Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2003 Karen van der Zee
© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.
Um tornado no seu coração, n.º 788 - Abril 2015
Título original: Midnight Rythms
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Publicado em português em 2004
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-6960-8
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Epílogo
Se gostou deste livro…
O belo homem estava à beira da piscina, totalmente nu, iluminado pela luz da lua cheia. Samantha parou e olhou fixamente para ele.
– Estarei a ter alucinações? – murmurou.
A alça da mochila pesava-lhe sobre o ombro. Afinal, ela tinha-a trazido às costas durante meio quilómetro, desde que deixara o seu carro na estrada com o depósito de combustível vazio.
Estava exausta. Nas duas últimas semanas dormira apenas cinco horas por noite e parecia-lhe normal estar com alucinações. Fechou os olhos por um momento, para os reabrir logo em seguida. Não estava nenhum homem nu na piscina. Soltou um profundo suspiro de alívio. Só queria entrar em casa, tomar um banho e dormir.
Entrou pela porta da frente, largou a mochila no chão e praticamente arrastou-se até ao quarto. Tirou os sapatos, atirou-se para a cama e pegou no telefone para ligar para Gina, no hospital. Gina era enfermeira e estava de plantão.
– Estou louca – disse à amiga. – Completamente louca.
– O professor careca voltou a chatear-te?
– Sim, mas não é isso… – Samantha desabotoou a blusa e despiu-a. – Posso lidar com ele, mas acho que ando a ver coisas. A minha cabeça está a pregar-me partidas.
– O que queres dizer com isso de andares a ver coisas?
Sam começou a rir, sem se poder conter.
– Não vais acreditar. Andei meio quilómetro até casa e…
– Eu acredito, Sam. Isso é um aviso. Vais pifar, se não relaxares e parares durante algum tempo. Mas, diz-me, o que viste de tão engraçado?
– Vi um homem à beira da piscina.
– Um homem?!
– Sim – Samantha fechou os olhos, revendo a cena. – Completamente nu. Nu e gloriosamente belo, iluminado pela lua cheia. Parecia uma estátua grega ou romana. Parecia o David de Miguel Ângelo. Maravilhoso! Artisticamente falando, é claro.
– É claro… – concordou Gina.
– Parecia estar muito à vontade na piscina, como se fosse realmente uma estátua. Ontem, uma pessoa mostrou-me uma brochura de uma agência de viagens, com pinturas italianas, fontes e estátuas. Por isso estou a relacionar o homem com as obras de arte romanas. Deve ter sido efeito da luz, acho eu.
– Que alívio! – exclamou Gina. – Fiquei preocupada que estivesses a ficar louca devido ao que te disse ontem.
– Já me tinha esquecido – respondeu Sam, com o sobrolho carregado.
Gina dissera-lhe que já era tempo de pensar em romance, de arranjar um homem, de encontrar o amor. Estava sozinha há muito tempo e merecia encontrar um bom parceiro.
Gina tinha boas intenções, mas Samantha não queria ter nenhum romance. Estava ocupada demais com o trabalho e com os seus estudos, determinada a terminar a faculdade antes de completar os trinta anos de idade, o que aconteceria no ano seguinte.
Samantha suspirou.
– Do que eu preciso neste momento não é de um homem, mas de um bom banho e de uma boa noite de sono. Não tenho de estudar na parte da manhã e pretendo dormir até às sete.
– Boa! Até às sete horas! Estou impressionada. E quanto ao carro?
– Oh… é verdade!
Samantha passou a mão pelos cabelos húmidos de suor. Grossos e ondulados, a única maneira de os manter no lugar era prendê-los num rabo-de-cavalo. Talvez devesse usar o cabelo curto. Seria mais prático e fresco para enfrentar o calor do Verão.
– Levo o carro da Susan e vou até a um posto de abastecimento para comprar gasolina e encher o depósito do meu carro. Depois volto. Isso vai levar uma hora. Adeus sono – gemeu.
Sam abriu o fecho da saia, tirando-a.
– Meu Deus, que dia terrível. O ar condicionado do escritório não funcionou e houve uma crise atrás da outra. Tive de ficar até tarde e quase não conseguia chegar à faculdade a tempo de assistir às aulas. Nunca tenho tempo para jantar. Devia estar com fome, não achas? Mas não estou. Com este calor, quem tem vontade de comer?
Acabou de se despir e foi para a casa de banho do quarto, levando o telefone sem fios.
Olhou-se no espelho. Parecia pálida. Já não tinha nem blush. Talvez fosse a luz da casa de banho. Sorriu e desviou o olhar.
– Até que enfim – disse Sam, abrindo o chuveiro. – Como estão as coisas contigo?
– Bem. Tudo como de costume. Que barulho é esse?
– O chuveiro. É melhor entrar já, senão daqui a nada não tenho forças para ficar de pé. Falo contigo depois.
– Calma, Sam. Alucinações com homens nus não são um bom sinal. A tua feminilidade anda a querer dizer-te alguma coisa.
Samantha olhou para o tecto.
– Sim, mamã.
Samantha tomou banho, lavou a cabeça e, apesar de continuar cansada, sentiu-se melhor. Vestiu um roupão curto atoalhado e o seu aspecto também melhorou. Agora sentia fome e sede. Secou a cabeça e penteou os cabelos para trás, dirigindo-se em seguida para a cozinha, para comer alguma coisa. Talvez uma banana e um copo de leite. Não tinha a certeza se havia mais alguma coisa para comer. Não fazia compras há dias.
O chão estava frio sob os seus pés descalços e isso proporcionou-lhe uma agradável sensação.
Era uma casa muito bonita. Ela estava feliz por ter a oportunidade de viver ali durante algum tempo, para tomar conta da casa de Susan e Andrew, uns amigos que estavam a fazer uma viagem de seis meses pelo sul da Europa, para filmarem um documentário. Tinha sido uma sorte, pois o apartamento onde morava tinha sido vendido e ela tivera de sair.
Tomar conta da casa de Susan e Andrew fora a solução perfeita. A casa era térrea, espaçosa e arejada, com uma mobília moderna e confortável. Tinha uma varanda de madeira, uma piscina e uma grande área exterior.
Habituada a viver num apartamento, Samantha achava aquele espaço todo maravilhoso embora, às vezes, se sentisse um pouco só.
A cozinha estava iluminada. Teria deixado a luz acesa desde manhã? Não… impossível. Além disso, não estava acesa quando chegara. Ficou preocupada, mas entrou. E o seu coração quase parou.
Com uma toalha vermelha em volta das ancas estava o David de Miguel Ângelo a beber um uísque.
Samantha ficou gelada. Ele era alto, bronzeado e forte. Os seus cabelos pretos e curtos estavam molhados e os seus olhos escuros fixaram-na com surpresa. Depois, ele sorriu.
– Eu não sabia que você estava em casa – disse ele, colocando a garrafa de uísque sobre o balcão. – Não quis assustá-la.
Quem seria aquele homem?
Mesmo cansada, Samantha não pôde deixar de observar que ele era muito bonito. Tinha uns traços fortes, um maxilar quadrado, o nariz levemente curvo e uns olhos escuros e inquisidores. Um rosto bastante másculo. Tinha o tórax largo e pernas e braços musculosos. Irradiava virilidade.
– Não recebeu as minhas mensagens? – perguntou ele, tomando um gole da bebida. – Telefonei várias vezes ontem e hoje e deixei mensagem no gravador de chamadas.
– Não, não ouvi.
Ela ainda não tinha ligado o gravador de chamadas, que se encontrava no escritório de Andrew. Como não tinha gravador de chamadas, também não possuía o hábito de o usar.
– Você deve ser a Samantha.
– E você deve ser o David.
Ele franziu o sobrolho.
– Pensei que não tivesse ouvido as mensagens.
– E não ouvi.
– Mas sabe o meu nome.
Oh, não! Não podia ser verdade. Samantha teve vontade de rir. O nome dele era David!
– Adivinhei… – disse ela, tentando parecer casual.
– Adivinhou? No meio de tantas possibilidades, acertou? Como?
Porque parecias o David de Miguel Ângelo, nu, à beira da piscina.
Não lhe podia dizer isso. Então, encolheu os ombros, mostrando indiferença.
– Às vezes faço isto. Adivinho. Algumas pessoas parecem-se com o nome que têm. E você tem cara de David.
– Ah… – murmurou ele. – Ainda bem. Não gostava de parecer Flip ou Bucky.
Pela sua inflexão de voz, Samantha não conseguiu perceber se ele estava a gozar com ela. Cruzou os braços sobre o peito numa posição de defesa, desejando que ele não fosse tão belo e seguro de si.
– Então… Quem é você e o que está a fazer na minha casa?
Era estranho, mas não sentia medo. Ele era um homem forte, mas não ameaçador.
– Eu podia chamar a polícia, sabe?
David não pareceu impressionado com aquela ameaça. Ergueu uma das sobrancelhas e pareceu divertir-se.
– Esta casa não é sua – respondeu com calma, tomando outro gole da bebida. – É da Susan e do Andrew McMillan e eu sou o David McMillan, o primo do Andrew.
«Sim, Vossa Majestade», sentiu-se Sam tentada a dizer.
– Oh… – balbuciou ela. – Mas eu estou a tomar conta da casa deles e que direito tem você de irromper por aqui, perturbando a minha privacidade?
– Não tive a intenção de perturbá-la. Por isso telefonei antes. Preciso de um lugar para ficar durante alguns meses, tinha uma chave e…
– O quê!? Você vai-se mudar para esta casa? – Sam sentiu uma descarga de adrenalina, pôs as mãos nas ancas e continuou: – De forma alguma! Não se vai mudar para cá!
Samantha falou com energia, como se pudesse evitar que aquele homem de físico perfeito e músculos desenvolvidos fizesse o que tinha em mente.
Ele tomou o resto da sua bebida e olhou-a fixamente.
Irritada, ela sentiu a cabeça a começar a latejar. Subitamente teve vontade de chorar, coisa que não fazia há anos.
Bem, pelo menos não tivera alucinações. Vira realmente David McMillan, nu, à beira da piscina.
Samantha esfregou a testa, tentando apagar aquela imagem da sua cabeça. O momento não era propício para fantasias. Tinha consciência de que estava a ser observada por aquele par de olhos escuros e atentos.
David aproximou-se e apoiou a mão no ombro delicado.
– Sente-se. Você parece estar à beira de um colapso nervoso.
Ela desabou sobre uma cadeira, como se fosse um saco de batatas.
Um momento depois, ele colocou um copo com meia dose de uísque nas mãos de Samantha e sentou-se diante dela.
– Não precisa de se preocupar – disse David calmamente. – Não sou um assassino nem um violador… e amanhã podemos ligar para a Susan e o Andrew.
– Podemos telefonar-lhes agora.
– Podíamos, mas é de madrugada na Turquia e acho que eles não iriam gostar. Agora, beba. Isto vai acalmar-lhe os nervos.
Samantha cerrou os dentes, com raiva.
– Você dá sempre ordens às pessoas?
David ficou surpreendido, como se nunca tivesse pensado nisso.
– Sim… – disse ele sorrindo. – Agora relaxe e tome um gole desta bebida.
Samantha desistiu de discutir.
– Não posso – disse ela, olhando para o líquido. – Ficaria enjoada. Não como nada desde o pequeno-almoço.
– Realmente, parece esfomeada. Vou preparar-lhe uma sanduíche.
David levantou-se e Samantha acompanhou os movimentos daquele homem fisicamente perfeito. Era evidente que tinha o hábito de dar ordens. E de ser obedecido.
Mas ela não tinha forças para se lhe opor, nem para se levantar e ir para o quarto. Assim, continuou sentada parecendo um zumbi, vendo-o a preparar uma sanduíche de queijo e presunto, com alface e tomate.
– Quer leite? Ou prefere chá… ou café?
– Leite, se houver.
– Há. Passei no supermercado, antes de vir para cá.
Samantha achou óptimo, já que não tinha nada em casa. Ela viu-o a tirar um pacote de leite do frigorífico e a despejá-lo num copo. Ele tinha umas mãos grandes e fortes.
Parecia normal ela estar ali, na cozinha, com um homem que lhe preparava uma sanduíche. Mas não era nada normal. Não o conhecia e ali estavam, ele vestido apenas com uma toalha de banho e ela apenas com um roupão sobre a pele.
Talvez estivesse a sonhar e em breve iria acordar, para descobrir que nada daquilo acontecera.
Se contasse a Gina, ela dir-lhe-ia que era o seu lado feminino a agir no inconsciente. Diria também que ela precisava de um homem.
Mas a única coisa de que precisava era de acabar o curso na faculdade, para ter segurança económica.
– Não a vi chegar – comentou David. – Não vi nenhum carro a entrar.
Ele tinha uma voz grave e forte. Samantha ficou perturbada e não gostou nada do que estava a sentir.
– Vim a pé.
Entre dentadas na sanduíche e goles de leite, ela contou-lhe o que tinha acontecido, sem se importar que ele a pudesse julgar estúpida por ter ficado sem gasolina.
– Parece exausta – observou ele.
– É verdade. Trabalho para o meu avô e ele está a ficar velho e temperamental.
Porque estava a dizer-lhe tudo aquilo? Não era hábito seu contar a um estranho coisas particulares.
– O que faz? – perguntou David.
Samantha riu-se.
– Depende. O meu avô dir-lhe-ia que sou a sua netinha que o ajuda no escritório. Ele tem uma loja de móveis.
– Você olha por toda a loja?
Ela confirmou, com um gesto de cabeça.
– O negócio caiu muito nos últimos anos e não sei durante quanto tempo poderemos mantê-lo, mas… – suspirou ela – …o avô age como se não percebesse.
Há anos que ela não era aumentada. O dinheiro simplesmente não existia. Com muitas outras grandes lojas nas redondezas, eles não tinham hipótese de sobrevivência. Por esse motivo, ela estava ansiosa por se formar. Tinha de fortalecer a sua experiência profissional com uma boa qualificação. Pretendia arranjar um emprego que lhe permitisse ter uma carreira e dinheiro. Tinha um filho para criar. Kevin tinha apenas dez anos, mas daí a uns oito anos deveria estar a entrar para a faculdade. Precisava de ter recursos para o sustentar.
Ela tomou outro gole de leite. Kevin estava a passar o Verão na Florida com a irmã e o cunhado dela, que dirigiam um campo de férias para crianças da sua idade. Estava a divertir-se muito e Samantha pôde frequentar aulas extras à noite, sem ter de se preocupar por deixá-lo sozinho.
Fechando os olhos, ela massajou a testa, tentando afastar aqueles pensamentos.
– Está bem? – perguntou David, aparentando preocupação.
– Estou bem… Apenas cansada.
Ela tinha comido a sanduíche rapidamente.
– Preciso de dormir.
Para isso precisava de se levantar, mas as suas pernas pesavam e recusavam-se a obedecer. Mas tinha que tentar. Empurrou a cadeira para trás e tentou levantar-se. Perdeu o equilíbrio.
– Calma… – disse ele, avançando na sua direcção.
Sem energia, o corpo de Samantha não obedecia aos seus comandos e ela caiu lentamente sobre o corpo de David, como se fosse uma boneca.
Teve consciência dos braços dele a ampararem-na e sentiu o seu rosto encostar-se ao peito nu daquele homem belo e forte.
Sentiu-se muito bem e totalmente protegida.
Protegida… Segura.
Samantha suspirou. Há muito tempo que não se sentia assim.
Então, sentiu algo mais do que conforto. O que ouvia ela? O seu coração ou o dele? E o calor? Era do seu corpo ou do dele?
De súbito, percebeu o que estava a acontecer e sentiu-se gelar. Embaraçada, afastou-se bruscamente, com as pernas a tremerem perigosamente.
– Desculpe-me… eu…
David sorriu, segurando-a ainda pelos braços.
– Não se preocupe. Gosto de abraços de boa-noite. Deixe-me levá-la para o seu quarto.
– Não, não… Estou bem – Samantha afastou-se mais e voltou-se. – Boa noite.
– Boa noite.
Ao deitar-se, ela pensou que ia dormir com um estranho a andar pela casa. Um estranho que a atraíra sexualmente.
Gemendo, apoiou a cabeça no travesseiro.
Seria David realmente primo de Andrew?
Bem, ele era parecido com Andrew. Ambos eram morenos e altos, confiantes e autoritários. Até podiam ser irmãos. Mas isso não demonstrava o carácter de David, nem as suas intenções. O que estaria ali a fazer?
Cobriu a cabeça com os lençóis e não pensou em mais nada. Queria apenas dormir.
O canto dos pássaros fê-la acordar na manhã seguinte. O quarto estava banhado de luz e, durante um momento, Samantha ficou aninhada na cama, como um gato preguiçoso. Então… saltou da cama. O seu carro! Precisava de gasolina. Estava atrasada!
Então, lembrou-se! Havia um estranho lá em casa. O seu coração disparou ao lembrar-se da noite anterior, do cheiro da pele dele, do contacto com aquele corpo belo e forte.
Respirou fundo. Agora não tinha tempo para pensar nisso.
Tomou rapidamente um banho, vestiu uma saia azul-marinho e uma blusa branca, prendeu os cabelos no alto da cabeça, pôs batom, pegou nas suas coisas e dirigiu-se para a cozinha.
David estava na varanda a ler o jornal.
Ao vê-la, ele aproximou-se.
– Sente-se melhor? – perguntou.
– Sim… Tenho de me desculpar… Eu realmente não queria…
– Nem eu – respondeu David sorrindo. – Pequeno-almoço? Eu faço-lhe companhia.
– Obrigada, mas estou atrasada.
– O seu carro não tem gasolina – lembrou-lhe ele.
– Eu sei.
Samantha serviu-se de café.
– Levo o carro da Susan para comprar gasolina e abastecer o meu carro. Depois trago o carro dela de volta e vou buscar o meu.
– Isso é demasiado complicado. Eu vou consigo. Assim, não terá de voltar.
– Não, obrigada. Não é preciso.
– É claro que não é preciso – ele pôs uma fatia de pão na torradeira. – Mas eu quero.
– Porquê?
– É sempre assim tão desconfiada? – perguntou David, erguendo uma das sobrancelhas.
Samantha encolheu os ombros e bebeu o café. Estava óptimo. Forte e aromático.
– Em relação aos homens, sim.
Surpreendeu-se com as suas próprias palavras. Normalmente não tinha o hábito de entrar em polémicas com estranhos.
– É uma pena ouvir isso. Teve uma má experiência e pretende vingar-se dos homens para sempre?
Ela olhou-o, surpreendida. Teria ele adivinhado?
Lembrou-se de Jason, que a abandonara com um bebé recém-nascido nos braços. Eles pretendiam casar depois de acabarem a faculdade mas, quatro meses após o nascimento de Kevin, Jason fez as malas e deixou-os. Três dias depois morreu num acidente, deixando-a viúva com apenas dezanove anos de idade.
Samantha ainda não aceitava o que acontecera. Como pudera Jason abandoná-la e ao bebé?
Ele dissera que ia ganhar muito dinheiro no ramo da construção e que poderiam criar um bebé, e que para isso não precisavam de acabar a faculdade.
Demorou algum tempo até ela entender porque motivo Jason queria um filho. Não tinha nada a ver com paternidade, mas sim com sabotagem. Na realidade, ele sentia-se ameaçado pelos projectos de vida dela.
E ali estava David, um desconhecido, a perguntar se ela tivera uma má experiência, como se visse através da sua alma.
Samantha tomou outro gole de café.
– Não. Sou apenas desconfiada. É só isso.