
Editado por Harlequin Ibérica.
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© 2018 Pippa Roscoe
© 2021 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Reclamada pelo multimilionário, n.º 112 - maio 2021
Título original: A Ring to Take His Revenge
Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.
Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.
Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-1375-457-4
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Créditos
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Epílogo
Se gostou deste livro…
Londres…
Antonio Arcuri fez um gesto à jovem, bela e morena, para que entrasse na limusina antes dele. Estava habituado a acompanhar mulheres que acabara de conhecer até à sua limusina, mas não por motivos de trabalho. Nunca por trabalho.
No entanto, não tivera outra alternativa. A reunião da manhã prolongara-se insuportavelmente e não podia cancelar aquela última entrevista para selecionar a sua secretária pessoal nem chegar atrasado à reunião com os outros dois integrantes do Círculo dos Vencedores: Um grupo de proprietários de cavalos de corridas em que participava.
Estava há quase um ano à espera para ver os seus amigos Dimitri e Danyl, que também eram os seus irmãos em mais do que um sentido. Tinham-no obrigado a fazer mais do que uma coisa ao mesmo tempo e não conseguia suportar que o obrigassem a fazer alguma coisa.
A morena, a menina Guilham, arqueou uma sobrancelha devido à mudança inesperada de cenário para a entrevista e isso pareceu-lhe um bom augúrio. No entanto, não gostou da sua forma de alisar a bainha rebelde da saia, que subira pelas coxas suaves ao sentar-se no banco fofo de couro. Aquela saia parecera-lhe desmesuradamente conservadora quando a vira de pé, mas, naquele momento, era uma distração que, sinceramente, não desejava.
Sentou-se ao seu lado e observou Emma Guilham pelo canto do olho. Verificou que era bonita, até arquivar os dados e se esquecer deles. Pouco importava se a próxima secretária era atraente ou não. Ainda que, pelo menos, tivesse parado de puxar a bainha da saia.
A limusina saiu do estacionamento escuro dos seus escritórios e misturou-se com o trânsito cansativo do centro de Londres. Amaldiçoou a sua sorte e dominou a vontade de olhar para o relógio. Sabia que tinha muito pouco tempo.
– O seu motorista devia ir por St. James e Pall Mall. O Natal e a rua Regent são uma combinação terrível.
Fixou os olhos cor de avelã nos dele, que sentiu um aperto repentino no peito. O seu olhar não transmitia uma necessidade imperiosa de agradar nem uma emoção fervorosa e não tinha o brilho sensual que costumava ver nos olhares das mulheres. Sabia que era atraente e aproveitava-se disso sempre que podia, mas não com as empregadas.
No entanto, e o que era mais importante, não havia um duplo sentido no seu olhar, algo que era inusitado e que, para ele, não tinha preço.
Comparada com as outras três candidatas que entrevistara, era a menos impressionante. Emma Guilham, com vinte e dois anos acabados de fazer, era jovem. No entanto, parecia a mais imperturbável, embora as outras fossem desde os vinte e muitos anos aos cinquenta e poucos.
Não era preciso olhar para o seu currículo porque se lembrava de toda a informação pertinente. Começou a entrevistá-la.
– Licenciou-se em Estudos de Mercados Internacionais, na Universidade de Londres, com quatro excelentes, consegue escrever cento e vinte palavras por minuto e gosta de viajar e ler. – Perturbou-o que a cor de avelã dos seus olhos ganhasse um tom verde-mar. – É muito trabalhadora, algo que o diretor financeiro do meu escritório em Londres me confirmou repetidamente. Trabalhou a tempo inteiro durante os meses passados e a tempo parcial no ano anterior, enquanto acabava os estudos, algo que o diretor financeiro também me sublinhou repetidamente.
Emma limitou-se a assentir levemente com a cabeça e ele franziu o sobrolho. Normalmente, as candidatas realçavam as suas virtudes quando ele lhes dava a oportunidade. Deu-lhe um instante para que ela falasse, mas ficou em silêncio.
– O trabalho é em Nova Iorque. Aposto alto, adquiro empresas e espero muito trabalho, entrega plena e discrição absoluta, tanto nos assuntos profissionais como nos pessoais. Nem sempre estou no escritório de Nova Iorque, mas a menina terá de estar sempre lá.
– Claro.
Continuou à espera de alguma mudança na sua expressão, por muito pequena que fosse. Ela ainda tinha de expressar a emoção ou o espanto mal dissimulado e maravilhado que, fastidiosamente, presenciara nas outras entrevistas.
– Menina Guilham, não parece muito interessada nesta entrevista.
Não tinha paciência quando o faziam perder tempo e também não queria uma mulher que lhe dissesse «sim» a tudo, mas, mesmo assim, aquilo era… insólito.
– Ainda tem de me fazer uma pergunta, senhor Arcuri – replicou ela, num tom que não tinha nada de acusador ou ofendido. – Posso falar com clareza?
Ele respondeu com um gesto da mão para que o fizesse.
– Senhor Arcuri, já passei por três entrevistas prévias para conseguir esse lugar. Uma com os recursos humanos do Reino Unido, outra com os recursos humanos dos Estados Unidos e a terceira com a sua anterior secretária pessoal. Não tenho ilusões quanto à minha pouca experiência se se comparar com a das candidatas mais veteranas e só posso considerar que a sua decisão de me levar no seu… deslocamento é uma cortesia da sua parte… e agradeço. – Então, a morena deu umas pancadinhas no vidro que os separava do motorista. – Por aqui à esquerda e, depois, a segunda à direita – indicou ela, antes de se virar para ele. – Acho que, chegados a este ponto, a sua escolha se reduz à personalidade e, no que diz respeito a tê-lo como patrão, não tenho de lhe dar nenhuma explicação. Quer alguém que só viva e respire pela Arcuri Enterprises? Posso fazê-lo. Quer alguém que trate de uma agenda internacional? Consigo fazê-lo com os olhos fechados. Quer alguém que lhe limpe o caminho e o livre de tudo o que possa impedi-lo de usar o seu tempo valioso no que quer? Sou a pessoa que procura. Pode saber o resto pelo meu currículo ou não tem de saber. Quero trabalhar consigo porque é o melhor, é simples.
A limusina parou à frente do clube Asquith de Londres enquanto Antonio estava a tentar assimilar esse discurso bastante impressionante e não menos surpreendente.
A menina Guilham esboçou um sorriso afável e Antonio percebeu que também elevava ligeiramente as comissuras dos lábios.
– Tenho uma pergunta, menina Guilham.
– Qual?
– O que levaria se a abandonassem numa ilha deserta?
– Um telefone por satélite.
Ouvira todo o tipo de respostas, desde a música de Mozart ou as obras completas de Shakespeare, a um piano. No entanto, só ouvira a resposta dela uma vez e fora a mesma que ele teria escolhido.
Ele assentiu inexpressivamente com a cabeça.
– Senhor Arcuri – continuou. – Agradeço que me tenha dado a oportunidade de falar consigo. Vou esperar que os recursos humanos entrem em contacto comigo e desejo que desfrute do almoço. Vou voltar ao escritório.
Dito isso, Emma Guilham deixou-o no carro. Há muito tempo que não se sentia tão atónito… e não era o único, a julgar pela forma como o motorista a observava enquanto se afastava.
Saiu da limusina e dirigiu-se para a mesa do clube onde o esperavam Dimitri Kyriakou e Danyl Najem Al Arain enquanto tentava apagar como ela rebolara as ancas a caminho da estação de metro de Picadilly Circus.
Com uma eficiência implacável, voltou a concentrar-se no Círculo dos Vencedores.
Os três tinham-se conhecido quando eram estudantes e a sua amizade forjara-se no mais profundo dos seus momentos mais sombrios, graças a terem-se apoiado uns aos outros e a tudo o que tinham celebrado juntos. Além disso, Dimitri, Danyl e o seu avô materno tinham sido os primeiros investidores quando precisara de capital para começar o seu negócio. Naturalmente, pagara-lhes o dinheiro todo, com juros e em metade do tempo combinado. No entanto, nunca esquecera a dívida que contraíra com os seus amigos.
Sabia que, sem eles, não seria o que era e eles diriam o mesmo dele. Nesse momento, ao fim de um ano, aqueles três homens, que costumavam aparecer nos jornais como alguns dos maiores empresários vivos, voltariam a reunir-se finalmente na mesma divisão.
Enquanto se dirigia para a mesa da sala de jantar privada, uma loira pequena passou apressadamente perto dele e observou-o com o sobrolho franzido.
– O que perdi? – perguntou Antonio, enquanto observava o aspeto dos seus amigos.
O encarceramento injusto de Dimitri tivera o seu preço, mas os seus traços gregos imponentes ainda faziam com que as mulheres virassem a cabeça. Danyl não tinha de depender do seu título de xeque herdeiro do trono de Ter’harn. Irradiava uma intensidade melancólica, como dissera a última secretária de Antonio.
Só o sistema legal implacável dos Estados Unidos conseguira impedir que se reunissem todos os trimestres, a única coisa inamovível na sua agenda cada vez mais cheia. No entanto, tinham provado a inocência de Dimitri e, finalmente, podiam encontrar-se.
– Uma proposta – respondeu Dimitri a Antonio.
– Em público e a estas horas? Cavalheiros, a minha reputação escandalosa parece uma brincadeira de crianças.
– Uma proposta profissional – resmungou Danyl.
– Ela… – Dimitri apontou com a cabeça para o lugar por onde a loira saíra. – Ela quer correr connosco na Hanley Cup.
– Já temos jóquei – interveio Danyl.
– Diz que consegue ganhar as três corridas.
– Ninguém fez isso desde… – começou a dizer Antonio, sem disfarçar a curiosidade.
– Desde que o pai dela treinou o cavalo e o cavaleiro há vinte anos – concluiu Dimitri.
Antonio começou a pensar no que ouvia.
– Era a Mason McAulty?
Danyl deixou escapar um gemido desanimado, mas Antonio pensou nas repercussões, nos sucessos para o vencedor e na atenção da imprensa de todo o mundo… As notícias sobre o seu clube tinham minguado ao longo dos anos, mas ninguém podia discutir tudo o que tinham conseguido. Tinham-no criado pouco depois de sair da universidade. Fora o projeto perfeito para três homens que adoravam as apostas altas, os cavalos e a adrenalina.
Antonio poderia ter sido um jogador de polo de nível internacional, mas isso fora antes de tudo o que Michael Steele fizera e que quase devastara a sua família. Conteve a raiva que sentia ao lembrar-se daquele homem e voltou a concentrar a sua atenção na proposta.
– E ela consegue fazê-lo?
Dimitri encolheu os ombros, mas parecia que Danyl pensava mais atentamente.
– É provável – reconheceu.
– Aceito – afirmou Antonio, encolhendo os ombros com um estilo muito italiano.
Se Mason McAulty conseguisse, os lucros seriam incríveis. Se não… Bom, havia má imprensa? Antonio adorava viver no fio da navalha.
– Porque não?
Dimitri também aceitou e Danyl assentiu com a cabeça, contrariado e com os dentes cerrados com firmeza. Antonio não sabia porque Danyl olhara com essa fúria para Mason McAulty quando saía, mas esperava que ela soubesse que estava a brincar com o fogo.
– Uísque? – perguntou Dimitri, quando Antonio se sentou finalmente.
– Certamente. – Antonio recostou-se na cadeira e observou os amigos. – Alegro-me por voltar a ver-vos.
– Repete-o e saberei que te suavizaste – replicou Dimitri, num tom tenso.
– Se quisesse ouvir mexericos de mulheres, teria ficado no meu harém – acrescentou Danyl.
– Não tens um harém – troçou Antonio. – Se o tivesses, nunca te veríamos.
No entanto, em vez de sentir prazer com a relação familiar que tinha com os seus dois melhores amigos, Antonio deixou que a sua mente voltasse a pensar na mulher que, como acabara de decidir, seria a sua nova secretária pessoal.
Emma Guilham…
Dezoito meses depois…
Emma, com rapidez e eficiência, agarrou as madeixas de cabelo escuro que tinham fugido e apanhou o cabelo num coque discreto. Embora não tivesse visto Antonio Arcuri a franzir o sobrolho quando alguma madeixa de cabelo lhe fugia dos ganchos, sabia, intuitivamente, que isso era o que o seu patrão implacável queria: Rapidez, eficiência e discrição.
Enquanto verificava o seu aspeto no espelho da casa de banho dos escritórios em Nova Iorque da Arcuri Enterprises, reparou nas letras «A» e «E» gravadas no canto de todos os espelhos e sentiu uma pontada de emoção e satisfação.
Ela percorrera um longo caminho desde a casa pequena, mas confortável, da sua mãe nos arredores de Hampstead Heath. Lembrou-se da entrevista tão extravagante que Antonio lhe fizera na limusina enquanto abriam caminho entre o trânsito natalício de Londres. Achava que fora descarada, mas a verdade era que pensara que não tinha a mínima possibilidade de conseguir o emprego e, como não tinha nada a perder, dissera a verdade.
Acreditara sinceramente em todas e cada uma das palavras que dissera e cingira-se a todas durante os dezoito meses que passara ali. Lutara muito para estar ali, para estar em Nova Iorque e ser a secretária pessoal de Antonio Arcuri… e não ia permitir que essa chegada atípica, imprevista e cada vez mais iminente a alterasse.
Desde que o telefone tocara, à uma da madrugada, para lhe comunicar que Antonio voltaria de Itália e estaria no escritório em menos de seis horas, sentira-se dominada por algo parecido com pânico… embora pensasse que já não sentia pânico. Mesmo assim, levantara-se da cama com um salto e verificara na agenda que Antonio não tinha nenhum motivo para voltar tão precipitadamente. Não sabia o que esperar do seu chefe hermético.
Começara a desejar essas ausências de Antonio. Quer fosse porque tinha de ir às suas reuniões inamovíveis com O Círculo dos Vencedores ou porque tinha de visitar os escritórios de Londres, Hong Kong ou Itália, agradecia ter de lidar com ele através de correio eletrónico ou videoconferências. Agradecia essas pausas porque, na verdade, palpavelmente, a presença de Antonio era… avassaladora.
Não se tratava apenas da sua beleza clássica. Os seus olhos cor chocolate, as suas maçãs do rosto proeminentes e o seu queixo firme seriam devastadores em qualquer homem. Além disso, o bronzeado italiano da sua pele contrastava sensualmente com os lábios cor de vinho e todo o seu corpo transmitia uma energia predadora, mas sabia que o que a atraía realmente era a vitalidade e a autoridade que emanava.
Mesmo assim, aprendera a sufocar essa atração e não ia permitir que interferisse com o seu trabalho. Estava ali para fazer o seu trabalho, não para se babar com o patrão. Não ia cair na mesma armadilha em que muitas mulheres tinham caído. Além disso, tinha os seus objetivos, sítios que queria conhecer e coisas que queria fazer e Antonio Arcuri não entrava em nenhum deles.
A porta da casa de banho ampla abriu-se de repente e umas mulheres entraram, armadas até aos dentes com sacos de maquilhagem. Emma observou-as enquanto tiravam todo o tipo de objetos destinados a seduzir e aplicavam um milhão de produtos com delicadeza, como ela também fizera com dezassete anos para disfarçar os estragos da quimioterapia.
No entanto, fez um esforço para deixar essas lembranças de lado. Antonio não se importava com o aspeto dela, só se importava com a capacidade. Sorriu com um certo abatimento ao ver aquela fila de empregadas da Arcuri. Antonio tinha esse efeito nas mulheres, mas não nela. Podia pensar que o patrão era devastadoramente atraente, mas isso não ia transtorná-la.
Nenhum homem ia transtorná-la.
Sentada ao computador, na sala de espera do escritório de Antonio no último andar, deixou que uma sensação de controlo e calma se apropriasse dela. Aqueles eram os seus domínios e adorava.
Aquele escritório no vigésimo quarto andar de um arranha-céus de Manhattan era muito mais do que alguma vez teria imaginado. As janelas permitiam-lhe ter uma vista incrível de Central Park e do perfil famoso da cidade. A decoração e tudo isso transmitia uma sensação de poderio de que ela desfrutava durante o dia, antes de voltar, todas as noites, ao seu apartamento minúsculo em Brooklyn. Ir para Nova Iorque fora o primeiro objetivo completo da sua lista de objetivos na vida. Depois de cinco anos a sarar, finalmente, pusera um ponto final àquela doença horrível que lhe arrebatara tantas coisas. Embora tivesse ficado mais tempo de que previra como secretária de Antonio e tivesse tido de renunciar a alguns dos seus objetivos na vida… preferia ignorar isso. Estava contente e teria sempre tempo no futuro, no seu futuro.
– Sabes porque vem?
Emma levantou o olhar e viu James, um executivo de escalão baixo que estava muito nervoso, quase em pânico. Ele tirou os óculos e observou-a com uns olhos inchados pelo sono enquanto os outros empregados, igualmente nervosos, olhavam do corredor.
A notícia da chegada iminente de Antonio devia ter-se espalhado como a pólvora porque, embora não fosse estranho ver alguns empregados a trabalhar como loucos àquela hora da manhã, era estranho vê-los todos. No entanto, era o que Antonio Arcuri conseguia. Ele não pedia nada, mas esperava tudo. Não exigia, não era preciso.
– Já chegou? – voltou a perguntar James, sem esperar que respondesse à primeira pergunta.
– O senhor Arcuri tem de tratar de certos assuntos, é só isso.
– É que… Dada a situação atual…
– A Arcuri Enterprises é suficientemente forte para sobreviver a qualquer situação.
Antonio interrompeu-o num tom cortante.
Emma odiava que entrasse silenciosamente nas divisões, como uma pantera, e sentiu pena do pobre James que, antes de sair a correr, passara de estar pálido de medo a estar vermelho de humilhação.
– Porque parece que todos pensam que vou despedi-los? – perguntou Antonio a Emma, com raiva.
Conteve a vontade de suspirar. Evidentemente, estava desse humor, um humor que lhe facilitava conter a vontade de o comer com o olhar.
– É um pouco estranho que interrompas a tua estadia na Itália.
– Preciso de uma videoconferência com o Danyl e o Dimitri imediatamente. Também preciso de um relatório completo sobre o Benjamin Bartlett. Tudo o que possas saber sobre ele e a sua empresa.
Disse aquilo por cima do ombro enquanto se dirigia para o seu escritório.
– Vou chamar a equipa de investigação imediatamente.
– Não. – Antonio parou a meio do caminho. – Ninguém pode saber. Quero que o faças pessoalmente.
Dito isso, Antonio chegou ao seu escritório, entrou e fechou a porta com força. Emma voltou a suspirar e fechou a pasta que abrira em cima da mesa. Era sobre o baile de gala de beneficência da Fundação Arcuri, um assunto a que já dedicara muito do seu tempo livre, mas soube que teria de a levar para casa. Enquanto marcava os números de Dimitri e Danyl, que já sabia de cor, questionou-se quem seria Benjamin Bartlett e porque seria tão importante.
Antonio Arcuri queria apaziguar a adrenalina que lhe corria pelas veias. Tirou o casaco do fato, atirou-o para o sofá e, em vez de se sentar, foi até à janela.
Decidira que atribuiria a Emma a investigação sobre Benjamin Bartlett durante o voo de regresso de Itália, da casa da sua mãe em Sorrento. Impressionara-o, durante os últimos dezoito meses, que a sua secretária fosse tão tranquila e imperturbável. Dezoito meses em que reprimira esse interesse sensual e não desejado que despertara quando entrara naquela limusina que o levara ao clube Asquith de Londres.
Naturalmente, também ajudara que ela se vestisse como se fosse a fundadora de uma ordem religiosa e não mostrasse o mínimo interesse nele, à exceção da sua relação profissional. Tivera outras secretárias e tinham arqueado as sobrancelhas com desconforto quando lhes pedira certas coisas indiscretas, como rejeitar ex-amantes ou comprar presentes de… despedida. Emma, apesar do que a sua aparência conservadora indicava, levara tudo a cabo sem pigarrear. A única coisa que lhe pedira fora que aprovasse o orçamento.
Em resumo, Emma Guilham fazia muito bem o seu trabalho.
Fora precisamente por isso que confiara para que se ocupasse da investigação sobre Benjamin Bartlett. Não podia deixar que descobrissem o seu interesse antes de conseguir marcar um encontro com ele. No entanto, o seu objetivo não era o próprio Benjamin Bartlett. Poderia ter ficado com a sua empresa famosa e histórica, mas não tinha nenhuma necessidade de a acrescentar à sua carteira de investimentos. Não. O seu objetivo era o outro possível investidor, o investidor que queria esmagar até não restar nada.
smoking
– Que baile? – perguntou Antonio.
– O baile de gala de beneficência anual da Fundação Arcuri. Costumas estar na Itália durante estas duas semanas e é por isso que nunca te mandam um convite.
– Celebramos um baile de gala de beneficência?
Antonio surpreendeu-se ao ver, pela primeira vez em dezoito meses, algo parecido com um brilho de raiva nos olhos de Emma.
– Sim – confirmou, num tom cortante, embora tentasse disfarçar o que sentia com a sua frieza habitual. – Além disso, será o lugar perfeito para que encontres uma noiva.