U M d e s t i n o D E D R A G õ E S
(LIVRO #3 O ANEL DO FEITICEIRO)
Morgan Rice
Sobre Morgan Rice
Morgan Rice é a autora do best-seller #1 DIÁRIOS DE VAMPIROS, uma série destinada a jovens adultos composta por onze livros (mais em progresso); da série de Best-seller #1 - TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA, um thriller pós-apocalíptico que compreende dois livros (outro será adicionado); a série número um de vendas, O ANEL DO FEITICEIRO, composta por treze livros de fantasia épica (outros serão acrescentados).
Os livros de Morgan estão disponíveis em áudio e página impressa e suas traduções estão disponíveis em: alemão, francês, italiano, espanhol, português, japonês, chinês, sueco, holandês, turco, húngaro, checo e eslovaco (em breve estarão disponíveis em mais idiomas).
Morgan apreciará muitíssimo seus comentários, por favor, fique à vontade para visitar www.morganricebooks.com faça parte de nosso newsletter, receba um livro gratuito, ganhe brindes, baixe nosso aplicativo gratuito, obtenha as novidades exclusivas em primeira mão, conecte-se ao Facebook e Twitter, permaneça em contato!
Crítica aclamada sobre Morgan Rice
“O ANEL DO FEITICEIRO reúne todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: tramas, intrigas, mistério, bravos cavaleiros e florescentes relacionamentos repletos de corações partidos, decepções e traições. O livro manterá o leitor entretido por horas e agradará a pessoas de todas as idades. Recomendado para fazer parte da biblioteca permanente de todos os leitores do gênero de fantasia.”
--Books and Movie Reviews, Roberto Mattos.
“Rice faz um trabalho magnífico ao atrair você para a história desde o início, utilizando uma grande qualidade descritiva que transcende a mera imagem do cenário… Muito bem escrito e de uma leitura extremamente rápida.”
--Black Lagoon Reviews (referindo-se a Turned)
“Uma história ideal para jovens leitores. Morgan Rice fez um bom trabalho, dando uma interessante reviravolta na trama… Refrescante e original. As séries giram em torno de uma garota... Uma jovem extraordinária!... Fácil de ler, mas com um ritmo de leitura extremamente acelerado... Classificação10 pelo MJ/DEJUS.”
--The Romance Reviews (referindo-se a Turned)
“Captou a minha atenção desde o início e eu não pude soltá-lo... Esta é uma história de aventura incrível que combina agilidade e ação desde o início. Você não encontrará nela nenhum momento maçante.”
--Paranormal Romance Guild (referindo-se a Turned)
“Carregado de ação, romance, aventura e suspense. Ponha suas mãos nele e apaixone-se novamente.”
--Vampirebooksite.com (referindo-se a Turned)
“Uma ótima trama, este é especialmente o tipo de livro que lhe dará trabalho soltar à noite. O final é tão intrigante e espetacular que fará com que você queira comprar imediatamente o livro seguinte, só para ver o que acontecerá.”
--The Dallas Examiner (referindo-se a Loved)
“Um livro que é um rival digno de CREPÚSCULO (TWILIGHT) e AS CRÔNICAS VAMPIRESCAS (VAMPIRE DIARIES) e que fará com que você deseje continuar lendo sem parar até a última página! Se você curte aventura, amor e vampiros este é o livro ideal para você!”
--Vampirebooksite.com (referindo-se a Turned)
“Morgan Rice mais uma vez mostra ser uma narradora extremamente talentosa… Esta narrativa atrairá uma grande variedade de público, incluindo os fãs mais jovens do gênero vampiro/fantasia. Terminou com uma situação de suspense tão inesperada que o deixará chocado.”
--The Romance Reviews (referindo-se a Loved)
Livros de Morgan Rice
O ANEL DO FEITICEIRO
EM BUSCA DE HERÓIS (Livro #1)
UMA MARCHA DE REIS (Livro #2)
UM DESTINO DE DRAGÕES (Livro #3)
UM GRITO DE HONRA (Livro #4)
UM VOTO DE GLÓRIA (Livro #5)
UMA CARGA DE VALOR (Livro #6)
UM RITO DE ESPADAS (Livro #7)
UM ESCUDO DE ARMAS (Livro #8)
UM CÉU DE FEITIÇOS (Livro #9)
UM MAR DE ESCUDOS (Livro #10)
UM REINADO DE AÇO (Livro #11)
UMA TERRA DE FOGO (Livro #12)
UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro #13)
TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA
ARENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro #1)
ARENA DOIS (Livro #2)
DIÁRIOS DE UM VAMPIRO
TRANSFORMADA (Livro #1)
AMADA (Livro #2)
TRAÍDA (Livro #3)
DESTINADA (Livro #4)
DESEJADA (Livro #5)
PROMETIDA EM CASAMENTO (Livro #6)
JURADA (Livro #7)
ENCONTRADA (Livro #8)
RESSUSCITADA (Livro #9)
SUPLICADA (Livro #10)
DESTINADA (Livro #11)
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Copyright © Morgan Rice 2014
Todos os direitos reservados. Exceto os permitidos, sujeitos à Lei de direitos autorais dos Estados Unidos de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida; distribuída; ou transmitida, em qualquer forma ou por qualquer meio; ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recuperação, sem a prévia autorização da autora.
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Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes ou são o produto da imaginação da autora ou são utilizados ficcionalmente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência.
A imagem de capa é de Bob Orsillo e usada sob licença da Shutterstock.com.
CONTEÚDO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
“Não te interponhas entre o dragão e sua ira.”
—William Shakespeare
Rei Lear
O Rei McCloud, montado em seu cavalo, iniciou a marcha ladeira abaixo. Ele estava totalmente determinado, disposto a tudo e corria através das Highlands, entrando nas terras do lado do Anel que pertenciam aos MacGils, seguido por centenas de seus homens. Ele tomou seu chicote, levantou-o e desceu-o com força sobre o couro do cavalo. O cavalo não precisava de estímulo, mas mesmo assim ele gostava de chicoteá-lo. Ele gostava de infligir dor aos animais.
McCloud estava praticamente babando enquanto apreciava a vista diante dos seus olhos: uma vila MacGil idílica, os seus homens nos campos, desarmados, suas mulheres em casa, pendurando lençóis recém lavados para secar e vestidas com pouca roupa devido ao calor do verão. As portas das casas estavam abertas; galinhas perambulavam livremente; o jantar já fervia nos caldeirões. Ele pensou no estrago que faria; nos despojos que obteria; nas mulheres cuja vida ele iria arruinar e seu sorriso alargou-se. Ele quase podia saborear o sangue que estava prestes a derramar.
Eles avançavam cada vez mais, os cascos de seus cavalos estrondavam como um trovão, ecoando sobre o campo, quando finalmente, alguém notou sua chegada: o guarda da aldeia, um projeto patético do que viria a ser um soldado: um adolescente segurando uma lança. O jovem se levantou e virou-se ao ouvi-los aproximar-se. McCloud deu uma boa olhada nos olhos dele, viu o medo e o pânico em seu rosto; naquele posto de guarda tedioso, aquele garoto provavelmente nunca tinha visto uma batalha em sua vida. Ele estava lamentavelmente, despreparado.
McCloud não perdeu tempo, ele queria ser o primeiro a matar, como sempre fazia na batalha. Seus homens sabiam muito bem que a primeira morte deveria ser concedida a ele.
Ele chicoteou o cavalo novamente até que o animal relinchou e ganhou velocidade, colocando-se mais à frente dos outros. Ele levantou a lança que havia sido de seus antepassados, uma coisa pesada de ferro, inclinou-se para trás e atirou-a no jovem soldado.
Como sempre, sua pontaria era certeira, o garoto mal tinha podido voltar-se quando a lança atingiu suas costas, traspassando-o e prendendo-o a uma árvore, com um ruído sibilante. O sangue jorrou de suas costas e isso foi suficiente para fazer o dia de McCloud.
McCloud soltou um curto grito de alegria enquanto todos eles continuavam a avançar por toda a terra seleta dos MacGils. Ele avançava por entre os de pés de milho amarelos que balançavam ao vento, cuja altura chegava até as coxas de seu cavalo, em direção à porta da aldeia. O dia estava tão lindo, sua imagem era quase bonita demais para a devastação que eles estavam prestes a causar.
Eles passaram pelo portão da aldeia, o qual se encontrava totalmente desprotegido, aquele lugar estúpido o suficiente para situar-se na periferia do Anel, tão perto das Highlands. Eles deveriam ter pensado melhor, McCloud pensou com desprezo, quando ele balançou um machado e cortou o cartaz de madeira que sinalizava o lugar. Logo ele daria um novo nome àquele lugar.
Seus homens entraram no lugar e tudo em volta deles transformou-se em uma explosão de gritos: gritos das mulheres, das crianças, dos velhos, de qualquer um que estivesse em casa naquele lugar esquecido por Deus. Havia provavelmente uma centena de almas infelizes e McCloud estava determinado a fazer com que cada uma delas pagasse caro. Ele levantou seu machado bem alto enquanto se concentrava em uma mulher em particular, correndo de costas para ele, tentando a todo custo voltar para a segurança de sua casa. Ela jamais conseguiu chegar.
O machado de McCloud golpeou a parte de trás da panturrilha da mulher, tal como ele queria e ela caiu com um grito. Ele não queria matá-la: apenas mutilá-la. Afinal de contas, ele queria que ela estivesse viva para o prazer que teria com ela depois. Ele tinha escolhido bem: uma mulher com cabelos loiros rebeldes e quadris estreitos e com aproximadamente dezoito anos. Ela seria sua e depois de terminar com ela, provavelmente ele a matasse. Ou talvez não, talvez ele a mantivesse como sua escrava.
Ele gritou de prazer ao cavalgar ao lado da mulher e saltou de seu cavalo no meio do galope, caindo em cima dela e lutando com ela no chão. Ele rolou com ela na terra, sentindo o impacto da estrada e sorriu enquanto deliciava-se com a sensação de estar vivo.
Finalmente, a vida tinha significado novamente.
Kendrick estava no olho do furacão, no Salão de Armas, ladeado por dezenas de seus irmãos, todos eles membros aguerridos do Exército Prata. Ele olhava calmamente para Darloc, o comandante da guarda real, enviado em uma missão infeliz. O que Darloc estava pensando? Será que ele realmente pensava que poderia marchar pelo Salão de Armas e tentar prender Kendrick, o mais amado da família real, na frente de todos os seus irmãos de armas? Será que ele realmente pensava que os outros iriam ficar de braços cruzados e permitir tal coisa?
Ele subestimava a lealdade do Exército Prata a Kendrick. Mesmo que Darloc tivesse chegado com um mandato de prisão legítimo para arrestá-lo — e aquele certamente não o era — Kendrick duvidava muito que seus irmãos permitissem que ele fosse levado embora. Eles eram leais a ele por toda a vida e leais até a morte. Esse era o credo do Exército Prata. Ele teria reagido da mesma forma se algum de seus irmãos fosse ameaçado. Afinal, todos tinham treinado juntos e lutado juntos por suas vidas.
Kendrick podia sentir a tensão pairando no silêncio espesso, quando o Exército prata empunhou suas armas contra apenas uma dúzia de guardas reais, os quais estavam num pé e noutro, nervosos, cada vez mais incômodos com aquela situação. Eles deviam ter imaginado que seria um massacre se algum deles tentasse sacar sua espada, e, sabiamente, ninguém fez isso. Todos eles estavam ali e aguardavam a ordem de seu comandante, Darloc.
Darloc engoliu em seco e se notava que estava muito nervoso. Ele percebia que sua causa era inútil.
“Parece que você não veio com homens suficientes.” Respondeu calmamente Kendrick, sorrindo. “Uma dúzia de guardas do rei contra uma centena de soldados do Exército Prata. A sua é uma causa perdida.”
Darloc ficou muito pálido. Ele limpou a garganta.
“Meu senhor, nós todos servimos ao mesmo reino. Eu não quero lutar contra Vossa Alteza. Vossa alteza tem razão: esta é uma luta que nós não poderíamos vencer. Se Vossa alteza nos ordenar, nós deixaremos este lugar e voltaremos para o Rei.”
“No entanto, Vossa Alteza sabe que Gareth simplesmente enviaria mais homens para prendê-lo. Homens diferentes. Vossa Alteza sabe até onde isso nos levaria. Vossa alteza poderá matar todos eles, mas será que realmente quer sujar suas mãos com o sangue de seus irmãos? Será que realmente quer desencadear uma guerra civil? Seus homens arriscariam suas vidas por Vossa Alteza, matariam qualquer um. Mas será que isso é justo para eles?”
Kendrick olhou para Darloc pensando em tudo o que ele lhe dissera. Darloc tinha um ponto a seu favor. Kendrick sentia um enorme desejo de proteger seus irmãos de armas de qualquer derramamento de sangue, sem importar o que isso lhe custasse. E mesmo que seu irmão Gareth fosse terrível e, além disso, um péssimo um governante, Kendrick não queria uma guerra civil, pelo menos, não queria ser responsável por iniciá-la. Havia outras maneiras de lidar com a situação. Kendrick sabia que um confronto direto nem sempre era a forma mais eficaz.
Kendrick se aproximou e baixou lentamente a espada de seu amigo Atme. Ele se virou e olhou para os outros soldados do Exército Prata. Seu peito encheu de gratidão a eles por eles terem ido em sua defesa.
“Meus camaradas do Prata.” Anunciou Kendrick. “Eu estou comovido com sua defesa e eu lhes asseguro que ela não foi em vão. Todos vocês me conhecem, todos sabem que eu não tive nada a ver com a morte de meu pai, nosso ex-rei. Quando eu encontrar o verdadeiro assassino, o qual eu suspeito que eu já tenha encontrado, dada a natureza dessas ordens, serei o primeiro a obter vingança. Eu estou sendo falsamente acusado. Dito isso, eu não quero ser o estopim de uma guerra civil. Então, por favor, baixem os braços. Eu permitirei que me levem em forma pacífica, visto que creio firmemente que nenhum dos membros do Anel jamais deve lutar contra o outro. Se a justiça existir, a verdade virá à tona e então eu serei liberado e regressarei a vocês imediatamente.”
O grupo do Exército Prata, lentamente, baixou os braços com relutância, quando Kendrick voltou-se para Darloc. Kendrick adiantou-se e caminhou com Darloc para a porta, os guardas do rei o rodeavam. Kendrick caminhou orgulhosamente no meio deles, com a cabeça erguida. Darloc não tentou algemá-lo, talvez por respeito, talvez por medo, ou talvez porque soubesse que ele era inocente. Kendrick se deixaria levar para sua nova prisão. Mas ele não iria ceder tão facilmente. De alguma forma, ele iria limpar o seu nome, se libertaria do calabouço e mataria o assassino de seu pai. Mesmo que o assassino fosse o seu próprio irmão.
Gwendolyn estava nas entranhas do castelo e seu irmão Godfrey estava ao seu lado. Ela olhava para Steffen enquanto ele estava lá, num pé e noutro nervoso, torcendo as mãos. Ele era um personagem estranho, não só porque era deformado e corcunda, mas também porque ele parecia estar cheio de uma energia nervosa. Seus olhos nunca paravam quietos, suas mãos estavam cruzadas entre si, como se estivessem arruinadas pela culpa. Ele estava de pé e balançava o corpo apoiando-se ora num pé, ora noutro e cantarolava para si mesmo com uma voz profunda. Gwen percebeu que todos aqueles anos ali embaixo, todos aqueles anos de isolamento tinham claramente feito dele um ser muito estranho.
Gwen tinha a esperança de que ele finalmente se abriria para revelar o que tinha acontecido com o pai dela. Mas, enquanto os segundos se transformavam em minutos, enquanto o suor aumentava na testa de Steffen, enquanto ele balançava cada vez mais dramaticamente, nada acontecia. Continuou a haver apenas um silêncio pesado, espesso, interrompido apenas por seus zumbidos.
Gwen estava começando a suar também ali embaixo, com o crepitar dos fogos muito próximos dela naquele dia de verão. Ela queria terminar com aquilo, deixar aquele lugar e nunca mais voltar. Ela examinou Steffen, tentando decifrar sua expressão, para descobrir o que passava por sua mente. Ele havia prometido que ia contar-lhes algo, mas agora ele tinha caído em silêncio. Enquanto ela o examinava, parecia que ele estava tendo dúvidas. Ele estava claramente com medo; ele estava ocultando algo.
Finalmente, Steffen limpou a garganta.
“Algo caiu da rampa, naquela noite, eu admito.” Ele começou a falar sem fazer contato visual, olhando fixamente para o chão. “Mas eu não tenho certeza do que era. Era metal. Nós levamos o pote sanitário para fora naquela noite e eu ouvi algo cair no rio. Algo diferente.” Ele disse, limpando a garganta várias vezes enquanto torcia as mãos. “Vocês sabem, aquela coisa, o que quer que ela tenha sido... ela foi arrastada pela correnteza.”
“Você está certo disso?” Godfrey perguntou com firmeza.
Steffen assentiu com a cabeça vigorosamente.
Gwen e Godfrey trocaram um olhar.
“Você pelo menos deu uma olhada nela?” Godfrey pressionou.
Steffen abanou a cabeça.
“Mas você mencionou um punhal. Como sabia que era um punhal, se você não viu um?” Gwen perguntou. Ela sentia que ele estava mentindo. Ela só não sabia o porquê.
Steffen pigarreou.
“Eu disse isso porque eu achei que era um punhal.” Ele respondeu. “Era algo pequeno e de metal. O que mais poderia ser?”
“Mas você verificou se estava no fundo do pote?” Godfrey perguntou. “Depois que você despejou tudo no rio? Talvez esteja ainda no pote, na parte do fundo.”
Steffen abanou a cabeça.
“Eu verifiquei o fundo.” Ele disse. “Eu sempre faço isso. Não havia nada. Estava vazio. O que quer que tenha sido, foi levado pela corrente. Eu o vi flutuar.”
“Se fosse de metal, como poderia flutuar?” Gwen perguntou.
Steffen limpou a garganta e em seguida deu de ombros.
“O rio é misterioso.” Ele respondeu. “A correnteza é forte.”
Gwen trocou um olhar cético com Godfrey e ela podia dizer pela expressão dele que ele tampouco acreditava em Steffen.
Gwen estava cada vez mais impaciente. Agora, ela também estava desconcertada. Apenas momentos antes, Steffen ia contar-lhes tudo, tal como havia prometido. Agora parecia que, de repente, ele tinha mudado de ideia.
Gwen deu um passo para mais perto dele e franziu o rosto, sentindo que aquele homem tinha algo a esconder. Ela endureceu a expressão de seu rosto ao máximo e quando ela o fez, sentiu a força de seu pai brotando através dela. Ela estava determinada a descobrir tudo o que Steffen sabia, especialmente se isso pudesse ajudá-la a encontrar o assassino de seu pai.
“Você está mentindo.” Ela disse com a voz fria como o aço. A força de sua voz surpreendeu a ela mesma. “Você sabe qual é o castigo por mentir para um membro da família real?”
Steffen torceu as mãos e quase deu um pulo de susto, ele olhou para Gwen por um momento e em seguida desviou o olhar rapidamente.
“Lamento muito.” Ele disse. “Eu sinto muito. Por favor, eu não tenho mais nada a dizer.”
“Você nos perguntou antes se seria poupado da prisão se nos contasse o que sabia.” Disse ela. “Mas você não nos disse nada. Porque você iria fazer essa pergunta se não tivesse nada para contar?”
Steffen lambeu os lábios, olhando para o chão.
“Eu... eu... hã.” Ele começou e parou. Ele pigarreou. “Eu estava preocupado… pensando que ia ficar em apuros se não relatasse que um objeto tinha descido pela rampa. Isso é tudo. Desculpe-me. Eu não sei o que era. Ele se foi, sumiu.”
Gwen estreitou os olhos, olhando para ele, tentando chegar ao fundo daquele personagem estranho.
“O que aconteceu exatamente com seu amo?” Ela perguntou, sem deixar de enredá-lo. “Disseram-nos que ele está desaparecido. E também que você tinha algo a ver com isso.”
Steffen balançou a cabeça uma e outra vez.
“Ele se foi.” Steffen respondeu. “Isso é tudo que sei. Desculpem. Eu não sei de nada que possa ajudá-los.”
De repente, ouviu-se um barulho forte de algo que salpicava provindo do alto da sala e todos eles se viraram para ver os dejetos que desciam pela rampa caírem estrepitosamente no enorme pote sanitário. Steffen virou-se e correu apressadamente pela sala, em direção ao pote. Ele ficou ao lado dele, observando-o enquanto ele se enchia com os resíduos dos aposentos superiores.
Gwen virou-se e olhou para Godfrey, quem olhou para ela. Ele tinha a mesma expressão perplexa.
“Seja o que for que ele estiver escondendo.” Ela disse. “Ele não vai nos revelar.”
“Nós deveríamos aprisioná-lo.” Godfrey disse. “Isso poderia fazer com que ele falasse.”
Gwen abanou a cabeça.
“Eu não penso assim. Não funcionaria com alguém como ele. Ele está, obviamente, muito assustado. Eu acho que tem algo a ver com o seu amo. Ele está claramente perturbado com alguma coisa e eu não acho que isso tenha a ver com a morte de nosso pai. Eu acho que ele sabe algo que poderia ajudar-nos, mas eu sinto que encurralá-lo só vai fazer com que ele se feche ainda mais.”
“Então o que deveríamos fazer?” Godfrey perguntou.
Gwen ficou ali, pensando. Lembrou-se de uma amiga de infância dela, a amiga tinha sido apanhada mentindo. Gwen lembrou-se de que os pais haviam pressionado a amiga de todas as maneiras para que ela dissesse a verdade, mas ela não disse. Foi somente algumas semanas mais tarde, quando todo mundo tinha finalmente deixado a jovem em paz, que ela se apresentou voluntariamente e revelou tudo. Gwen sentiu a mesma energia saindo de Steffen, ela sentia que encurralá-lo num canto só faria com que ele se fechasse ainda mais, ele precisava de espaço para tomar a iniciativa de falar tudo o que ele sabia.
“Vamos dar-lhe tempo.” Ela disse. “Vamos procurar em outro lugar. Vamos ver o que podemos descobrir e voltaremos para ele quando tivermos mais. Acho que ele vai se abrir. Ele só não está pronto ainda.”
Gwen virou-se e observou Steffen do outro lado do quarto, examinando os resíduos enquanto eles enchiam o enorme pote. Ela sentia que ele os levaria até o assassino do seu pai. Ela só não sabia como. Ela se perguntava que segredos se escondiam nas profundezas da sua mente.
Ele era um personagem muito estranho, Gwen pensou. Na verdade, muito estranho.
Thor tentava respirar e piscava com força para expulsar a água que caía sobre ele, ela cobria seus olhos, seu nariz, sua boca e caía como uma cascata ao seu redor. Depois de escorregar por todo o barco, ele finalmente conseguiu segurar o corrimão de madeira e agarrou-se a ele para salvar a vida quando a água implacável o forçava a soltar-se. Cada músculo de seu corpo tremia e ele não sabia por quanto tempo ele poderia segurar-se.
Todos os seus irmãos ao redor dele faziam o mesmo, todos se agarravam com todas suas forças a tudo o que pudessem encontrar enquanto a água tentava levá-los para fora do barco. De alguma forma, eles se mantinham firmes.
O barulho era ensurdecedor e era difícil enxergar mais do que alguns metros à frente dele. Apesar do dia de verão a chuva estava fria e a água provocava calafrios em seu corpo fazendo-o tremer constantemente. Kolk estava ali, de cara amarrada, mãos na cintura, como se fosse imune à muralha d’água, ele gritava com todos ao seu redor.
“VOLTEM AOS SEUS LUGARES!” Ele gritou. “REMEM!”
Kolk também se sentou e começou a remar, dentro de poucos instantes os rapazes começaram a escorregar e engatinhar pelo convés, tentando voltar para os bancos. O coração de Thor batia agitado quando ele soltou-se e lutou para atravessar o convés. Ele escorregou e caiu, aterrissando com força no convés. Krohn, que estava dentro de sua camisa, ganiu assustado.
Ele se arrastou pelo resto do caminho e logo se encontrou em seu lugar.
“AMARREM-SE!” Kolk exclamou.
Thor olhou para baixo e viu as cordas nodosas sob seu banco, ele finalmente percebeu a utilidade delas. Ele se abaixou e amarrou uma em torno de seu pulso, atando-se ao banco e ao remo.
Funcionou. Ele parou de escorregar. E logo foi capaz de remar.
Todos os rapazes ao seu redor voltaram aos remos, Reece estava em um assento a sua frente e Thor podia sentir o barco em movimento. Em poucos minutos, a muralha d’água a sua frente foi ficando mais fina.
Enquanto ele remava e remava, sua pele ardia com aquela estranha chuva, cada músculo de seu corpo estava dolorido. Finalmente, o som da chuva começou a diminuir e Thor começou a sentir que o volume de água que caía sobre sua cabeça era bem menor. Em poucos instantes, eles se encontravam sob um céu ensolarado.
Thor olhou em volta assombrado: o céu estava completamente seco e brilhante. Era a coisa mais estranha que ele já tinha experimentado: metade do barco estava debaixo de um sol seco, brilhante, enquanto a outra metade estava sendo inundada pela muralha de água enquanto eles terminavam de passar por ela.
Finalmente, o barco inteiro estava sob um céu azul e amarelo claro, o sol quente batendo neles. Tudo era silêncio agora, a muralha de água ia desaparecendo rapidamente e todos os seus irmãos de armas se entreolhavam atordoados. Era como se tivessem atravessado uma cortina e ingressado em outro mundo.
“CESSAR REMOS!” Kolk gritou.
Todos os rapazes incluindo Thor deixaram cair seus remos com um gemido coletivo, ofegantes, tentando recuperar seu fôlego. Thor fez o mesmo, sentindo tremer cada músculo de seu corpo, ele estava grato por ter uma pausa e se deixou cair pesadamente, tentando recuperar o fôlego e relaxar os músculos doloridos enquanto o barco deslizava por novas águas.
Thor finalmente recuperou-se, levantou-se e olhou em volta. Ele olhou para a água e viu que ela tinha mudado de cor: ela agora tinha um tom avermelhado e brilhante. Eles tinham entrado em um mar diferente.
“O Mar dos Dragões.” Reece disse detrás dele, olhando também para baixo admirado. “Dizem que ele fica vermelho com o sangue de suas vítimas.”
Thor olhou para a água. Ela borbulhava em alguns lugares e à distância, animais estranhos vinham momentaneamente à tona, porém logo se submergiam. Nenhum demorava o tempo suficiente para que ele pudesse dar uma boa olhada neles, mas Thor não queria tentar a sorte e se inclinar para baixo, ele não queria aproximar-se mais.
Thor virou-se e tentou entender tudo aquilo, desorientado. Tudo ali, daquele lado da muralha de água, parecia tão estranho, tão diferente. Havia até mesmo uma ligeira névoa vermelha no ar pairando baixo sobre a água. Ele examinou o horizonte e viu dezenas de pequenas ilhas espalhadas como uma trilha de pedras despontando no horizonte.
Uma brisa forte atingiu o barco e Kolk se adiantou e gritou:
“LEVANTAR VELAS!”
Thor entrou em ação junto com todos os rapazes ao seu redor, agarrou as cordas e içou-as para pegar a brisa. As velas se inflaram com uma rajada de vento e começaram a impulsar o barco. Thor sentia o barco mover-se abaixo deles, mais rápido do que jamais havia feito, seguindo rumo às ilhas. O barco balançava sobre as ondas enormes que surgiam do nada, movendo-se suavemente para cima e para baixo.
Thor fez o seu caminho em direção à proa, encostou-se na amurada e olhava para o horizonte. Reece veio ao seu lado e O’Connor também. Todos estavam lado a lado. Thor observava o conjunto de ilhas que se aproximava rapidamente. Todos ficaram ali em silêncio por um longo tempo, Thor saboreava a brisa úmida enquanto o seu corpo relaxava.
Finalmente, Thor percebeu que se dirigiam a uma ilha em particular. À medida que eles se aproximavam, ela ficava cada vez maior e Thor sentiu um calafrio quando ele percebeu que a ilha era o seu destino.
“A Ilha da Neblina.” Reece disse admirado.
Thor examinava a ilha, maravilhado. Sua forma começou a entrar em foco. A ilha era rochosa, escarpada, inóspita e se estendia por vários quilômetros em cada sentido, era longa e estreita e tinha a forma de uma ferradura. Ondas enormes colidiam contra sua costa, fazendo um barulho surdo que podia ser ouvido até mesmo de onde eles estavam. As ondas criavam enormes jatos de espuma quando se chocavam contra as rochas enormes. Havia uma faixa de terra ínfima além das rochas e depois uma parede de falésias que se elevava bem alto. Thor não podia ver como o barco poderia ancorar com segurança.
Somando-se a estranheza do lugar, uma névoa vermelha permanecia por toda a ilha, como um orvalho, brilhando ao sol. A névoa causava uma sensação sinistra. Thor podia sentir que havia algo de sobre-humano, algo sobrenatural, naquele lugar.
“Dizem que sobreviveu milhões de anos.” Acrescentou O’Connor. “É mais antiga do que o Anel. Mais antiga, até mesmo, do que o Império.”
“Ela pertence aos dragões.” Elden acrescentou, chegando ao lado de Reece.
Enquanto Thor observava, de repente, o segundo sol se pôs no céu. Em poucos instantes o dia passou de ensolarado e brilhante a estar iluminado apenas pela escassa luz do pôr do sol e o céu ficou totalmente manchado de tons vermelhos e roxos. Ele não conseguia acreditar, ele nunca tinha visto o sol mover-se assim, tão rapidamente, antes. Ele se perguntava o que mais seria diferente naquela parte do mundo.
Será que algum dragão vive na ilha? Thor perguntou.
Elden abanou a cabeça.
“Não. Ouvi dizer que ele vive perto daqui. Eles dizem que a névoa vermelha é formada pela respiração de um dragão. Ele respira à noite em uma ilha vizinha e o vento traz o ar que ele respira, esse ar é a névoa que envolve a ilha durante o dia.”
Thor ouviu um barulho repentino; a princípio parecia um ronco baixo, como um trovão, longo e alto o suficiente para agitar o barco. Krohn ainda estava enrolado na camisa de Thor, ao ouvir o barulho ele abaixou a cabeça e ganiu.
Os outros todos se viraram, Thor virou-se também e olhou; ele teve a impressão de que em algum lugar do horizonte se podia ver o contorno tênue de chamas lambendo o pôr do sol e desaparecendo em seguida na fumaça negra, como se fossem um pequeno vulcão em erupção.
“O Dragão.” Reece disse. “Nós estamos no território dele agora.”
Thor engoliu em seco, pensando.
“Mas então como podemos estar seguros aqui?” O’Connor perguntou.
“Você não está seguro em nenhum lugar.” Disse uma voz retumbante.
Thor virou-se para ver Kolk ali de pé, com as mãos nos quadris, observando o horizonte sobre seus ombros.
“Este é o sentido da Centena, viver com o risco de morte todos os dias. Este não é um exercício. O dragão vive perto e não há nada que possa impedi-lo de atacar. É provável que ele não ataque, porque ele guarda zelosamente seu tesouro em sua própria ilha e dragões não gostam de deixar seu tesouro desprotegido. Mas vocês vão ouvir seus rugidos e ver suas chamas durante a noite. E se de alguma forma vocês o irritarem, não há como prever o que pode acontecer.”
Thor ouviu outro estrondo baixo, viu outra explosão de fogo no horizonte e percebeu que eles chegavam cada vez mais perto da ilha, as ondas arrebentavam contra ela. Ele olhou para os penhascos íngremes, para uma parede de rocha e se perguntou se eles realmente poderiam chegar até o topo e como eles chegariam à terra plana e seca.
“Mas eu não vejo nenhum lugar para atracar um navio.” Thor disse.
“Isso seria fácil demais.” Kolk retrucou.
“Então, como chegaremos à ilha?” O’Connor perguntou.
Kolk sorriu, era um sorriso malvado.
“Vocês nadarão.” Disse ele.
Por um momento, Thor se perguntou se Kolk não estaria brincando, mas pela expressão de seu rosto Thor percebeu que ele falava sério. Thor engoliu em seco.
“Nadar?” Reece disse incrédulo.
“As águas estão infestadas de criaturas!” Elden disse.
“Oh, isso é o de menos.” Kolk continuou. “As marés são traiçoeiras; esses redemoinhos sugarão vocês para baixo; essas ondas esmagarão vocês ao lançá-los contra aquelas pedras irregulares; a água é quente e se vocês conseguirem chegar vivos até as rochas, terão de encontrar uma maneira de escalar os penhascos para poder chegar à terra firme. Isso, se as criaturas do mar não pegarem vocês primeiro. Bem-vindos ao seu novo lar.”
Thor ficou lá com os outros ao lado da amurada, olhando para a formação de espuma do mar abaixo dele. A água girava debaixo dele como uma coisa viva, as correntes eram mais fortes a cada segundo e balançavam o barco, tornando mais difícil manter o equilíbrio. Lá embaixo, as águas se enfureciam, produzindo, um vermelho brilhante que parecia conter o sangue do próprio inferno. Pior ainda, ao olhar bem de perto Thor viu que as águas eram perturbadas a cada poucos metros pelo surgimento de outro monstro marinho que emergia, estalava os dentes longos e logo submergia.
O navio ancorou repentinamente, longe da costa e Thor engoliu seco. Ele olhou para as pedras que contornavam a ilha e se perguntou como eles iriam dali até ela. O ruído das ondas arrebentando ficava mais alto a cada segundo, fazendo com que os outros tivessem de gritar para serem ouvidos.
Enquanto Thor observava, vários pequenos barcos a remos foram baixados até a água e em seguida guiados pelos comandantes para longe do navio, permanecendo a uma distância de cerca de trinta metros. Os comandantes não iriam facilitar as coisas para os rapazes, os quais teriam de nadar para alcançar os barcos.
A ideia de ter de nadar fez o estômago de Thor revirar.
“PULEM!” Gritou Kolk.
Pela primeira vez, Thor estava apavorado. Ele perguntou-se isso não o rebaixaria como membro da Legião e como guerreiro. Ele sabia que os guerreiros deviam ser destemidos em todas as circunstâncias, mas ele teve de admitir para si mesmo que ele sentia medo naquele instante. Ele odiava o fato de sentir-se assim e desejava que não estivesse com medo. Mas ele realmente estava.
Porém quando Thor olhou em volta e viu os rostos aterrorizados dos outros garotos, ele se sentiu melhor. Todos os rapazes ao seu redor permaneceram ao lado da amurada, congelados de medo, olhando para as águas. Um garoto em especial, estava tão assustado que todo o seu corpo tremia. Era o garoto que Thor tinha visto no dia do treinamento com os escudos, o único que tivera medo, o que tinha sido forçado a correr mais voltas.
Kolk deve ter percebido isso, porque ele cruzou o convés na direção do rapaz. Kolk parecia inalterado quando o vento jogou o seu cabelo para trás, ele franzia o cenho enquanto prosseguia, parecia estar pronto para conquistar a própria natureza. Ao aproximar-se do garoto ele fechou a carranca.
“PULE!” Kolk gritou.
“Não!” O garoto respondeu. “Eu não posso! Não posso fazer isso! Eu não sei nadar! Leve-me de volta para casa!”
Kolk caminhou até o garoto, que já estava começando a se afastar da amurada, agarrou-o pela parte de trás de sua camisa e levantou-o bem alto.
“Então você vai aprender a nadar!” Kolk rosnou, então ele jogou o garoto por cima da borda. Thor não podia acreditar que isso estivesse acontecendo.
O garoto saiu voando pelo ar, gritando enquanto despencava de uma altura de cerca de cinco metros, no mar espumante. Ele mergulhou produzindo um esguicho, então veio à tona, agitando-se, tentando respirar.
“SOCORRO!” Ele gritava.
“Qual é a primeira lei da Legião?” Kolk gritou, virando-se para os outros rapazes no navio, ignorando o garoto na água.
Thor estava vagamente ciente da resposta correta, mas estava distraído demais com a visão do garoto afogando-se abaixo, para poder responder à pergunta de Kolk.
“Ajudar um membro da Legião em necessidade!” Elden exclamou.
“E ele está em necessidade?” Kolk gritou, apontando para o rapaz.
O garoto levantava os braços e batia freneticamente na água, os outros rapazes ficaram no convés olhando-o, todos estavam assustados demais para mergulhar.
Naquele momento, algo estranho aconteceu com Thor. À medida que ele se concentrava no rapaz se afogando, tudo se dissipava. Thor já não pensava em si mesmo. O fato de que ele pudesse morrer nunca sequer passou por sua cabeça. O mar, os monstros, as correntes... tudo isso tinha desaparecido. Tudo em que ele podia pensar agora era em resgatar alguém.
Thor subiu na larga amurada de carvalho, dobrou os joelhos e sem pensar, pulou bem alto para cair de cabeça nas borbulhantes águas abaixo dele.
Gareth estava sentado sobre o trono de seu pai, no Salão Real, ele passava as mãos ao longo dos braços de madeira lisa do trono e olhava para a cena diante dele: milhares de seus súditos lotavam a sala, pessoas que provinham de todos os recantos do Anel para assistir a um evento único em suas vidas, elas estavam ali para ver se ele poderia empunhar a Espada da Dinastia. Para ver se ele era o Escolhido. Desde que o seu pai era jovem as pessoas nunca tinham tido a oportunidade de assistir a uma cerimônia de elevação e parecia que ninguém queria perdê-la. A excitação pairava no ar como uma nuvem.
O próprio Gareth estava entorpecido com a expectativa. Enquanto ele observava a sala continuar a encher com as pessoas que se apinhavam ali dentro, ele começou a se perguntar se os conselheiros de seu pai não teriam razão: se, de fato, não tinha sido uma má ideia conduzir a cerimônia de elevação no Salão Real e abri-lo para o público. Eles tinham lhe exortado a tentar fazê-lo na pequena sala privada onde a espada se encontrava; tinham argumentado que se por acaso ele falhasse, poucos testemunhariam isso. Mas Gareth não confiava nas pessoas do círculo de seu pai; ele se sentia mais confiante em seu destino do que a velha guarda de seu pai. Ele queria que todo o reino testemunhasse o evento; que testemunhasse que ele era o Escolhido, no exato momento em que isso acontecesse. Ele queria que o momento ficasse gravado no tempo. O momento em que seu destino havia chegado.
Gareth entrou no salão com atitude, ele cruzou o Salão Real acompanhado por seus assessores, ele usava sua coroa, seu manto e empunhava seu cetro. Ele queria que todos soubessem que era ele o verdadeiro rei, o verdadeiro MacGil, não o seu pai.
Enquanto ele esperava, não tardou muito tempo para que ele sentisse que aquele era o seu castelo, aqueles eram seus súditos. Ele queria que o seu povo sentisse aquilo naquele momento, que aquela demonstração de poder fosse vista amplamente. Depois daquele dia, eles saberiam com certeza que ele era o seu único e verdadeiro rei.
Mas agora que Gareth estava sentado ali, sozinho no trono, ele já não estava tão seguro. Ele olhava para os suportes de ferro no centro da sala, eles estavam iluminados por um raio de sol que entrava pelo teto e a espada seria colocada sobre eles. A gravidade do que ele estava a ponto de fazer pesava sobre ele, seria um passo irreversível, não haveria como voltar atrás. E se, de fato, ele não conseguisse? Ele tentou afastar essa ideia de sua mente.
A enorme porta se abriu com um rangido do outro lado da sala e depois de um burburinho animado a sala ficou em silêncio com a expectativa. Uma dúzia dos homens mais fortes da corte marchava segurando a espada em suas mãos, todos lutando sob o seu peso. Seis homens estavam de cada lado, marchando devagar, um passo de cada vez, carregando a espada em direção a seu lugar de descanso.
O coração de Gareth acelerou enquanto ele a observava chegar mais perto. Por um breve momento sua confiança o abandonou. Aqueles doze homens eram maiores do que qualquer outro homem que ele já tinha visto, se eles mal conseguiam segurá-la, que chance ele tinha? Mas ele tentou afastar tais pensamentos de sua mente, afinal, a espada tinha a ver com o destino, não com a força. E ele se forçou a lembrar que o seu destino era estar ali, era ser o primogênito dos MacGils, era ser rei. Ele procurou Argon entre a multidão, por algum motivo ele teve um súbito e intenso desejo de buscar seu conselho. Aquele era o momento em que Gareth mais precisava dele. Por alguma razão, ele não conseguia pensar em mais ninguém. Mas, claro, Argon estava longe de ser encontrado.
Finalmente, os doze homens alcançaram o centro da sala carregando a espada até o raio de sol e colocaram-na sobre os suportes de ferro. Ela caiu com um estrondo, o som viajou em ondas por toda a sala. A sala ficou completamente em silêncio.
A multidão instintivamente se separou, abrindo caminho para que Gareth descesse até a espada e a erguesse.
Gareth lentamente se levantou de seu trono saboreando o momento, saboreando toda aquela atenção. Ele podia sentir todos os olhos sobre ele. Ele sabia que uma ocasião como aquela nunca se apresentaria outra vez, uma ocasião durante a qual todo o reino o observava tão completamente, tão intensamente, analisando cada movimento que ele fazia. Ele tinha vivido aquele momento tantas vezes em sua mente quando ainda era apenas um garoto e agora ele tinha chegado. Ele queria ir devagar.
Gareth descia os degraus do trono, um de cada vez, saboreando cada passo. Ele caminhava sobre o tapete vermelho sentindo sua suavidade debaixo dos pés, ele agora estava cada vez mais perto do raio de sol, seguia em direção à espada. Enquanto andava, era como se andasse em um sonho. Sentia-se eufórico. Uma parte dele se sentia como se tivesse andado sobre aquele tapete muitas vezes anteriormente, depois de ter erguido a espada um milhão de vezes em seus sonhos. Isso o fez sentir-se ainda mais confiante de que ele estava destinado a erguê-la. Ele estava caminhando para alcançar seu destino.
Em sua mente ele via como tudo seria: ele iria avançar corajosamente, estender apenas uma mão e quando seus súditos se inclinassem, de repente e dramaticamente ele elevaria a espada sobre sua cabeça. Eles dariam um suspiro, se prostrariam diante dele e o proclamariam O Escolhido, o mais importante dos reis MacGil que já chegou a governar, aquele destinado a governar para sempre. Eles iriam chorar de alegria diante da visão. Eles se encolheriam de temor diante dele. Eles agradeceriam a Deus por ter vivido para testemunhar isso. Eles iriam adorá-lo como a um deus.