Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2012 Robyn Grady. Todos os direitos reservados.
UM DESTINO CRUEL, N.º 1465 - maio 2013
Título original: The Wedding Must Go on
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Publicado em português em 2013
Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
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I.S.B.N.: 978-84-687-2953-4
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño
www.mtcolor.es
A pior pessoa possível, no pior momento possível.
À porta do armazém, Roxanne Trammel admitiu que o aspeto não era o problema. O convidado que estava à espera no balcão da loja de vestidos de noiva, em Sidney, media mais de um metro e oitenta, era incrivelmente masculino e com um corpo... Aqueles olhos azuis e aquele cabelo preto acelerariam o coração de qualquer mulher, incluindo o dela.
Roxy desejou morrer, porque conhecia aquele homem. Conhecia-o bem. O facto de ter escolhido aquele vestido de noiva, há instantes, era apenas a gota de água.
Junto do balcão, Nate Sparks franziu o sobrolho antes de ver as horas no relógio de pulso e esfregar o pescoço... O mesmo pescoço forte a que Roxy se agarrara com fervor naquela noite fatídica de primavera, quando tinham partilhado o seu primeiro e único beijo. Se fechasse os olhos, ainda conseguia sentir o cheiro dele e a barba incipiente no seu rosto. A magia da proximidade transportara-a para outra época. Para outro lugar. Tinha de admitir que não quisera que o beijo acabasse.
Mas acabara e da pior maneira imaginável.
– Está alguém?
Nate espreitou para trás do balcão e olhou à sua volta, enquanto Roxy mordia o lábio e desejava que ele se fosse embora. Não tinha nada a dizer a Nate Sparks e muito pouco tempo para resolver o problema com o vestido que envergava. O futuro de pelo menos três pessoas, dependia de certas respostas.
Nate encontrou um bloco de notas da Vestido Perfeito em cima do balcão e tirou uma caneta dourada do bolso de dentro do casaco. Encostou a caneta na covinha do queixo e, com mão firme, começou a escrever. Roxy aproximou-se um pouco mais da porta.
O que teria a dizer? «Perdoa-me, por te ter tratado tão mal. Por favor, vem jantar comigo.» Improvável. A sua saída a toda a velocidade, teria deixado um torpedo da marinha verde de inveja. Não era que não tivesse desfrutado do beijo, como ela. Ninguém podia fingir aquela intensidade, nem sequer um homem que, segundo os rumores, tinha muitas namoradas. Só podia haver uma explicação para o seu comportamento daquela noite.
Visto que se tinham conhecido na festa de noivado dos amigos e ela falara com tanta paixão da sua profissão, do mundo dos casamentos, talvez ele tivesse pensado que queria levar aquele primeiro beijo muito mais longe. Até ao altar, por exemplo.
Na verdade, Roxy achava que o casamento era um passo muito importante. A experiência dizia-lhe que manter uma relação requeria mais do que atração e vontade de ter uma vida de conto de fadas. Mesmo assim, embora não tivesse interesse em explicar a sua opinião a Nate Sparks, também não podia ficar escondida atrás daquela porta, para sempre. O seu sentido de dignidade não o permitiria.
Portanto, endireitou os ombros, respirou fundo, abriu a porta e saiu para a sala principal, usando o vestido de noiva. Nate levantou a cabeça e esbugalhou os olhos. Engoliu em seco e, um segundo depois, lembrou-se de sorrir.
– Estás aqui. Estava a deixar-te um bilhete – olhou para baixo e deixou escapar uma gargalhada nervosa. – Bonito vestido. Atendes sempre as pessoas com um vestido de noiva?
Roxy não pôde evitar e provocou-o.
– Só quando me sinto sozinha.
Quando os olhos de Nate se esbugalharam ainda mais, Roxy gemeu. Ele não sabia se devia relaxar e fingir ser um bom perdedor ou virar-se, fugir e repetir a história. Roxy teria preferido queimar a sua loja, a permitir que se aproximasse dela novamente.
Com a cabeça bem erguida, Roxy tirou a tiara e deixou o véu no balcão.
– O que posso fazer por ti, Nate?
– Greg disse-me, hoje de manhã. Suponho que Marla já te contou.
Roxy tirou os brincos de diamantes.
– O casamento foi cancelado – declarou.
A pessoa para quem desenhara aquele vestido já não ia casar. Sentia-se devastada, principalmente por Marla, mas também por si mesma. Aquele vestido era o mais bonito que já criara... Um vestido que despertaria o interesse dentro da indústria, no momento em que mais precisava.
– Greg é um bom amigo. O meu melhor amigo – disse Nate.
– Marla também é a minha melhor amiga.
– Bolas, eles deviam ficar juntos.
– Depois de Marla ver as fotografias, ficou convencida de que não é assim – disse Roxy. – Francamente, estou de acordo com ela.
Sentiu um aperto no coração. Sabia como Marla se sentia. Na semana depois do incidente da festa de noivado, a fotografia de Nate aparecera numa revista de mexericos. Fora fotografado com uma morena de seios grandes e lábios carnudos. Roxy enfurecera-se tanto, que rasgara a página ao meio.
– As fotografias eram comprometedoras – admitiu Nate.
– O noivo bêbado, com uma mulher seminua... – disse ela. – Não sei em que é que o suposto amigo de Greg estava a pensar, ao publicar as fotografias no seu perfil. E não te atrevas a dizer que essa indiscrição aconteceu durante a despedida de solteiro de Greg. Isso não é desculpa – Roxy semicerrou os olhos e cruzou os braços. – E onde estavas? Os padrinhos existem, para impedir que aconteçam essas coisas.
– Eu tinha uma reunião de manhã, no dia seguinte. Não pude cancelá-la.
– Oxalá as coisas fossem diferentes... – por várias razões. – Mas Greg fez uma coisa má e, francamente, não gosto que apareças aqui sem avisar e tentes convencer-me do contrário.
Não suportava ver Marla tão triste. Desejava que houvesse uma maneira de a ajudar, mas ouvir um homem em quem não confiava, um homem propenso a minimizar o mau comportamento, não era a solução. Sim, Greg sempre parecera devoto, no entanto, por vezes, as pessoas em quem deveria ser possível confiar eram as que tinham de ser mais vigiadas e Roxy sabia bem disso. Tendo em conta o seu próprio passado, Roxy apoiava a decisão de Marla. Mesmo assim, havia uma questão por responder.
O que aconteceria ao vestido? Depositara muitas esperanças nele. Para o seu grande futuro como estilista.
Durante meses, naquela indústria, falara-se de uma oportunidade incrível. Um concurso. O vestido vencedor desfilaria nas passarelas parisienses e apareceria na Casamento Feliz, a melhor publicação mundial sobre casamentos. Além disso, a criadora seria recompensada com uma avultada soma em dinheiro e um ano de estágio com a melhor estilista de vestidos de noiva de Nova Iorque.
Roxy passara noites em branco, a sonhar que ganhava o prémio. Desde o liceu, a única coisa que tinha desejado era desenhar vestidos de noiva, todo o tipo de criações que se ajustassem a todo o tipo de noivas. Não conseguia imaginar uma profissão mais gratificante. Há cinco anos, depois de completar vários cursos e ter experiência noutras lojas, tinha criado o seu próprio negócio, mas Roxy queria aprender mais. Ser mais. Ter tudo o que pudesse.
Aquele concurso era a sua oportunidade.
Fizera o possível para participar. Na semana anterior, entrara nos cinquenta melhores mas, antes de poder dar a boa notícia a Marla, a amiga anunciara que ia cancelar o casamento. Visto que havia o requisito de que todas as criações fossem até ao altar, antes do dia trinta e um daquele mês, aquele lindo vestido não poderia receber o prémio final. Sem casamento, não havia estágio. E também não havia dinheiro. De repente, o recente período de vendas escassas e contas elevadas tornou-se muito mais desolador.
Enquanto Roxy guardava os brincos na caixa, por baixo do balcão, absorta nos seus pensamentos, Nate andava de um lado para o outro. Ela reparou na mão dele, que deslizava na superfície de vidro do balcão e pensou que era apenas uma mão. Grande. Bronzeada. Com dedos que exibiam uma manicura perfeita. E, mesmo assim, apesar de a ter envergonhado naquela noite, não pôde negar que as lembranças criavam um calor intenso na sua barriga. Durante aqueles breves segundos, quando a beijara, todo o seu corpo ganhara vida, um fenómeno que a deixara quente e inebriada.
Um pouco como se sentia naquele momento.
Maldito Nate!
Com as faces coradas, Roxy reprimiu um suspiro e ouviu a última parte do comentário de Nate.
– Deve haver algo que possamos fazer, para que voltem a ficar juntos.
Roxy fechou a gaveta do balcão e pensou na situação da amiga, assim como na sua própria situação.
– Seja o que for que tens em mente, diz-me.
Enquanto Nate olhava para Roxanne Trammel, cruzou os braços.
Tinha estatura média. Não tinha um corpo de escândalo. A voz era mais suave do que sensual. As feições não eram nada de excecional. Nem a sua maneira de falar ou de rir. E, mesmo assim, havia algo naquela mulher que era frustrantemente atraente.
Nate aceitava aquela realidade, do mesmo modo que aceitava que o aço amolecia a uma determinada temperatura. Uma temperatura semelhante à que o seu sangue alcançara ao sucumbir à beleza de Roxy, há seis meses. Não gostara de a deixar confusa e magoada naquela noite, mas também jurara que o seu primeiro beijo seria o último. Se voltassem a encontrar-se em algum lugar, por exemplo, no casamento de amigos, não permitiria que se repetisse a história, mesmo que a continuação da raça humana dependesse disso.
Aquele vestido que Roxy usava devia servir de aviso e de fator dissuasivo. Ele era um homem decidido, solteiro, e pretendia continuar assim. E, mesmo assim, ao ver aqueles olhos verdes, brilhantes, tinha de fazer um esforço para não cometer um segundo erro. Só que, naquela ocasião, se sucumbisse, não sabia se conseguiria parar.
– Não sei porque o defendes agora – disse ela. – Greg é responsável pelas suas próprias ações, embora, evidentemente, precise de ser vigiado – e encolheu os ombros. – Espero que a tua reunião tenha valido a pena.
– Deverias ter em conta a oportunidade de fundar um negócio em que Greg e eu tínhamos trabalhado durante meses.
– Vão ser sócios? A julgar pelo que Marla me disse, Greg está comprometido com o negócio da família.
Nate susteve a respiração. Não queria revelar nenhum segredo, mas precisava da ajuda de Roxy para voltar a juntar os amigos, o que significava que tinha de dar algumas respostas e manter a fé. Portanto, quando Roxy se mexeu para levantar uma pequena caixa de cartão do chão, ele aproximou-se para a ajudar e declarou:
– Há algum tempo que Greg quer montar um negócio sozinho.
Tirou-lhe a caixa, deixou-a no balcão e, em seguida, Roxy abriu a tampa e tirou uma liga cor de malva, com folhos. Nate reparou na peça de renda e várias palavras lhe surgiram na mente. Sedutora. Sensual. Imaginou que uma loja de vestidos de noiva venderia todo o tipo de acessórios.
Roxy fez girar a liga à volta do dedo indicador uma vez, duas vezes...
– A família dele tem uma grande empresa metalúrgica, não é?
– Aço. Fabrica e distribui aço, e produtos relacionados. Eu trabalho na administração de uma empresa rival.
Enquanto falava, ela abriu uma gaveta e, olhando através do vidro do balcão, pôs a liga sobre um tecido acetinado.
– Greg e eu conhecemo-nos mediante contactos nessa indústria – continuou Nate, num tom mais profundo. – Partilhamos pontos de vista semelhantes sobre o futuro do aço. Tendo em conta a economia e os assuntos ambientais, pensávamos que as oportunidades eram infinitas.
Esperava que dissessem alguma coisa mais relevante e então poderiam avançar verdadeiramente.
– Portanto, reuniram esforços? – perguntou Roxy.
Quando tirou um negligé curto, da mesma caixa, Nate pestanejou e, num segundo, imaginou-a com aquilo vestido. Imaginou o decote e a cintura. Sabia que a pele dela seria suave e quente, tal com o toque dos seus lábios naquela noite.
Voltou a pestanejar e regressou ao presente. Enquanto Roxy punha o negligé junto da liga, ele pigarreou e ficou a olhar para a gravata, para se distrair.
– Greg e eu decidimos que precisávamos de um grande investidor para fazer tudo bem. Na semana passada, um possível investidor aterrou em Sidney. Ao telefone, Bob Nichols afirmou que gostava do nosso modelo de negócio e mostrou-se interessado em saber mais, mas tinha pouco tempo. Antes de regressar ao Texas, concedeu-nos uma reunião às cinco da manhã do passado domingo. A manhã depois da festa de Greg.
– E o que pensa o pai de Greg, de o filho abandonar o negócio da família?
– O senhor Martin não acha graça. Apoia Greg mas, em troca desse apoio, espera lealdade total à família e à empresa.
Roxy tirou da caixa um triângulo de cetim, não maior do que uma carta. Com os elásticos a pender de entre os dedos, também o pôs debaixo do balcão.
Enquanto alisava as peças com a mão, o coração de Nate acelerou, porque imaginava Roxy num quarto mergulhado na penumbra, usando tudo aquilo. A liga, o negligé e a tanga. Na sua imaginação, enquanto ele se ajoelhava à frente dela, deslizava-lhe as mãos pelas ancas e ela sussurrava o seu nome, passava-lhe os dedos pelo cabelo e aproximava a cabeça.
– E o senhor Nichols continuou interessado, depois da reunião? – perguntou Roxy.
Regressou ao mundo real.
– Sim. Embora isso também não importe. Greg e eu falámos hoje de manhã. Desde que Marla cancelou o casamento, perdeu a motivação. Neste momento, vai ficar na empresa da família.
– E porque não segues tu em frente? Com o senhor Nichols, quero dizer.
«E me deixas em paz», pareceu acrescentar com o seu tom de voz.
– Era o nosso projeto e sei que Greg lamentará, se se retirar agora.
– E? – perguntou ela, com uma sobrancelha arqueada.
Ele suspirou e rendeu-se.
– E duas cabeças com conhecimentos são melhores do que uma.
Estava satisfeito com as suas habilidades mas, nos negócios, tal como na vida, uma pessoa precisa de todos os reforços possíveis. A descida para o fracasso era escorregadia. A queda do pai, quase até à pobreza, mostrara-lhe bem essa lição.
Roxy pôs a mão outra vez na caixa. Antes de conseguir tirar qualquer outra coisa, Nate tirou a caixa do balcão e pousou-a no chão.
– Penso que – disse ele, – se conseguir deixar Greg e Marla a sós, ela ouvirá a versão dele da história e aceitará que as fotografias eram tendenciosas.
– Oh, achas?
– Conseguirão resolver as coisas.
– Então, seguirão em frente com o casamento – replicou ela, – e tu recuperarás o teu sócio.
Correto.
– A pergunta é... Conto contigo?
– Deves estar um pouco surdo. Já te disse para não me envolveres nisso.
– Dá-me um pouco de tempo e poderei convencer-te.
– Não.
– Cinco minutos – insistiu ele. – Tenho um plano. Poderá fazer a diferença entre a felicidade definitiva da tua amiga ou uma vida de solidão.
– Que dramático!
Nate franziu o sobrolho.
– Sim, bom, é muito importante para eles.
– E o menino bom, ou seja, tu, não tem nada a perder.
Nessa ocasião, Nate devolveu-lhe o golpe e lançou-lhe um olhar penetrante.
– Isto não é por causa de Greg e da despedida de solteiro, pois não? Não se trata de quereres ajudar e impedir que a tua amiga cometa um dos maiores erros da sua vida. Estás a ser teimosa por causa daquilo que aconteceu entre nós, há meses. Sentiste-te rejeitada e estás disposta a deixar que a tua amiga sofra, porque estás zangada comigo.
– Se achas que esse argumento ajudará a tua causa, tens um ego maior do eu que pensava. Tratas as mulheres como «coisas». Talvez escolhas amigos que fazem o mesmo, mas nenhum de vocês gosta que vos digam isso na cara.
As palavras ardiam-lhe na ponta da língua, mas não daria a Roxy a satisfação de agir como tinha previsto. Estava prestes a dizer-lhe que esquecesse que sugerira que o ajudasse.
De facto, podia ir para o inferno.
Dirigiu-se para a saída, abriu a porta e teve de se conter para não bater com a porta ao sair. Já tinha andado vários metros na calçada, prestes a chocar com algumas pessoas, quando a raiva que lhe toldava o julgamento desapareceu um pouco. Por muito atraído que se sentisse por Roxanne Trammel, era incómodo estar ao seu lado. Faria bem em não voltar a vê-la, em nenhuma circunstância.
Mas, sendo sincero, compreendia que estivesse incomodada com o seu comportamento daquela noite. Nate nunca fizera algo parecido e desculpar-se enquanto fugia não serviria de nada, mas Roxy não queria uma confissão. No entanto, queria ajudar a amiga. Estava convencido de que Marla deveria ouvir Greg e isso não aconteceria se ele não engolisse o seu orgulho, se virasse e tentasse persuadir Roxy a colaborar, mais uma vez.
Roxy ainda estava de pé atrás do balcão, com aquele vestido de noiva, a observar os acessórios da vitrina, quando a campainha da porta tocou e, com o chapéu na mão, Nate voltou a entrar na loja. Ela abriu a boca, mas ele levantou a mão.
– Preferiria contar-te as minhas ideias, cara a cara.
– Não sei a que horas estarei livre.
– Poderia ir dar uma volta. Ou ajudar mais. Talvez possa reparar o fecho – sugeriu ele. – Lamento muito.
– Suponho que não poderás ajudar, se fores muito bruto.
– Deveria ter tido mais calma.
Talvez nem sequer devesse estar ali, mas acreditava em Greg e não podia abandoná-lo. Também acreditava no seu negócio e também não podia abandonar isso. Não havia outra saída e, para levar a cabo o seu plano, precisava de ajuda. Precisava de Roxy.
Radiante sob as luzes da loja, Roxy ofereceu-lhe o cartão, mas Nate percebeu que ela tinha o coração acelerado. Estranho, mas naquele momento foi como se conseguisse sentir os batimentos do coração dela.
Quando ela se aproximou mais, Nate estendeu a mão e aceitou o cartão. Não quisera que os dedos se tocassem, mas aconteceu.
Perguntou a si mesmo o que teria acontecido, se tivesse ficado naquela noite, há seis meses. Que princípio da física dizia que teria de partilhar o destino do pai, assim como o do avô? Mas, enquanto olhava para Roxy, o mundo pareceu desaparecer e uma série de imagens surgiram na sua mente...
Os pais no dia do casamento, dois meses depois de se conhecerem. O avô e a avó vestidos de noivos, apenas seis semanas depois do seu primeiro encontro. Se alguma vez mencionasse o mito, o pai simplesmente encolheria os ombros. Quando um homem Sparks encontrava a mulher adequada, já não importava mais nada. Era melhor render-se. Os sinos do casamento tocariam de qualquer maneira.
Depois de casar, o pai tinha abandonado o seu sonho de acabar o curso de medicina e tornar-se cirurgião. Em vez disso, aceitara um emprego num hospital, o que se traduzia em menos dinheiro para sustentar os cinco filhos que tinham tido, mas mais tempo para estar com a sua adorada esposa, a única coisa na sua vida que parecia importar. Embora, nem sempre fosse tão romântico como poderia parecer.
Nate não podia esquecer as semanas em que a mãe estivera convalescente, depois de um acidente de viação, quando ele tinha doze anos. As crianças tinham precisado de autoridade, força e esperança. Em vez disso, o pai deixara de comer e de falar. Murchara, por amor. Também não esquecia a vez em que o pai tivera a oportunidade de voltar a estudar, mas decidira apoiar o sonho da esposa de se tornar pintora, quando nem sequer tinham dinheiro para comer.
Havia outras histórias semelhantes sobre os homens Sparks e as suas mulheres, ao longo da história. Casamentos precipitados, seguidos de uma vida de cega devoção. Seriam os genes ou uma maldição? Claro que também podia ser uma coincidência.
Contudo, ao perceber que pusera a outra mão na cintura de cetim de Roxy, ao perceber que estava a inclinar a cabeça para ela, soube a verdade.
As coincidências não tinham nada a ver com isso.
Deveria ter fugido, quando ainda estava a tempo.