Estou a tentar lembrar-me – garantiu.
– Não tinhas que fazer nada disso se tivesses organizado estes livros de uma forma lógica desde o início! Meu Deus, és mais difícil que reabilitar um criminoso. Elaborei um sistema para te facilitar as coisas. Sei perfeitamente bem que és alérgico a conceitos como a organização, mas não te posso ajudar se nem sequer te esforças por chegar a meio do caminho, Flynn.
– Sim, Molly.
Até a sua voz o excitava. Não que houvesse algo único na sua pronúncia, já que eram ambos imigrantes provenientes de Kalamazoo, mas havia algo líquido no seu tom de voz, algo puramente feminino.
– Estou a falar a sério. Vais arranjar um sério problema com as Finanças e não vais ter qualquer desculpa. Tens um negócio perfeitamente legal e que corre bem, por isso não é assim tão complicado expressá-lo com papéis. O resto do teu pessoal adaptou-se às mil maravilhas. Porque é que para ti é tão difícil manter uns simples registos?
– A sério, Molly, esqueço-me…
E a verdade é que estava a tentar emendar-se, mas os procedimentos de Molly eram muito rígidos. No trabalho, claro, porque das duas vezes que conseguira roubar-lhe um beijo… bom. Não conseguira despir-lhe nenhuma das suas imaculadas blusas brancas, nem sequer conseguira descobrir se o seu traseiro era tão sexy como parecia ser, mas descobrira algo fascinante: a maneira como beijava…
Beijava como na fantasia mais selvagem de qualquer homem. Os lábios moldavam-se aos seus como se a natureza tivesse criado aquela boca apenas para ele.
Molly regia-se por princípios inflexíveis e não era que tivesse abandonado tais princípios, mas havia uma profunda corrente emocional a correr atrás daquelas portas fechadas.
Uma corrente que arrastaria qualquer homem até às profundezas se não tivesse cuidado, e Flynn, com os seus trinta e quatro anos de idade, ainda não se deixara arrastar até à teia do casamento.
– Não me estás a prestar atenção – acusou Molly.
– Enganas-te. Estou a prestar-te toda a atenção do mundo e precisamente por isso, Weston, estou na condição de te dizer que tens as melhores pernas do distrito e certamente do país inteiro. E aviso-te que é a opinião de um bom conhecedor de pernas femininas.
– McGannon!
No dia que se conheceram, Flynn pensou que o vermelho era a cor natural da pele dela. Corara tanto durante a entrevista de emprego! E passados aqueles meses, tornara-se cada vez mais difícil fazê-la corar, mas, nesse dia, foi capaz de lhe provocar o rubor mais intenso que já vira até então. Não que isso fosse novidade, mas o brilho malicioso e novo dos seus olhos era, sem dúvida, um aliciante.
– Não – disse ela com firmeza.
– Posso saber a que é que te estás a referir?
– Faz o favor de parar de me olhar assim, McGannon. E agora mesmo.
Flynn avançou um passo e ela não só não pareceu intimidada, como o enfrentou de mãos nas ancas. E aquele brilho endiabrado dos seus olhos subiu de voltagem quando Flynn deu mais um passo na sua direcção. E mais outro.
– Não continues, senão ponho-te a cara do avesso.
– Não acredito. Tu nunca me darias uma bofetada a não ser que a merecesse e eu não faria aquilo que vou fazer se não tivesse a certeza de que é o desejo de ambos. A única coisa que tens de fazer é dizer que não e comportar-me-ei dignamente, prometo-te.
Mas ela não disse que não. Quando se viu presa entre a parede e ele, utilizou a sua arma preferida: a lógica.
– Gosto deste emprego e não quero perdê-lo.
– Então, já somos dois. És-me totalmente indispensável e sem ti estaria perdido. A sério. No dia que te contratei, disse-te que sou um caso perdido… mas também sei aprender. E se fiz algo que te incomodasse, basta dizer-mo.
– Não é tão simples e tu sabe-lo. Não é nada bom relacionarmo-nos intimamente com um colega de trabalho. No fim, há sempre alguém que sai ferido e depois alguém que fica sem emprego.
– Não tem que ser assim, se as duas pessoas forem sinceras uma com a outra e jogarem com as mesmas regras.
– Tu não saberias definir a palavra regra nem com um dicionário na mão, Flynn. Adoras a anarquia, mas nem todos somos da mesma opinião. Há pessoas que não conseguem ir para a cama com outras e sentirem-se da mesma forma no dia seguinte.
– Meu Deus, mulher, eu até respeito as tuas ideias sobre o compromisso de uma relação e tudo… Além disso, a única coisa que tinha em mente era um beijo, para ver se o último tinha sido alguma espécie de aberração.
– Aberração?
– Sim. Da última vez conseguiste pôr-me de rastos. Aquilo que eu pensava que seria uma troca inocente acabou por ser uma combustão espontânea. Não estava à espera, e se queres que te diga a verdade, espero que não voltes a fazer o mesmo. Podes não acreditar, mas não era a primeira vez que beijava uma mulher…
– Acredito.
– … por isso, não estou habituado a apaixonar-me à primeira vista. Acho que me apanhaste num momento de fraqueza, mas a questão é que não consigo tirar aquele maldito beijo da cabeça. Talvez se voltar a beijar-te e o resultado for morno e aborrecido, possamos esquecer este disparate e tudo voltará à normalidade.
– Flynn…
Flynn usava a palavra amor com facilidade e Molly sabia-o. Já lhe dissera outras vezes que estava apaixonado por ela… por ela e por comida picante, por um dia dourado de Outono, por amêndoas torradas, por um empregado que solucionava um problema particularmente difícil e por um boneco de pelúcia com as orelhas peludas. Flynn era um homem muito efusivo e utilizava a palavra amor quase diariamente.
Molly sabia muito bem que ele não estava a falar a sério, mas, naquele momento, encontrava-se ali, de pé bem à sua frente. Não que ela fosse pequena, tinha um metro e sessenta e sete de altura, mas ele erguia-se majestosamente com o seu metro e oitenta e cinco de altura. Além disso, era mais parecido com os seus antepassados guerreiros escoceses do que com um homem civilizado do século vinte. Os seus olhos eram tão penetrantes como um raio laser, as suas largas costas mais pareciam as de um estivador, o seu cabelo cor de canela andava sempre despenteado. A forma de vestir era igualmente desastrosa: calças de ganga e camisa preta de mangas compridas. Tinha dinheiro de sobra e, no entanto, parecia nunca gastar nada em roupa convencional.
Ficou ali de pé, a uma distância exequível, mas não se mexeu… «e certamente não o fará», imaginou Molly. Flynn era imprevisível e amoral, mas jamais ultrapassava determinados limites. Uma vez, ocorrera-lhe fazer um comentário sobre o assédio sexual e, para sua absoluta surpresa, depois de ficar muito sério, sentou-se com ela durante três horas. Ouviu-a, mas apenas isso. Parecia incapaz de aceitar que era ele quem tinha o poder, que era ele o patrão. Parecia pensar que o crescimento da empresa fora puramente acidental e tratava o pessoal como se fizesse parte da sua equipa, na qual o seu voto não contava mais do que qualquer outro. O estilo de gestão de Flynn não se encaixava nas normas que ela estudara, mas jamais se lembrara de relacionar o seu comportamento com assédio sexual. O código de comportamento de Flynn relativamente às mulheres era claro como água.
Jamais entraria na intimidade de uma mulher a menos que esta o quisesse.
E a menos que ela o mostrasse.
Aqueles malditos olhos azuis aguardavam. Um beijo levitava entre eles como um prazer por desfrutar com um aroma tentador.
Molly recordou que uma vez se auto-adjectivara de giro. Tecnicamente, aquele queixo tão firme, o nariz bem marcado e os planos salientes do seu rosto não encaixavam nos padrões da beleza clássica… mas, ainda assim, era o homem mais sexy que conhecia. O problema com Flynn, um entre muitos, era que adorava ser homem e isso via-se. Aquela magnética e terrena sexualidade era impossível de ignorar, apesar de Molly o ter tentado. Como tentara!
– Está especada, menina Weston?
– Estou.
– Em que é que está a pensar? Quer que a beije ou prefere arrancar-me a cabeça com uma dentada?
– Sim.
– E pensa comunicar-me a sua decisão antes do final do mês?
Necessitaria do mês inteiro para tomar aquela decisão. Se alguém, seis meses antes, lhe tivesse sugerido sequer que poderia apaixonar-se por um homem como Flynn McGannon, teria ido a psiquiatra para se submeter de imediato a um tratamento de choque.
Era um lobo. Um homem que tanto expressava humor como soltava raios temperamentais no mesmo volume ensurdecedor. Trabalhava como um escravo, brincava como uma criança, intimidava os clientes com a sua voz de trovão e o seu imprescindível humor… e depois, invariavelmente, parecia surpreender-se com o facto de alguém poder sentir medo dele.
Mas Molly sabia muito bem porque é que lhe provocava essa reacção.
Era demasiado sexy. Demasiado centrado em si mesmo, demasiado desafiante com o resto do mundo, demasiado tudo aquilo que ela não era. Molly queria um marido, filhos, uma família, e não uma aventura com um homem que claramente se aborrecia só de pensar em alianças de casamento. Para ele, cada dia era uma aventura, enquanto ela necessitava sempre de fazer listas.
Nada de bom poderia resultar daquele beijo. Seria como lançar-se no vazio sem pára-quedas.
Mas Flynn tentava-a. Como nunca nenhum outro homem o fizera. Eram os seus olhos. Era aquela electricidade vibrante que se suspendia no ar entre eles. Era aquela ânsia de viver que a cativava e o que a tentava a não cometer tamanha loucura… assim como pensar que se arrependeria para o resto da vida se nunca chegasse a fazer amor com ele. Tinha apenas uma oportunidade. Talvez toda a gente devesse ter o direito, nem que fosse uma única vez, de cometer uma loucura impulsiva…
De repente, ouviu-se uma estranha comoção do lado exterior do gabinete. Uma porta que se fechava. Vozes altas. Algo parecia ser fora do comum. No entanto, não conseguia afastar-se do calor do olhar de Flynn. Não queria.
Ele desejava-a. Talvez desejasse outras cem mulheres, talvez até no mesmo dia, mas aquela sensação era nova para Molly. Nunca se sentira envolta pelo olhar de desejo de um homem, aberto, nu, honesto, perigoso, magnético. A maioria dos homens definia-a rapidamente: era uma mulher convencional, eficiente, obsessiva, atraente mas sem grandes atributos.
Mas não para Flynn. Este olhava-a como se fosse a Kim Basinger acabada de sair de um filme apenas para ele.
Há meses que se apaixonara por Flynn. Negando-o. Procurando desculpas. Querendo justificar esse sentimento com as suas hormonas, com o síndroma pré-menstrual, com o natural afecto que aumentava ao trabalhar com um homem fascinante todos os dias. Dera-lhe vários nomes, mas continuava a temer que se tratava realmente de paixão.
Levantou uma mão e cravou o olhar na sua boca. Aquele beijo ia ser diferente.
Os outros não tinham sido como saltar sem pára-quedas, mas aquele podia sê-lo.
Levantou um pouco mais a mão, até os seus dedos estarem quase a roçar-lhe o pescoço. O seu coração começara a latir desaforadamente.
Até que ouviu o pranto de um bebé.
Surpreendida, recuou justamente quando uma mulher entrou no gabinete. E não apenas uma mulher, como também um bebé rechonchudo, com mais ou menos um ano de idade, que anunciava através de um grito a sua desconformidade com o mundo. A mulher tinha as faces vermelhas, enquanto tentava segurar a criança, não deixar cair as suas coisas e a mala que levava ao ombro.
– Diabos me levem, Flynn… não queriam deixar-me entrar para falar contigo. Tive que discutir com um chalado de roupão de banho que estava na recepção…
Molly ficou paralisada. Bailey entrou logo a seguir atrás da desconhecida. Este era um dos génios criativos de Flynn. Um homem doce que quando estava inspirado tinha que vestir o seu roupão para lhe dar sorte. Já ninguém reparava nisso. Bailey não costumava receber ninguém voluntariamente, pois os nervos faziam-no gaguejar e, nesse preciso momento, gaguejava como uma metralhadora ao tentar explicar a Flynn como é que aquela mulher passara quase por cima dele.
A mulher deixou uma mala com fraldas sobre a carpete e depois fez o mesmo com o bebé. O pequeno, livre por fim, deixou de chorar e de se retorcer, e começou a gatinhar.
– Mas…?
O Cinturão de PrataChivas
– Meu filho? – repetiu Flynn, negando com a cabeça. – É impossível. Disseste que estavas protegida.
– Ora, ora! Quer dizer que, de repente, te lembraste daquela noite… e é muito próprio de um homem lembrar-se apenas da parte que lhe serve de desculpa. Na altura, andava a tomar a pílula, mas esqueci-me de tomar umas quantas… e antes de me dizeres que a culpa é minha, deixa-me informar-te que pouco me importa e que isso não te iliba da responsabilidade que tens para com o teu filho…
– Olha, antes de mais nada tens que te acalmar. Não podes entrar aqui a acusar-me de algo que, evidentemente, esperas que eu acredite…
– O teu filho chama-se Dylan e é teu a partir de agora. Não sabes pelo que passei. Nem podes imaginar. A minha vida tem sido um pesadelo sem fim desde que esta criança foi concebida. Tive uma gravidez espantosa. Perdi o emprego. Ele tem cólicas e não dorme, e estou prestes a perder a minha casa. Já não consigo suportar mais! Neste momento, nem sequer posso dar-lhe comer…
– Um momento. Acalma-te um pouco e…
– E uma porra! E não gastes o teu latim oferecendo-me dinheiro, porque não se trata disso. Trata-se de tudo. Supus que não te interessaria saber que eras pai, mas já não aguento mais. Nem todas as mulheres do mundo foram feitas para serem mães. Tentei, não sabes como tentei, mas nada me correu bem. Já não consigo continuar e tu és tão responsável como eu. Demorei uma eternidade para te encontrar…
Molly nunca vira Flynn perder a cor daquela maneira. Normalmente, quando se zangava, começava a gritar. Mas parecia ter ficado mudo.
– Ainda não viste que isto é impossível? – perguntou, passando uma mão pelo cabelo. – Não podes entrar aqui e dizer que sou pai do teu filho. Vejo que estás esgotada, mas se tentasses acalmar-te um pouco…
– Não quero acalmar-me. Vou-me embora. Fica com o teu filho.
– Mas este bebé não é meu filho.
A voz de barítono de Flynn devia ter-se ouvido no país vizinho. E o mesmo aconteceu com o grito de soprano da loira.
– Claro que é! Eu sei que é. E se recuares vinte meses, saberás que é, sim. Se duvidas, sei que existem testes para se provar este tipo de coisas, mas garanto-te que não vais precisar de os fazer.
Pegou na mala e do seu interior tirou uma pasta que lançou para cima da mesa. Viram-se algumas fotografias, aquilo que pareciam ser relatórios médicos e talvez uma certidão de nascimento.
– Preciso de um emprego. Preciso de um lugar onde viver. Preciso de voltar a ter uma oportunidade na vida e quero ir à procura dela. O bebé fez com que perdesse tudo o que tinha, mas, a partir de agora, é todo teu.
A loira deu meia volta e Flynn desatou a correr atrás dela.
– Espera um momento! Por amor de Deus, não podes ir-te embora dessa maneira…
– Claro que posso. Olha!
Molly parecia incapaz de reagir. Aquela cena era tão irreal. Aquela mulher frenética e a sua cena não deviam ter durado mais de cinco minutos; viu-a sair do gabinete à mesma velocidade com que entrara.
Flynn saiu atrás dela com o rosto acinzentado.
Molly demorou alguns segundos a recuperar a serenidade. E outros segundos a aperceber-se de que a infame Virginie deixara algo no gabinete.
O menino andara a gatinhar entre os quatro a uma velocidade abismal, mas não se via em lado nenhum naquele momento.
E ninguém parecia importar-se com isso.